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Da dor, a lição de Vânia

Professora que perdeu os quatro filhos e o marido em acidente de trânsito há quatro anos lança hoje livro em que conta a história da família e como conseguiu vencer a tragédia. Impressão da obra foi financiada por campanha virtual

postado em 15/12/2014 10:31
Vânia exibe orgulhosa a obra : ela também dá palestras sobre a sua vida (Gustavo Moreno/CB/D.A Press)
Vânia exibe orgulhosa a obra : ela também dá palestras sobre a sua vida
Quatro anos depois de perder os quatro filhos e o marido em um acidente na BR-020, Vânia Borges de Carvalho, 46 anos, terá um Natal mais feliz. A professora que teve 70% do corpo queimados e passou mais de 87 dias internada sobreviveu. Curadas as feridas do corpo, ela começou a buscar alívio para a dor da alma. A prova da superação é o livro Pérolas do Asfalto, que será lançado hoje. Em 200 páginas, ela conta a história de Anna Beatriz, 12 anos, Júlia, 5, Pedro, 9, Rayran, 16, e do companheiro Jarismar, 43, o drama pelo qual passou e como encontrou forças para enfrentá-lo. A expectativa em ver a obra ganhar vida é grande. ;Estou me sentindo como uma noiva na véspera do casamento. Uma ansiedade danada;, conta, animada.

Passado o impacto inicial da tragédia, ela começou a alimentar o sonho de compartilhar as memórias da família e levar mensagens positivas para quem enfrenta problemas. Em julho, incentivada por familiares e amigos, Vânia decidiu lançar uma campanha virtual para levantar fundos e garantir a impressão do livro. O objetivo era arrecadar R$ 7 mil, mas a meta acabou superada. Uma reportagem publicada no Correio ajudou a sensibilizar os brasilienses. No total, a ação levantou R$ 15.746.

Quem contribuiu com a campanha vai receber, como recompensa, exemplares da obra. Nos últimos cinco meses, Vânia dividiu o tempo entre as aulas no Centro de Ensino Fundamental 5, no Guará 2, e os preparativos para o lançamento. ;Sou muito grata pela oportunidade que tive. Eu sei que Deus me deixou aqui por um propósito maior.; Além de escrever Pérolas no Asfalto, desde o ano passado, ela passou a dar palestras sobre superação e compartilhar a experiência em cidades do DF e do Entrono.

;Faço as palestras e escrevi o livro pensando nas pessoas que, por algum motivo, necessitem aliviar a dor, a angústia, o desespero, a desesperança. A vida sempre nos apresenta motivos para continuar e, acima de tudo, vencer as nossas tragédias íntimas;, diz. O otimismo de Vânia se contrapõe à tragédia que viveu em dezembro de 2010. Poucas horas depois de deixar Brasília rumo a Fortaleza (CE), o carro em que ela e a família viajavam se envolveu em um acidente e explodiu. As duas filhas nem sequer chegaram a ser socorridas, morreram dentro do veículo em chamas. Testemunhas conseguiram tirar o marido dela, carinhosamente chamado de Jarinho, e Pedro do Zafira, mas os dois morreram poucas horas depois.

O filho mais velho, Rayran, foi levado na mesma ambulância que ela ao Hospital Regional da Asa Norte. Lutou por 15 dias, mas não resistiu. A batalha de Vânia foi mais longa. Por quase três meses, teve convulsões, precisou de anestesia geral para aguentar os banhos com esponjas de aço que preveniam as infecções. Perdeu parte do braço direito, da barriga, das pernas e dos seios. Nada foi capaz de fazê-la pensar em desistir. Nem mesmo a notícia da morte dos filhos e do marido.

A professora só soube da verdade quando voltou para casa. ;Naquela hora, soube que Deus havia me salvado porque tinha algo para mim. Acredito que a minha missão seja justamente mostrar às pessoas que é possível continuar vivendo;, resume a professora, que segue a fé espírita.

Natal
Desde 2010, Vânia nunca mais teve Natal. Naquele ano, passou a noite de 24 de dezembro no hospital e, nos anos seguintes, sempre esteve fora de Brasília. ;Agora, eu me sinto forte para encarar esse dia aqui na minha casa;, conta. Na sala do apartamento onde vive com uma sobrinha, montou, pela primeiro vez desde o acidente, uma árvore enfeitada. Os planos para 2015 incluem um novo livro e as obras da casa em construção em Fortaleza, para onde pretende se mudar depois da aposentadoria. ;A simples passagem do tempo não ajuda em nada se você ficar parado. É preciso agir e ter alegria para continuar vivendo;, ensina.

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