O horário de verão ; apesar dos constantes avisos ; foi o principal responsável pelos atrasos dos candidatos na maioria dos concursos públicos realizados ontem no Distrito Federal. Os retardatários também culparam o trânsito, os locais de difícil acesso, no Entorno, e a falta de sinalização indicativa da entrada específica para os certames. Do lado de fora, grupos de retardatários, irritados, comparavam seus relógios e contestavam a hora em que foram cerrados os portões. Ameaçavam fazer boletim de ocorrência por não ter havido tolerância de um minuto sequer.
Pela manhã, vários postulantes ao cargo de juiz substituto no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) não puderam entrar. Apesar de o aviso no edital de distribuição por salas alertar sobre a mudança de horário, alguns se confundiram. A prova começou às 9h10, com a abertura dos portões às 8h30. A advogada Carolina Barreto, 28, chegou a ajustar o relógio do celular. Mas só apareceu às 9h30, acreditando estar no horário certo. ;Não são 8h30?;, questionou, confusa, aos guardas do tribunal, que fizeram a segurança do local de provas. ;Acho má ideia fazer concurso no dia em que começa o horário de verão. É lógico que ia dar alguma coisa errada;, reclamou, lamentando ter acordado cedo no domingo e ter pago R$ 210 na inscrição.
Quem conseguiu chegar tranquilamente foi Cristiano Augusto Fructoso, 32. Funcionário do tribunal, no cargo de analista, ele tenta uma vaga no posto máximo do órgão. Ele disse não ter problemas com o horário de verão. ;Todo ano é tranquilo, só durmo uma hora antes para compensar o sono;, explicou. O concurso para juiz substituto do Tribunal de Justiça do DF foi concorrido e uma parte dos candidatos abriu mão da balada do fim de semana. Segundo distribuidores de panfletos que ficaram por ali até os portões se fecharem, teve gente que chegou de madrugada para estudar mais e não perder o horário.
Trânsito caótico
Na parte da tarde, o cenário não foi diferente. Pouco antes de tocar o sinal, uma enxurrada de candidatos aparecia correndo de todos os lados. Alguns não tiveram sorte. No certame para técnico administrativo do Ministério da Fazenda, cerca de 50 pessoas chegaram depois da hora, na Faculdade de Ciência Sociais e Tecnológicas (Facitec), de Taguatinga. A reação imediata foi de revolta. Tentaram convencer os seguranças de que estavam dentro do horário, ameaçaram dar queixa na polícia e diziam que deveria haver tolerância de pelo menos cinco minutos. Os responsáveis, no entanto, não cederam.
Rafaela Cavalcante, 23, mora ali perto, mas se esqueceu de adiantar o relógio. ;Não me lembrei;, justificou. Nilton Francisco de Oliveira, 42, morador do Recanto das Emas, garantiu que a culpa foi do engarrafamento. ;Ficou impossível andar na estrada. O trânsito parou. Estou decepcionado. Mas vou continuar estudando para outros concursos;, afirmou. O mesmo motivo alegou Vanessa Araújo Godim, 45. ;Além do trânsito horroroso, ficamos desorientados quando chegamos aqui. Não tinha indicação de que a entrada seria pela lateral. Foi muito desorganizado;, ressaltou.
Já Wellington Aguiar, 21, depois de estudar cinco meses, se atrasou porque foi levar primeiro a cunhada a outro concurso. ;Saí de São Sebastião e a deixei na L2 Sul. Achei que ia dar tempo;, lamentou. A seleção para 463 vagas de assistente técnico administrativo do Ministério da Fazenda contou com 77.339 inscritos ; 48.093 em Brasília e 29.246, em São Paulo, segundo a (Esaf). Quem fez a prova para a Secretaria de Saúde do DF também viveu momentos de tensão. A Universidade Católica de Taguatinga abriu pela manhã para as provas de vestibular. Quem chegou à tarde teve que andar pelo menos 600 metros até o Centro Educacional.
;Ufa, consegui;, disse Alessandra Abrunhosa, 24, ao ultrapassar o portão. ;Vi aquela garotada saindo e entrei em pânico. Aí, me informaram que eram do vestibular. Fiquei mais tranquila;, disse. Mal o portão se fechou, cinco pessoas se aproximaram. ;Me perdi. Moro no Sudoeste e não conheço Taguatinga. É muito longe, quase não venho aqui;, contou Rodrigo Lobo, 23, que tentava uma vaga para clínico-geral. Carlos Chaveiro, 47, também concorrendo para clínica médica, chegou menos de um minuto depois, mas encarou a situação com bom humor. ;Não foi dessa vez.;
Sem tempo de almoçar
O horário de verão incomodou também a maioria dos candidatos às 300 vagas para técnico administrativo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) em todo o país. Eles se prepararam para evitar o atraso, mas os relatos são de que houve queda do rendimento devido à mudança brusca de rotinas básicas, como a alimentação, por exemplo. No Colégio Marista, na 609 Sul, Denivânia Pereira, 23 anos, não escondeu a ansiedade pela prova. Moradora de Taguatinga, ela saiu com antecedência da casa para não perder o horário.
;Eram 12h30 quando tirei o carro da garagem. A gente fica tensa com o horário de verão. Achei injusta a mudança do horário justamente hoje, porque nem sequer consegui almoçar. Ainda serei prejudicada por uma questão biológica;, lamentou Denivânia. A dona de casa Eliúde Sousa Nunes, 28, formada em contabilidade, estava na expectativa para a prova desde sábado. ;No começo da tarde, já havia adiantado uma hora do relógio. Não queria me atrasar. Ando de ônibus e moro em Águas Lindas de Goiás. Tenho que me precaver;, disse. Ela abriu mão do almoço. Optou por um lanche rápido.
Eliúde estuda há dois anos e quer ser aprovada para pagar um cursinho e se preparar melhor para outras seleções de nível superior. Somente para a capital federal são 140 vagas para o cargo de técnico administrativo do Ibama, com salário de R$ 2.580,72. A Escola de Administração Fazendária (Esaf) também organizou ontem a segunda fase (prova discursiva) para a Receita Federal. Foram convocados os aprovados nos testes objetivos para preencher 950 vagas de analista-tributário e auditor-fiscal. Os portões fecharam às 13h. Os candidatos a analista tiveram três horas para concluir o certame e os para auditor, cinco. Até o fechamento desta edição, nenhuma das instituições apresentou dados sobre o número de abstenções. (VB, MA e CC)