Diante de tantos conteúdos, fica difícil não se perder nos estudos para concursos. Assistir a aulas, ler apostilas e livros, tirar dúvidas com professores, escrever resumos, resolver exercícios e revisar as matérias estão entre as técnicas que podem ser usadas para garantir a memorização. Outros mecanismos, porém, podem ajudar o concurseiro a não esquecer o que estudou. Eles funcionam como uma espécie de treino para o cérebro, de maneira a garantir bom rendimento. Algumas dessas práticas, no entanto, não são unanimidade entre especialistas. A dica mais importante é encontrar, entre tantas possibilidades, a forma que funcione melhor para cada um.
O psicólogo João Oliveira, autor do livro Ativando o cérebro para provas e concursos, ministra um curso sobre o tema há 12 anos. ;Trabalho em consultório e dou aula há muito tempo e percebo que as pessoas têm uma grande dificuldade em lembrar do material estudado;, relata. Na obra, Oliveira, que é mestre em comunicação e linguagem, relaciona 100 técnicas de memorização de conteúdo ligadas à psicologia e inspiradas em fórmulas antigas de como tirar o melhor proveito do cérebro. Outras dicas têm como base pesquisas de mestrado e a experiência profissional do autor. ;Não existem mentes brilhantes, mas, sim, bem treinadas;, opina o especialista.
As dicas do livro de Oliveira se dividem entre quatro setores: comportamental, memorização, neuróbica e auto-hipnose. O psicólogo explica que a neuróbica funciona como um exercício para o cérebro, porque o principal órgão do corpo humano perde a capacidade de raciocínio se não for aproveitado com todas as possibilidades que oferece. Um dos exemplos citados pelo especialista é escovar os dentes com a mão não dominante ; esquerda para destros e direita para canhotos. Segundo ele, isso pode ajudar a desenvolver novas conexões sinápticas e criar caminhos neurais, deixando o cérebro mais bem preparado.
Já os exercícios de auto-hipnose sugeridos pelo autor geram controvérsia entre outros estudiosos da área. Essa técnica de memorização usa estímulos sinestésicos ; como audição, visão e tato ; para ligar uma lembrança à sensação vivida no momento de sua apreensão. ;Algumas ancoragens neurossensoriais desenvolvidas em nosso consultório durante a pesquisa para o mestrado se mostraram altamente eficazes. Nesse livro, elas são associadas a memórias, mas podem ser utilizadas para qualquer ;colagem; na estrutura psíquica;, explica Oliveira.
Por meio da ancoragem, o aluno pode associar uma matéria ao sabor de uma bala, ou um trecho do conteúdo que precisa ser decorado a uma determinada ação tátil: pressionando dois dedos da mão direita a dois dedos da mão esquerda, por exemplo, o aluno leria e releria o texto até fixá-lo. A ideia é criar condições de acesso na memória ao material estudado por mecanismos diversos, e não apenas pela leitura. ;Você ouve uma música e se lembra de uma namorada ou sente um cheiro e recorda um lugar específico. Utilizamos isso para guardar informações;, exemplifica o psicólogo.
Francisco Antonio Coelho Junior, doutor em psicologia social, do trabalho e organizações da Universidade de Brasília (UnB), defende que cada estudante encontre o próprio método de estudo. ;Cada um de nós tem um ritmo muito diferenciado. Então, o fundamental é cada estudante compreender suas estratégias de aprendizagem e passar a desenvolvê-las;, sugere. São várias as formas que o aluno pode encontrar para fixar o que aprende, por isso, é importante testar algumas até encontrar a melhor. ;Às vezes, o aprendiz prefere assistir a um vídeo, outras vezes adquire o mesmo conteúdo em livros. Alguns se saem melhor à noite do que de manhã. Tem aprendiz que usa muitas estratégias de reflexão, ou que gosta de decorar e usa técnicas de reprodução mental (repetição).;
O especialista acredita que é preciso ter cautela ao seguir algumas das dicas de estudo encontradas no mercado editorial. ;Vejo com muitas ressalvas essas técnicas, porque é preciso ter comprovação empírica de que elas funcionam para justificar sua adoção;, alerta. Segundo o professor, práticas que se propõem a melhorar o desempenho nos estudos só dão certo por fazerem com que o aluno se dedique a uma atividade primordial do processo cognitivo, que é o ato estudar.
Dedicação
José Roberto de Almeida Junior, 27 anos, deixou um cargo de gerente comercial para se dedicar aos estudos para concursos. Ele percebeu que tinha mais facilidade em lembrar do conteúdo ao ler e, depois, escrever. Assim, criou as próprias técnicas de memorização. ;Para estudar, eu preciso de livros e gosto sempre de ter um papel em mãos. Costumo ler e, para entender cada etapa da matéria, faço um resumo em tópicos. Quando o texto é dissertativo, eu coloco as palavras-chave;, conta José Roberto.
O que mais contribui para memorizar o conteúdo, na opinião dele, é compreender a matéria. Mesmo assim, quando é necessário, o concurseiro conta que decora algumas partes. ;No direito, especialmente, há sempre regras acompanhadas de exceções. Se você entender a regra, consegue ter em mente a exceção. Com tudo isso estruturado, fica mais fácil buscar na memória.;
O coach do Instituto IMP Alessandro Marques reitera que entender a matéria é o primeiro passo para o aluno fixá-la. ;Ele deve manter o foco na aprendizagem da matéria, ou seja, aprender com qualidade. Feito isso, deve montar um planejamento e fazer revisões programadas do conteúdo que aprender.;
Ele lembra, no entanto, que muitas vezes esse processo é prejudicado pela ansiedade de decorar. Marques destaca que essa prática só vale para alguns pontos, aqueles que são muito revisitados na matéria. Os princípios básicos de administração pública, por exemplo, formam um clássico caso de mnemônica, técnica de formar novas frases ou palavras para relacionar aos conceitos que precisam ser lembrados. É o caso das iniciais de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, que formam a palavra ;limpe;. Essa simplificação facilita a memorização.
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Autor: João Oliveira
Editora: WAK
Edição: 1;
Páginas: 132
R$ 28