Trabalho e Formacao

Apologia a estupro é investigada

Núcleo de Gênero Pró-Mulher, do Ministério Público, vai apurar a conduta de dois alunos de engenharia de redes fotografados com cartaz ofensivo na UnB. Segundo o Departamento de Diversidade Sexual da universidade, eles podem ser expulsos

postado em 26/07/2013 12:00

Alunos seguram o cartaz com os dizeres ofensivos durante a divulgação dos aprovados no 2º vestibular de 2013: sujeitos a expulsão

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) investigará a atitude de alunos do curso de engenharia de redes da comunicação da Universidade de Brasília (UnB) flagrados empunhando cartazes com conteúdos de apologia ao abuso sexual de mulheres. O episódio ocorreu na última quarta-feira, durante a divulgação resultado do 2; vestibular de 2013 da instituição, no campus Darcy Ribeiro, na Asa Norte. Ontem, o MP recebeu representações da Secretaria de Política para as Mulheres (SPM) e da Comissão Permanente de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (Copevid). O caso acabou encaminhado para o Núcleo de Gênero Pró-Mulher. A UnB também apura o comportamento dos estudantes.

Segundo o Departamento de Diversidade Sexual (DAC) da universidade, dois estudantes do 2; semestre do curso foram identificados depois que uma imagem deles foi divulgada nas redes sociais. Na foto, eles exibem uma cartolina com a seguinte frase: ;Caiu na (engenharia de) redes é ; (estupro);. De acordo com a direção do DAC, ambos podem sofrer sanções por terem infringido um dos itens da normas de convivência da UnB. Um dos estudantes que aparece na imagem veiculada pela internet tem 17 anos. Dos 37 aprovados na primeira chamada do processo seletivo da UnB para engenharia de redes, oito são mulheres.

O promotor do Núcleo de Justiça e coordenador do Núcleo de Gênero Pró-Mulher, Thiago Pierobom, classificou o episódio como sério. ;Vamos fazer uma intervenção preventiva para que casos como esse não venham a se repetir. O que aconteceu pode se configurar como ameaça generalizada de que mulher não pode fazer o curso ou como apologia à prática do estupro;, destacou. Ele adiantou que um promotor criminal analisará a demanda para saber se existe ou não conduta criminal por parte dos alunos.

Ontem, o caso virou o assunto mais comentado na universidade. ;Acho que eles foram longe demais. Foi agressivo e acho que deveria ter retratação;, afirmou Renata Elisa Jordão, 21 anos, estudante do 8; semestre de engenharia de redes de comunicação. Colega de Renata, Renato Nader, 23, afirma que os veteranos agiram com imaturidade. ;Não sei o que eles estavam querendo fazer, mas foi um absurdo total e ridículo;, afirmou.

Integrante do Coletivo de Mulheres da UnB, a estudante de geografia Nayara Sousa Marinho, 21 anos, lamenta que, mais uma vez, comportamentos como esse sejam direcionados ao gênero. ;Os cartazes foram usados para ferir as calouras. Eles desconsideraram a violência que as mulheres sofremos, que o estupro é uma violência que realmente acontece;, expôs a feminista.

Advogada e assessora do grupo feminista Cfêmea, Luana Natielle destaca que a atuação dos alunos deve ser investigada não só pela UnB. ;Eles incitaram a violência sexual contra as mulheres, fizeram apologia ao estupro. Esses tipos de trotes devem ser tipificados como crimes;, ressaltou. Diretora do DAC, Sônia Marise Salles Carvalho, disse que os envolvidos poderão sofrer sanções administrativas, que vão desde uma advertência à expulsão. ;Vamos apurar para saber exatamente o que aconteceu;, frisou a professora.

Sem trote sujo

Em abril do ano passado, o Conselho Universitário aprovou a instituição das Normas de Convivência Universitária, segundo as quais fica proibido o trote que submeta alunos a ;ações de tortura, a tratamento ou castigo cruel, desumano e degradante, a constrangimento e a situações de discriminação de qualquer natureza;. O trote será combatido com medidas pedagógicas e educativas, sem prejuízo às sanções legais cabíveis. Também está vedado o fumo em qualquer área edificada ou fechada e a comercialização de bebidas alcoólicas nos espaços acadêmicos, bem como em outras instalações dos câmpus, salvo em casos de prévia autorização.

Memória

15 de março de 2013
A Universidade Federal de Minas Gerais apura se houve excessos por parte de estudantes em um trote na Faculdade de Direito. Imagens do evento foram divulgadas nas redes sociais. Em uma das fotos, uma jovem aparece acorrentada e pintada com tinta preta. Em seu pescoço, foi pendurada uma placa com o nome de ;Chica da Silva;, fazendo alusão à escrava que ganhou a alforria depois de se envolver amorosamente com um contador famoso no século 18. Uma segunda fotografia mostra um calouro amarrado a uma pilastra e outros estudantes fazendo saudações nazistas. Entre os veteranos, um jovem tem bigode semelhante ao de Adolf Hitler.

22 de março de 2012
Cerca de 40 calouros de ciências contábeis foram humilhados em um gramado ao lado da Faculdade de Estudos Sociais e Aplicados da UnB. Nesse trote, os estudantes eram obrigados a ir para a frente de uma roda, gritar o nome e dizer se eram heterossexuais ou homossexuais, além da posição preferida na cama.

16 de março de 2012

Núcleo de Gênero Pró-Mulher, do Ministério Público, vai apurar a conduta de dois alunos de engenharia de redes fotografados com cartaz ofensivo na UnB. Segundo o Departamento de Diversidade Sexual da universidade, eles podem ser expulsos

Estudantes de mecatrônica ajoelharam-se em uma área verde ao lado da Faculdade de Tecnologia, enquanto veteranos despejavam vodca e tequila na boca dos recém-aprovados no vestibular. Aqueles que não participassem da recepção era intimidados com um equipamente de choque.

15 de março de 2012
Um trote sujo resultou no coma alcoólico de dois calouros de agronomia e de ciências contábeis, após uma espécie de confraternização em um bar na 408 Norte.

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