Pelo menos 50 candidatos ao concurso público do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-BR) foram impedidos ontem de prestarem a prova no Distrito Federal. Eles chegaram a um dos endereços de aplicação do concurso e descobriram que os locais foram alterados sem nenhum aviso prévio. Segundo eles, no site oficial do concurso constava que candidatos de nível médio do cargo de assistente administrativo e deficientes prestariam a prova na Faculdade Projeção em Taguatinga.
Os candidatos relataram que tentaram verificar os locais das provas no site oficial, mas que o sistema apresentou indisponibilidade dias antes da prova. No espaço de comentários da página do CAU, a reportagem verificou que candidatos até mesmo de outros estados reclamaram do problema. Os prejudicados informaram que a única informação que constava no site era a aplicação das provas na faculdade em Taguatinga, o que não aconteceu para todos.
Wesley Domingos Rocha, 39 anos, arquivista, foi um dos candidatos que não pôde prestar o concurso. ;Eles informaram 20 minutos antes do horário marcado ; 14h (horário de Brasília) ; que a prova seria realizada em outro local, nos trataram com desrespeito;, lamentou. O arquivista relatou que cerca de 20 candidatos na mesma situação decidiram permanecer no interior da faculdade até que algo fosse explicado. ;Simplesmente falaram que a prova seria nesses locais e nada de solução;, disse.
Outra situação aconteceu com o operador de máquinas Leandro Barreto, 28 anos. Conforme orientação, ele compareceu ao local da prova, mas foi impedido de realizar porque o cartão não detalhava o local exato. ;São três prédios nessa faculdade, fui primeiro em um, me informaram que era em outro, até eu chegar ao prédio exato gastei tempo, quando finalmente me passaram a informação correta com sala e prédio não me deixaram entrar;, contou, indignado.
Uma deficiente também se encontrava no local. Ela relatou ao Correio que outros candidatos, também deficientes, foram encaminhados para outra universidade em Taguatinga e uma na 913 Sul no Plano Piloto, como no caso dela. ;Como em 20 minutos eu ia conseguir chegar à Asa Sul?;, questionou a candidata, que não quis se identificar. Ela e os outros candidatos seguiram para a delegacia da Polícia Militar para registrar um boletim de ocorrência contra o CAU e a banca responsável pelo concurso público.
Sem ajuda
Com taxas de inscrição de R$ 42 para os empregos de nível médio e de R$ 54 para quem tem ensino superior completo, o concurso prevê 190 vagas para admissão imediata e 2.380 para formação de cadastro reserva. Os salários variam de R$ 678 a R$ 7,3 mil e atraíram muitos interessados. Mas quem precisou de ajuda, ontem, para compreender o que houve com os locais das provas, não contou com a da entidade organizadora do concurso. O telefone para atendimento ao candidato da banca Instituto de Desenvolvimento Americano (Iades) não atendeu várias chamadas na tarde de ontem.
No site do CAU, uma nota datada de 19 de novembro, portanto cinco dias antes das provas, alertava os candidatos a acessarem novamente o comprovante de inscrição com a indicação exata do seu local de prova. ;Os comprovantes encontram-se disponíveis no endereço http://www.iades.com.br. Mesmo que o candidato já tenha acessado e impresso o comprovante, é necessário acessar novamente, uma vez que eles foram atualizados com o local da prova;, diz o texto publicado no site do CAU/BR. Porém, segundo os candidatos prejudicados, o site estava indisponível dias antes da prova.
Procedimento
Na avaliação do professor de direito administrativo Ivan Lucas, que ministra aulas em cursos preparatórios para concursos, os candidatos prejudicados devem procurar o CAU, de posse de algumas provas que comprovem a confusão e de boletim de ocorrência, para tentar anular as provas e provocar a realização de novo certame. Se o conselho não atender o pedido, os interessados devem solicitar ao Ministério Público uma ação coletiva em favor da anulação do concurso. ;Isso está acontecendo com uma frequência assustadora. Há uma proliferação de bancas organizadoras, que não conseguem fazer direito o trabalho e provocam essas confusões. É uma falta de respeito com os candidatos, que gastam tempo e dinheiro para se prepararem;, lamenta o professor. (Colaborou Simone Kafruni)