Enem

MEC garante acesso às redações do Enem

O acordo com o Ministério Público Federal, porém, não prevê a possibilidade de recursos contra a correção dos textos

postado em 26/10/2012 10:00
Até o ano passado, os estudantes que faziam a prova do Enem não tinham acesso à correção das redações. A mudança foi exigência do MPO ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou ontem que, a partir deste ano, os candidatos que prestarem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) terão acesso ao espelho da correção da redação pelos Correios ou pela internet. A correção dos textos produzidos pelos estudantes foi o principal alvo de críticas da edição anterior do exame. De acordo com o ministro, os detalhes da mudança serão divulgados posteriormente.

A decisão de apresentar as redações aos estudantes atende ao termo de ajustamento de conduta (TAC) assinado entre o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério Público Federal (MPF), após queixas sobre os critérios de avaliação dos textos adotados nos certames anteriores. Mas o acesso às correções terá caráter exclusivamente pedagógico porque os alunos não poderão apresentar recursos contra os critérios adotados pela banca de avaliação das redações. De acordo com o ministro, o processo já foi decidido. ;Tivemos uma reunião com o MPF, com procurador responsável pela área. Ele está totalmente de acordo;, pontuou. Em julho, foi divulgado um guia para auxiliar os alunos na hora de fazer a redação.

Este ano, a correção das redações passará por um processo diferente. Primeiro, dois avaliadores fazem a correção. Os textos com mais de 200 pontos de discrepância entre uma avaliação e outra serão analisadas por um terceiro avaliador. ;Temos uma equipe maior agora. Aumentamos em 40%. Ela foi pré-orientada para este trabalho. Assim que sair a redação, ela vai ser novamente orientada.;

Outra novidade é que os alunos poderão contar com um aplicativo para computadores ; a ser disponibilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) ; que ajuda a calcular a pontuação da parte objetiva do exame.

Para o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Alavarsi, em princípio, as mudanças suprem em parte uma das principais demandas do exame, que é comprovar sua legitimidade. ;Mas vamos esperar os detalhes;, pondera. Alavarsi ressalta que, com o crescimento do exame, o Enem fica refém da estratégia de segurança. ;Os principais problemas da prova são relacionados à logística e isso tem influência no sigilo, que é o que torna o processo sério. Nesse quadro, aumentar a transparência do exame e as condições para garantir isso são fundamentais. Outra coisa são os meios para conseguir essa segurança;, avalia.

Mas o principal gargalo, segundo o professor, está na quantidade de candidatos inscritos. ;Ao caminhar para se tornar um grande vestibular nacional, o Enem tem que garantir a lisura, garantir que não haja vazamentos e, também, evitar que ocorram crimes, como no ano em que alguém roubou uma prova;. A responsabilidade ficou ainda maior com o uso da nota do certame no processo de seleção dos cotistas para instituições públicas de ensino superior, como prevê a lei aprovada este ano que reserva metade dessas vagas a estudantes de escolas públicas, negros, pardos, índios e estudantes de baixa renda. ;A conquista dessas vagas por meio das notas do Enem aumenta a tensão sobre o exame na perspectiva de garantir a lisura do processo e o sigilo;, diz o professor.

Diante esse cenário, o ministro Aloizio Mercadante garante que está tudo pronto para o exame deste ano. Foram verificados e certificados 3,4 mil aspectos do certame, além do reforço no treinamento dos 450 mil fiscais. ;Toda parte de pré-teste, de preparação da prova, todos os itens foram testados sem nenhum tipo de dificuldade;, assegura o ministro. ;Que tudo possa ocorrer com tranquilidade, esse é o segundo maior exame do planeta e, portanto, é um exame muito complexo, mas estamos bastante otimistas.; E conclui: ;O primeiro Enem a gente nunca esquece;

Colaborou Juliana Braga

;Ao caminhar para se tornar um grande vestibular nacional, o Enem tem que garantir a lisura, que não haja vazamentos e, também, deve evitar que ocorram crimes;
Ocimar Alavarsi, professor da Faculdade de Educação da UnB

Gargalos do Enem
Logística

Fiscalização

Correção das provas

Segurança

Serviço


; Data das provas:

3 e 4 de novembro
13h (horário de Brasília)

*É indispensável a apresentação de documento de identidade com foto

; Informações no site do Inep
http://sistemasenem2.inep.gov.br/localdeprova

; Divulgação dos resultados:
28 de dezembro

Memória
Fraudes e recursos
Duas grandes falhas marcaram o Enem de 2011. No início deste ano, 79 candidatos questionaram a nota da redação na Justiça Três conseguiram mudar a avaliação. O caso emblemático foi o de Michael Cerqueira de Oliveira, aluno de uma escola de São Paulo. Ele havia tirado nota 0, com a justificativa de que o texto dele foi anulado. Os advogados descobriram que, por uma falha técnica, a prova foi enviada em branco para um dos avaliadores. A nota foi, então, passou de 0 para 880, em uma escala de 0 a 1.000.

Outra falha, ocorrida no ano passado, foi o vazamento de questões do pré-teste, que foram utilizadas no material de estudo do Colégio Christus, de Fortaleza. Ao menos nove itens eram idênticos aos da prova oficial. Além desses contratempos, um repórter foi convocado para ser fiscal e um jornal chegou a divulgar o tema da redação antes do tempo mínimo para saída dos alunos do local da prova.

Em 2010, os alunos identificaram erros tanto nos cadernos de perguntas quanto nos gabaritos. Com isso, a Justiça determinou a suspensão do exame. Houve problemas pontuais, também. Na Bahia, uma mulher escalada para aplicar a prova descobriu o tema da redação duas horas antes do exame e avisou ao marido. Ele pesquisou o tema e repassou a pesquisa para o filho, em Pernambuco. Em 2009, o calendário do certame foi alterado depois que uma cópia da prova foi furtada e vazada para imprensa. O prejuízo para o Ministério da Educação foi estimado em R$ 30 milhões.

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