Uma prova bem elaborada, baseada na leitura, na compreensão e na interpretação de textos, sem deixar de abordar conteúdos técnicos. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado no fim de semana, foi avaliado por professores de cursinhos e do último ano da educação básica a pedido do Correio. Os docentes consideraram o teste difícil, não pela complexidade das questões, mas pela extensão dos textos e da quantidade de itens. Para os especialistas, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) foi fiel à proposta de avaliar habilidades e competências. Não favoreceu em nenhum momento a decoreba.
O Enem virou uma porta de entrada para as instituições de ensino superior desde 2009. Este ano, foi a primeira vez que a Universidade de Brasília (UnB) substituiu o vestibular do início do ano pela avaliação. Na capital do país, 114 mil pessoas se inscreveram para o teste. Embora o percentual de abstenção nacional tenha sido de 29%, ainda não é possível mensurar quantos candidatos deixaram de fazer o certame no DF. A estimativa do Ministério da Educação será divulgada no decorrer da semana. O gabarito oficial sai amanhã.
Enquanto os candidatos não têm acesso às respostas dos corretores do MEC, os cursinhos fizeram uma análise das questões. Até o momento, não há uma reclamação contundente. ;Não encontramos questões para recurso. Na hora da resolução, a gente já percebe se há algum problema muito sério e, nesse caso, não há nada. Pelo menos, não percebemos;, afirmou o coordenador de Língua Portuguesa do Sigma, Josino Nery Neto.
Para ele, será aprovado quem fizer um bom ensino médio e acompanhou os últimos acontecimentos no Brasil e no mundo, com a capacidade de contextualizar os assuntos com as noções de cidadania. Josino Nery teme apenas pelo desempenho dos candidatos na redação. ;O tema Efeitos da implantação da lei seca no Brasil pode ter provocado uma confusão na hora de apresentar a proposta de intervenção social. Como eles podem apresentar uma solução de uma lei que já está pronta?;, questionou. 
Elogio ao governo
Além da dificuldade na argumentação, o coordenador do curso Único, Robson Arrais, analisa que os temas têm sido, desde o ano passado, simpáticos ao governo. ;Em 2012, falaram sobre o movimento migratório para o Brasil no século 21 para relacionar à migração de bolivianos e haitianos para o Brasil devido à estabilidade econômica. Nesta prova, falaram sobre a lei seca, um outro pano de fundo velado para os elogios às ações governamentais;, criticou.
Arrais considerou os assuntos bem distribuídos e de acordo com uma proposta interessante para a construção cidadã. ;O que vale na escola é formar pessoas que não sejam analfabetas funcionais. Eles não exigiram decoreba. O aluno que fez um bom ensino médio, com leitura diária de cultura geral e que soube interpretar, foi bem;, disse. Ele acredita que a nota de corte será alta. ;Para medicina, deve chegar a 900 pontos. Engenharia e direito devem exigir 800. Quem quiser os mais disputados deve ter acertado 40 de cada 45 questões por área.; A prova do Enem é dividida em quatro áreas e tem 180 questões nos dois dias de certame.
Para o professor de matemática e de física do grupo Alub Alexandre Crispi, a avaliação se aproxima do vestibular tradicional. ;O nível subiu e, hoje, quem não entra em um cursinho não consegue resolver as questões. Os colégios vão ter que direcionar os alunos;, opinou Crispi, que criticou o tamanho da prova. De acordo com ele, o modelo mundial sugere 60 questões para quatro horas. ;Mais do que isso, o aluno não dá conta. Antes, eram 90 itens porque a prova era mais fácil. Ou volta a fazer num modelo mais generalista ou reduz para 60 e mantém esse nível de exigência. Da forma como está, favorece o chute;, sugeriu. Os profissionais do grupo Alub que resolveram o teste levaram cerca de seis horas para concluí-lo.
Artigo
Manutenção da tendência
O Enem 2013 manteve a tendência dos últimos anos, solicitando aos participantes uma excelente compreensão leitora, a capacidade de analisar e de comparar dados para solucionar problemas e, de forma muito clara, o domínio de conteúdos básicos do ensino médio. A prova de códigos e linguagens foi muito bem avaliada. As questões de inglês procuraram testar as habilidades de leitura e interpretação. Em ciências humanas, as questões de sociologia e de filosofia articularam satisfatoriamente os conteúdos com as propostas pedagógicas que orientam a elaboração da prova.
Constatamos, porém, que alguns itens dessas disciplinas apresentaram enunciados com certa ambiguidade. Para física, química e biologia, os conceitos clássicos do ensino médio foram solicitados, tendo sido fundamental o participante ter relacionado o conteúdo que aprendeu a uma situação-problema contextualizada. Já a prova de matemática teve predominância de conteúdos estudados no ensino fundamental, sendo considerada uma prova de nível fácil. Um destaque vai para o tema de redação: Efeitos da implantação da lei seca. Pertinente, faz parte de um problema atual da sociedade brasileira e, consequentemente, não necessitou de extenso repertório cultural do aluno.
Fabricio Vieira de Moraes, é coordenador pedagógico do Ético Sistema de Ensino, da Saraiva
Críticas e preconceito 
Uma candidata ao Exame Nacional do Ensino Médio, moradora de Pernambuco, virou celebridade na internet logo após o certame do último fim de semana. Rayanne Menezes fez um vídeo e publicou em uma rede social para criticar a organização do Enem e as condições do local onde realizou o teste. Ela relata, com muitos palavrões, problemas no ventilador da sala onde estava, falta de energia e o barulho dos carros que passavam do lado de fora do prédio. O vídeo ;Enem 2013 foi UÓ; alcançou, até a noite de ontem, cerca de 2 milhões de acessos.
Ela frisou ainda que não faria o segundo dia do exame e que estava fadada a pagar uma faculdade privada. Considerou ainda que deveria prestar o vestibular em um palácio e não em um local como o que descreveu na gravação. Após comentários preconceituosos acerca do sotaque da jovem, Rayanne postou uma nova gravação com o título ;Mais respeito com o Nordeste;, no qual ela considera ignorantes todos aqueles que expuseram as críticas.
[SAIBAMAIS]