postado em 27/05/2012 14:00
Por falta de %u201Cpolítica industrial coercitiva%u201D e cultura empresarial, o número de físicos atuando em atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P.D) em companhias brasileiras é dez vezes menor do que nos Estados Unidos e na Inglaterra, segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), Celso Pinto de Melo.
Para o presidente da SBF, a questão é ainda mais preocupante devido aos desdobramentos do Programa Ciência sem Fronteira, lançado ano passado pela presidenta Dilma Rousseff. %u201CO que vamos fazer para absorver os 100 mil estudantes no mercado de trabalho, daqui a três ou quatro anos? Vão ser operadores de telemarketing com formação no exterior?%u201D, pergunta.
%u201CExiste uma enorme carência na interface com a indústria%u201D, lamenta Melo, para quem %u201Co Brasil nunca teve um projeto de autonomia como nação%u201D, o que repercutiu na falta de inovação. Por causa da distorção, a SBF investigou o problema e apresentou estudo recente mostrando que não chega a 270 o número de físicos com mestrado ou doutorado que trabalham em empresas públicas ou privadas brasileiras em atividades de P.D.
Em termos percentuais, o número equivale a 10,1% do total de mestres e doutores titulados em física no Brasil entre 1996 a 2009 e que estavam empregados em 31 de dezembro de 2009. Celso Melo fez questão de frisar que as recomendações contidas no estudo (cerca de 25 propostas) são dirigidas à comunidade científica e %u201Cnão ao governo%u201D.
Segundo Celso Melo, até os anos 1990 a proteção à indústria nacional não estimulava a inovação por causa do mercado garantido. A partir da abertura econômica deflagrada naquela década, de outro lado, não foi exigido que as empresas multinacionais que se instalavam no Brasil investissem em centros de tecnologia no Brasil e desenvolvessem produtos e processos inovadores nas filiais locais.
Além da ausência de uma %u201Cpolítica industrial coercitiva%u201D que estimulasse à inovação, ainda falta cultura empresarial, segundo o dirigente. %u201CFicou claro que há desconhecimento da importância do físico para a empresa%u201D. O estudo, disponível no site da SBF, descreve que %u201Capesar de receptivos à ideia de contratar físicos, os empresários brasileiros ainda não exploram todo potencial desta comunidade%u201D.
Apesar da crítica, o estudo reconhece que, %u201Cpara promover a inserção dos físicos nas empresas, é necessário que as comunidades da física brasileira articulem suas qualificações perante o setor empresarial%u201D. Por isso, recomenda um mapeamento das competências da física nacional e dos setores industriais prioritários do Plano Brasil Maior do governo federal.
O estudo foi encomendado pela SBF ao Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), que promoveu reuniões entre empresas e a comunidade física para colher informações qualitativas e utilizou dados quantitativos da própria SBF, do Ministério do Trabalho, do Ministério da Educação e do IBGE.
O número total estimado de físicos no Brasil (em todos os níveis de formação) é de 10 mil pessoas, porém, apenas 350 estão trabalhando em empresas públicas e privadas em diversas atribuições (P.D e outras).
Segundo conclusão do estudo, 35% dos físicos brasileiros são físicos experimentais (trabalham com física médica, física nuclear, física de plasmas, matéria condensada, ótica e fotônica); 26% se dedicam ao ensino; 20% são teóricos (lidam com física biológica, astronomia e astrofísica, física atômica e molecular, física de partículas e campos) e 15% cuidam de física estatística e computacional.