Mal foi lançado o processo de seleção para trabalhar como voluntário na Copa das Confederações de 2013 e na Copa do Mundo de 2014 e o estudante de publicidade paraense Diego Borges correu para se inscrever. Na bagagem dos seus 22 anos, o rapaz carrega duas experiências de voluntariado em eventos de grande porte. Em 2009, colaborou com a organização do Fórum Social Mundial ; sediado pela primeira vez na cidade onde mora, Belém. Dois anos depois, em 2011, ele participou da organização do Rock in Rio. ;Ambas as oportunidades foram bastante enriquecedoras para mim e mais preciosas que qualquer remuneração;, diz. Esta é a primeira vez que Diego doará seu trabalho para um evento esportivo. Por isso, a expectativa para o processo seletivo é grande. ;A Copa será marcante para o Brasil e participar disso sendo mais que um espectador é a melhor escolha;, diz o rapaz, que escolheu Brasília e Rio de Janeiro como as duas cidades sedes onde gostaria de atuar como colaborador.
O mesmo entusiasmo tomou conta da estudante de relações internacionais Juliana Grangeiro, 21 anos. Ela também se mobilizou para garantir sua participação, mas não conseguiu se inscrever logo no primeiro dia. ;Mesmo assim, fiz questão de tentar na manhã seguinte, e já deu tudo certo;, conta. Para ela, o maior trunfo de fazer parte do grupo de voluntários da Copa será poder vivenciar como um evento de grande porte funciona. ;Imagino que exista uma logística incrível, e gostaria de poder contribuir para que ela dê certo.; A jovem disse que, caso seja aprovada na seleção, espera ter contato com pessoas de diferentes nacionalidades e colaborar para a formação da sua rede de contatos pelo mundo. ;Já penso nas amizades e nos contatos, até mesmo profissionais, que posso fazer.; Juliana candidatou-se, em primeiro lugar, para a área de atendimento aos turistas. Sua segunda opção é trabalhar com o setor reservado à imprensa.
A Fifa e o Comitê Organizador Local (COL) calculam que, para conseguir atingir o número desejado de 7 mil voluntários na Copa das Confederações e 15 mil na Copa do Mundo, seja necessário construir um banco de dados com cerca de 90 mil inscritos. A princípio, as inscrições ficarão abertas por um período inicial de 15 dias ; até 5 de setembro. O número de candidatos será avaliado pela equipe técnica do COL, que decidirá se vai prorrogar o prazo. No entanto, o entusiasmo dos interessados em participar do programa de voluntários deve tranquilizar o COL. De acordo com informações divulgadas pela Fifa, nas primeiras 24 horas de funcionamento a página de cadastro recebeu 37 mil inscrições.
De acordo com Luiz Edmundo Rosa, diretor de Educação da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), a motivação para realizar o trabalho voluntário nesse tipo de evento vem da perspectiva de fazer parte da organização de algo que tem grande relevância. ;No caso dos eventos esportivos, é a imagem do Brasil que está em jogo. A possibilidade de contribuir com o sucesso dessa experiência é o maior atrativo;, explica. Para Rosa, o papel da educação é central. Segundo ele, eventos que fornecem treinamento e auxílio aos participantes traçam o caminho para o sucesso dos serviços prestados. ;Quando a pessoa sabe o que se espera dela e qual é a sua função no evento, ela tende a desempenhar seu papel com ampla eficácia.;
Peso no currículo
Para a presidente do Centro de Voluntariado do Distrito Federal, Olívia Volker, a doação do trabalho para a Copa do Mundo servirá como incentivo a uma nova leva de pessoas. ;Eu espero que depois do evento esses voluntários tenham sentido o gostinho dessa atividade e continuem querendo seguir por esse caminho.; O trabalho voluntário tem um leque amplo e há espaço para praticamente todas as pessoas e formações. ;Não importa tanto o que a pessoa sabe fazer, mas o que ela está disposta a aprender. Então, podemos unir conhecimentos passados e adquiridos e aproveitar o melhor dos dois;, avalia Olívia.
O interesse em contabilizar as experiências de voluntariado passa também pelo currículo. Segundo a gerente de recursos humanos de uma rede de laboratórios brasiliense, Juliana Alcântara, ter atuado como voluntário é algo que pesa hoje em dia. ;Especialmente se for em algo de grande porte, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.; Ela chama a atenção para o fato de muitas empresas explicitarem o diferencial que o trabalho não remunerado tem. ;É frequente que em processos de seleção de trainees ou estagiários os recrutadores digam que é desejável ter experiência como voluntário;, diz a especialista.
Esquema reforçado
No Centro Interescolar de Idiomas (CIL) n; 1 de Brasília, uma verdadeira força-tarefa de voluntários está em fase de preparação. São mil adolescentes, todos alunos da instituição, que fazem parte de um grupo cujo principal objetivo é adquirir experiência de voluntariado. Eles falam inglês, espanhol, francês e alemão e, regidos pela professora Regilene Santos, aprendem mais sobre a cultura brasileira, se informam sobre os países e estudam os monumentos de Brasília. Regilene é coordenadora do programa de voluntariado da escola, e diz que todo o conhecimento obtido pela turma já foi colocado em prática. Só no ano passado, os alunos atuaram como voluntários em dois grandes eventos esportivos sediados em Brasília ; o Campeonato Mundial de Patinação Artística e o Torneio Internacional de Vôlei.
A possibilidade de entrar em contato com pessoas de outros países e de aperfeiçoar uma língua estrangeira fascina quem deseja se voluntariar para o trabalho na Copa de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016. ;Os jovens que estudam no CIL querem agarrar essa oportunidade a qualquer custo;, conta Regilene. Orgulhosa da grande adesão por parte dos estudantes, ela diz que tão logo as inscrições para a seleção de voluntários da Copa abriram, uma comoção entre os jovens aconteceu. ;Passei a tarde desta quarta-feira (23) por conta do cadastro dos alunos, que não queriam perder sequer um minuto.; Segundo ela, o fato de já terem participado como voluntários em outros eventos esportivos serviu como trunfo para os alunos. ;Eles comentaram comigo que se sentem mais confiantes e perceberam que a experiência que têm é valorizada pela Fifa;, revela. Para aprimorar o treinamento dado aos alunos que querem se voluntariar, a professora foi até Londres, sede dos Jogos Olímpicos deste ano, para observar como os voluntários trabalharam por lá. Ela espera transferir os relatos e as informações obtidos aos jovens como forma de troca.
Passo a passo
O processo será composto por seis fases: inscrição no site, treinamento geral, dinâmicas de grupo, entrevistas, entrevistas específicas e treinamento específico. A aprovação em todas as etapas é obrigatória.
Mãozinha
De acordo com a Fifa, para o trabalho de 10 horas por dia, por pelo menos 20 dias de dedicação exclusiva, os voluntários têm direito a alimentação, transporte e uniforme.
Expectativa
Para atender a demanda da Copa de 2014, por voluntários, uma parceria especial foi criada.
É o projeto ;Um gol de educação;, realizado pelos CILs e pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.
Como fazer para ser um voluntário
Qualquer pessoa que tiver mais de 18 anos de idade, independentemente do sexo e da nacionalidade, pode participar do processo seletivo para atuar como voluntário na Copa. As inscrições são feitas pela internet por meio do site https://ems.fifa.com/Volunteer/Brazil/Login/. Caso seja aprovado na seleção, o candidato pode atuar nos seguintes setores: transporte, segurança, protocolo, atendimento a turistas, departamento médico e serviço de idiomas. Pessoas com deficiência também são estimuladas a participar. Mais informações pelo email: voluntarios@brasil2014.com.br.
Chance de ouro
O COL estima ter aproximadamente
1.500 voluntários
em cada uma das 12 cidades sede na Copa do Mundo
Na Copa das Confederações, o número deve ser de
8.000 voluntários
15mil
é o número de voluntários que trabalharam na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul