postado em 24/09/2012 08:00
Para quem quer abrir a própria micro ou pequena empresa, uma boa ideia ainda é a alma do negócio. No entanto, é preciso ter conhecimento e planejamento para levar o sonho realizado à frente. Dados do Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o país tem mais de 20,2 milhões de empreendedores. No entanto, muitos enfrentam dificuldades em manter o negócio: a taxa de falência das empresas após dois anos de existência é de 26,9%, segundo levantamento feito em 2011 pelo Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae). No Distrito Federal, o índice é quase o mesmo: 25%. Especialistas destacam que os principais erros dos novos empreendedores são a falta de conhecimento do mercado em que pretendem atuar e a de um planejamento adequado.O consultor Wagner Roque diferencia empreendedores que abrem o negócio por oportunidade daqueles que o fazem por necessidade. Os primeiros têm mais chances de alcançar o sucesso, pois possuem afinidade com o ramo de atuação. Depois de escolher a área em que se vai trabalhar, manter o empreedimento é uma questão de acompanhá-lo com frequência e, principalmente, ouvir o que os clientes têm a dizer. Em empresas pequenas, não é necessário investir em grandes levantamentos. Conversar com quem visita a loja regularmente, escutar críticas e sugestões, além de oferecer benefícios aos fregueses mais assíduos podem ser boas soluções. ;O cliente que compra mais tem de sentir que recebe tratamento diferenciado;, explica.
É preciso levar em consideração, ainda, que não basta ter uma ideia inovadora. Às vezes, o projeto funciona melhor em outra localidade e o empresário deve estar aberto a fazer mudanças de curso. Foi o que ocorreu com Flávio Cavalcanti, 32 anos. Campina Grande (PB) foi a primeira cidade a conhecer os bolos do empresário. No entanto, por aquelas terras a receita não era novidade e atraiu poucos clientes. Mesmo assim, ele persistiu. Vendeu a loja que tinha no Nordeste e partiu com a família para Brasília, onde começou a comercializar os bolos caseiros na Feira de Sobradinho, em 2007. O investimento inicial foi de aproximadamente R$ 15 mil. ;Decidi deixar a minha terra porque lá havia muitos estabelecimentos desse tipo. Vi que aqui não era comum venderem apenas bolos e resolvi investir tudo o que tinha em uma nova empreitada;, conta.
Flávio é um dos empresários que ajuda a colocar o Brasil na terceira posição em número de empreendedores num ranking com 54 países, segundo o levantamento Global Entrepreneurship Monitor 2011. Para fazer o negócio dar certo, ele apostou na qualidade e na propaganda boca a boca. Os bolos, feitos com a ajuda da esposa, Fabiana Cavalcanti, 29 anos, caíram no gosto dos clientes e, depois de três anos, o casal abriu a primeira filial, em Águas Claras. Na unidade, o movimento é tanto que chega a formar filas nos fins de tarde. Os lucros permitiram abrir duas outras lojas, uma na mesma região e outra no Sudoeste. Cada uma delas chega a vender mil bolos por dia, que custam de R$ 4 a R$ 12. E a expansão vai continuar. A próxima casa Bolos do Flávio deve ser inaugurada dentro de 90 dias em Belo Horizonte (MG).
Investimento
Especialistas concordam que investir o próprio capital é a melhor forma de não perder o controle das finanças e correr menos riscos, ao contrário de quando se pede empréstimos para um familiar ou em bancos. O consultor Wagner Roque acredita, porém, que, se o empreendedor tiver um bom planejamento, pegar dinheiro emprestado não é tão perigoso assim ; afinal, uma das características do empreendedorismo é correr riscos. O que o novo empresário precisa fazer é calculá-los e trabalhar para que sejam reduzidos. ;Na medida em que se tem um plano de negócios bem elaborado, é possível perceber que o risco não é tão grande em pegar emprestado o dinheiro de um amigo, de um parente, ou de um banco.;
Nei Grando, organizador do livro Empreendedorismo inovador, lembra que, diferentemente do que ocorria no passado, hoje as pessoas recebem informações em excesso e precisam de orientação sobre como usá-las. O livro é voltado para as startups, mas grande parte das lições valem para qualquer empresa. Além de conhecer o mercado e os riscos que corre, o empreendedor precisa estar qualificado, ou seja, ter conhecimentos básicos de marketing e finanças. Buscar mentores e pessoas que possam lhe dar apoio também é essencial. Como dono do negócio, ele precisa assumir um papel de liderança e, dessa forma, montar e gerir a equipe de funcionários. E não basta selecionar aqueles que têm habilidades técnicas superiores, é preciso conhecer as atitudes da pessoa no passado e conexão dela com relação aos objetivos da empresa. ;Os mais bem-sucedidos foram sempre aqueles que souberam lidar com as suas equipes;, afirma.
Expansão
Quando o negócio está indo bem, muitos empresários começam a pensar em expansão. Mas esse próximo passo também exige planejamento e conhecimento das regras do mercado. Segundo o consultor Wagner Roque, o momento certo de expandir é quando a empresa começa a dar retorno com relação ao investimento inicial. A partir daí, é preciso analisar a melhor forma de fazê-lo. O empreendedor pode optar por abrir uma franquia ou uma filial. Se escolher a primeira, deve seguir uma série de normas, como registrá-la na Associação Brasileira de Franchising (ABF).
A filial, por sua vez, nada mais é do que uma segunda unidade da mesma empresa, mas com caixas diferentes. Além disso, no caso da franquia, o empresário deixa o local nas mãos de terceiros. Na segunda unidade, por sua vez, o próprio dono precisa supervisionar o funcionamento do negócio. ;O proprietário ou seu sócio, ou um familiar, vão visitar as duas unidades o tempo todo, e ambas devem manter um funcionamento parecido;, explica Wagner Roque.
Evolução rápida
Startups são empresas de base tecnológica que buscam um modelo de negócios que possa ser repetido e tenha expansão rápida, trabalhando para fornecer um produto ou serviço sob condições de extrema incerteza. O termo começou a ser usado no fim dos anos 1990, para definir as empresas que surgiam no Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos.