Renata Cardoso é formada em artes cênicas e sai de casa cedo com os currículos em mãos para garantir uma colocação antes do carnaval |
Jeniffer Rocha, de 23 anos, começou 2013 correndo atrás de um novo emprego. A recepcionista, casada e mãe de dois filhos, foi demitida depois de seis anos de trabalho porque, segundo ela, a empresa em que era funcionária precisou fazer corte nos gastos. Agora, a moça sabe que precisa se esforçar por um novo contrato de trabalho. ;Que ele venha o mais rápido possível;, torce. Antes de sair de casa, em Taguatinga, Jeniffer ajeita o terninho básico, a maquiagem no espelho e as cópias do currículo dentro da bolsa como se fossem artilharia de guerra. ;Estou pronta para a batalha. Até março, tenho fé de que estarei empregada de novo. Topo tudo! Não tem essa de ficar escolhendo demais;, garante.
No Sudoeste, na casa de Renata Cardoso, 36 anos, o dia começa cedo e a luta diária é grande para conseguir se colocar no mercado antes do carnaval. Formada em artes cênicas, Renata sofre com a falta de boas oportunidades como atriz e, por isso, precisa apostar na primeira vaga que aparecer. ;Já fui telefonista, auxiliar de produção de eventos, vendedora, secretária e até funcionária de um pet-shop.; Sem emprego há três meses, para ela, o mais difícil é ter de se privar de fazer o que gosta. ;Toda vez que penso nas contas para pagar, ponho um monte de currículo embaixo do braço e saio batendo de porta em porta. Não tenho escolha.;
Para Jeniffer, Renata e outros 6,5 milhões de brasileiros que, de acordo com a Organização Mundial do Trabalho (OIT), estão à procura de emprego, 2013 é o ano ideal para quem não vê a hora de assinar a carteira de trabalho. A empresa de consultoria internacional CareerBuilder fez um levantamento com mais de 6 mil profissionais de Recursos Humanos (RH) de 10 das maiores economias do mundo e revelou que o Brasil tem a maior expectativa de aumento no quadro de funcionários em 2013. Ao todo, 71% das empresas com sede no país devem contratar novos empregados (veja o gráfico).
A consequência direta disso é, de acordo com a pesquisa, a geração iminente de novos postos de trabalho, o que não significa que o número absoluto de desempregados caia. A previsão da OIT é de que a taxa de desemprego em toda a América Latina cresça de 6,6% em 2012 para 6,7% em 2013 e alcance o índice de 6,8% até 2014. O professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) Hélio Zylberstajn explica que esse aumento na taxa de desemprego ocorre quando o número de pessoas que buscam vagas é maior do que o número de contratações. Como o mercado de trabalho é muito sazonal, a taxa acumulada no fim do ano pode apresentar aumento. ;Em dezembro, por exemplo, a taxa de desemprego é menor porque as pessoas não estão procurando emprego.;
O programador Uenderley Montenegro acaba de conquistar uma vaga |
Chave do sucesso
Segundo o professor Cristiano Rosa, especialista em RH do Instituto Brasileiro de Tecnologia Avançada (IBTA), em São Paulo, é preciso ter estratégia para garantir uma vaga no mercado. Ele explica que é comum algumas empresas aproveitarem os primeiros meses do ano para investir em setores que produzam resultados objetivos, como, por exemplo, a área comercial. ;Há muitos empresários que esperam janeiro para dar uma guinada nos negócios, o que aumenta as chances dos candidatos;, explica o professor.
Isso não quer dizer que todos os setores estejam contratando. De acordo com Rosa, ter um plano B sobre a área de atuação é fundamental. ;O bom profissional é aquele que está aberto às novas possibilidades. Se a sua profissão não tem oferecido boas oportunidades, talvez seja a hora de procurar outro posto de trabalho;, sugere o especialista. Segundo o levantamento da CareerBuilder, as carreiras no Brasil com mais demanda no momento são as das áreas de tecnologia, de administração e as que lidam com o público, como comércio e atendimento ao cliente.
Restabelecer contatos antigos, ligar para amigos e parentes, e até contatar os ex-chefes e velhos colegas de trabalho pode ajudar a tornar essa busca menos dolorosa. É o famoso QI (quem indica), uma forma de o mercado dar reconhecimento ao profissional por meio dos contatos que ele estabelece. ;A contratação por indicação existe em todo lugar, e apesar de a maioria das pessoas pensarem o contrário, ela é legítima. Só é indicado quem merece e, se o contratado não for bom no que faz, ele não se mantém no emprego;, defende o professor.
Estratégia na internet
;Para qualquer profissional antenado, saber gerenciar os perfis nas redes sociais da internet é tão importante quanto ter um bom marketing pessoal;, ressalta a consultora de estratégias em RH Andrea Huggard. De acordo com ela, o uso da web como forma de identificar talentos é um caminho sem volta para todas as empresas. Andrea garante que, para contratar a pessoa certa, o recrutador busca todas as informações disponíveis, e a internet se tornou um aliado importante na hora de selecionar.
Por isso, é preciso, primeiro, estar conectado. Criar perfis em sites como Facebook, LinkedIn e You-Tube pode ser uma boa ideia, porque eles ajudam a ampliar a rede de contatos. Outra recomendação é cadastrar o currículo em páginas de recrutamento. Mas atenção: é preciso ter cuidado com o que se posta na rede, porque os futuros patrões estão de olho.
Foi graças à internet e aos bons contatos profissionais que o programador Uenderley Montenegro, 21 anos, conquistou uma vaga de emprego assim que o ano começou. Apesar de estar cadastrado em algumas redes sociais voltadas para negócios, o jovem, que estava trabalhando em outra instituição, só ficou sabendo que a empresa onde está empregado atualmente havia aberto vagas porque um amigo dele o indicou, via web, para o processo de seleção da companhia.
;As vantagens que me ofereceram foram essenciais para eu decidir mudar de trabalho. Aqui vou poder me desafiar, trabalhando com novas tecnologias e me atualizar profissionalmente;, revela. Cheio de perspectivas por causa da mudança, Uenderley pretende fazer um curso de inglês e, quem sabe, investir em uma segunda faculdade. ;O ano começou muito bem para mim, mas eu não posso vacilar. O mercado exige cada vez mais da gente, e é preciso se atualizar para acompanhá-lo.;
Por dentro do mercado
Uma das formas de o trabalhador aumentar a probabilidade de conseguir emprego em 2013 é conhecer o mercado. Uma série de índices que já são divulgados no país conseguem mostrar, além das taxas de emprego e desemprego, questões de raça, de gênero, de faixa etária e de qualificação, que costumam influir nas contratações. Neste mês, a empresa de currículos e vagas on-line Catho e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) lançaram novos índices que também prometem ajudar a entender melhor o mercado de trabalho.
O primeiro deles é a taxa de desemprego antecipada. Enquanto o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgam no fim do mês os dados relativos ao mês anterior, o novo indicador vai apresentar a taxa com 30 dias de antecedência. De acordo com a projeção, a taxa de desemprego em dezembro será de 4,4%. Se confirmada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, será o menor índice desde o início da série histórica, em março de 2002.
Para o cálculo do indicador são usados dados da base de currículos da Catho ; que tem, em média, 300 mil vagas ativas por mês ; além de outras informações coletadas pela internet. Também foram lançados os índices de vagas por candidato e de salários ofertados. O primeiro mostrou que, em dezembro do ano passado, para cada novo currículo cadastrado on-line foi oferecida 1,08 vaga. O segundo índice mostrou que, nos últimos três anos, os salários ofertados cresceram em média 20,5%, enquanto as remunerações de contratados aumentaram 33,6%.
A economista e técnica do Dieese na PED Ana Maria Belavenuto acredita que a metodologia usada determina a relevância dos novos índices. Na opinião da especialista, eles devem complementar os estudos que já existem. ;Se for uma coisa que amplia conhecimentos, com certeza vale a pena;, diz. O Dieese divulga na última quarta-feira do mês a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), relativa ao mês anterior.
Os dados divulgados pelo IBGE até agora reforçam o momento aquecido de contratações. ;Hoje, o emprego está em alta;, avisa coordenador de trabalhos e rendimentos no instituto Cimar Azeredo. A taxa de desocupação relativa a novembro medida pela PME foi de apenas 4,9%.