Trabalho e Formacao

Espelho, espelho meu

Faltam profissionais qualificados na indústria da beleza, e a uma clientela que está cada vez mais exigente. De acordo com estimativa do sindicato da categoria, são necessários pelo menos três mil trabalhadores

postado em 11/02/2013 13:01
Agendar um horário no salão de beleza tem se tornado tarefa cada vez mais difícil. Quem não marca com antecedência corre o risco de ficar com as unhas por fazer ou de ter que abrir mão do penteado. O grande número de clientes explica parte da dificuldade, mas os empresários da área enfrentam outro problema: a falta de profissionais qualificados. O Sindicato dos Salões e Institutos de Beleza, Barbeiros, Cabelereiros e Profissionais Autônomos na Área de Beleza do Distrito Federal (Sincaab-DF) estima que o setor necessite de cerca de três mil trabalhadores capacitados.

Flávia Batelli concluirá um curso de três anos em março: raridade no mercado. Foto: Breno Fortes/ CB/ D.A Press

A presidente do sindicato, Elaine Furtado, explica que o levantamento é feito de acordo com a demanda de empresas que buscam a entidade. No entanto, a qualificação não é apenas uma exigência dos patrões. A clientela tem um olhar cada vez mais apurado na hora de escolher os profissionais que vão cuidar de sua aparência e não aceita ficar na mão de pessoas com pouca experiência. Para a presidente, a forma de se pensar no cuidado estético vem evoluindo. ;Nosso setor tem se formado de maneira não organizada, pois essa era a tendência. A carência por qualificação, hoje, se dá em função da exigência do cliente, que é muito bem informado.;

Agnaldo Rodrigues, 50 anos, dono de um salão de beleza, tem dificuldade em encontrar profissionais iniciantes preparados para atuarem no setor. ;Já deixei de preencher muitas vagas por falta de qualificação;, conta. Hoje, ele tem 10 funcionários contratados, cinco a menos do que o número ideal. Além disso, Agnaldo conta que, quando um trabalhador fica reconhecido pela experiência e habilidade, costuma abandonar o estabelecimento e abrir outro salão. Por isso, o empresário participa de uma iniciativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do Sincaab-DF para formar novos instrutores em beleza e estética. ;Quero melhorar minha área e a formação de meus colaboradores. Como instrutor para cabelereiros, ajudo não só o meu salão, mas também o crescimento da profissão.;

Novos cursos
Elaine Furtado relata que a proposta é inédita em Brasília e visa a incentivar a abertura de novos cursos de formação. Foram escolhidos 22 profissionais do DF com reconhecida habilidade técnica, postura e conhecimento, e que estejam abertos a ensinar. ;Esses alunos estarão à disposição do mercado, do ponto de vista didático e pedagógico. Não adianta melhorar só um salão ou apenas um curso. A proposta é ajudar a aumentar a rede de formação de profissionais.;

Flávia Batelli, 23 anos, concluirá um curso de beleza e estética de três anos no próximo mês. Graduada em publicidade e propaganda, ela se apaixonou pelo ramo no fim da faculdade, já que poderia aliar produção, criatividade e habilidade manual. Essas foram as características que ela mesma identificou após fazer um teste vocacional. Apesar de ser um segmento em que o investimento inicial é alto, uma vez que é preciso comprar equipamentos, exemplos de sucesso são o que a motivam. A publicitária conta que dois professores do curso começaram do zero, e, hoje, são referência na área: um era faxineiro e o outro, recepcionista de salão.

;Eu me imagino trabalhando nessa área até velhinha. Primeiro, é preciso ter vontade, e, depois, procurar uma formação;, acredita. Flávia explica que o interessado deve encarar o ramo como uma verdadeira profissão e que a ausência de pessoas qualificadas faz com que a ocupação seja, muitas vezes, desvalorizada. ;Em salão de beleza não se trabalha só com tinta, mas com visual, com detalhes, com o estilo. Desde sempre, as pessoas aprendem umas com as outras, olhando e experimentando. O que falta é o estudo como base e em longo prazo.;

Agnaldo Rodrigues, dono de um salão de beleza, está em busca de funcionários para preencher cinco vagas. Foto: Viola Júnior/ CB/ D.A. Press

Expansão
Existem mais de 5 mil salões de beleza formalizados no Distrito Federal, mas, quando se trata de estabelecimentos informais, o número chega a 8 mil, segundo o Sincaab-DF. O setor se caracteriza pelo microempreendedorismo. Na capital há, em média, 20 pequenas empresas cujo faturamento anual é de até R$ 3,6 milhões. O restante é caracterizado pelos microempreendimentos, salões onde o faturamento anual é de até R$ 360 mil. Para formalizar um salão de beleza, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exige um responsável técnico para cada estabelecimento. Como a formação em cursos profissionalizantes não é obrigatória para os demais funcionários, a maioria não tem certificação.

A empresária Jeane Resende tem duas franquias do Instituto Embelleze no Distrito Federal, para formar profissionais capacitados no segmento. A cada ano, aproximadamente 800 alunos se formam no curso e todos conseguem emprego a partir do terceiro mês de formação. Sobre o perfil dos capacitados, ela conta que são pessoas interessadas em mudar de vida. ;São empregadas domésticas que querem ganhar melhor, pessoas cansadas de serem funcionárias e que querem abrir o próprio negócio, donas de casa cansadas de cuidar do lar e pessoas que acreditam ter um dom ou que vão ganhar dinheiro;, exemplifica. Ao terminar um curso na área, o aluno ganha um certificado de abrangência nacional que o permite atuar como profissional de beleza e estética, sendo responsável técnico pelo estabelecimento que porventura abrir.

Segundo o gestor de operações do instituto, Eduardo Tegeler, existem mais de 550 mil salões de beleza no país, sem contar os estabelecimentos que vivem na informalidade e os profissionais autônomos, que atendem em domicílio. Ele explica que a procura por esse tipo de serviço faz com que indústria de cosméticos ; diretamente influenciada pelos serviços prestados nos salões ; também cresça. Empresas nacionais ganham cada vez mais abrangência e muitas multinacionais chegam ao país com o objetivo de usufruir do mercado consumidor em ascensão.

Nesse cenário, o especialista ressalta a possibilidade de crescimento e independência dos profissionais de beleza e estética. Eles começam atendendo em casa, depois, são contratados em um estabelecimento e, com o prestígio alcançado lá, decidem abrir o próprio negócio. ;Esse trabalhador tem um espírito empreendedor. Ao abrir o próprio negócio, ele vai precisar de profissionais, e o ciclo começa de novo.;

Legislação
A presidente Dilma Rousseff sancionou, em 2012 a lei n; 12.592, que regulamenta as profissões de cabelereiro, manicure, barbeiro, esteticista, pedicure, depilador e maquiador. Segundo a norma, são profissionais que exercem atividades de higiene, embelezamento capilar, estético, facial e corporal dos indivíduos. O artigo que exigia o ensino fundamental como requisito foi vetado.

"Nosso setor tem se formado de maneira não organizada, pois essa era a tendência. A carência por qualificação, hoje, se dá em função da exigência do cliente, que é muito bem informado.;
Elaine Furtado, Presidente do Sindicato dos Salões e Institutos de Beleza, Barbeiros, Cabelereiros e Profissionais Autônomos na Área de Beleza do DF

Onde encontrar cursos

Senac
www.senacdf.com.br
3313-8877

Instituto Embellleze
www.institutoembelleze.com

Fernando Alves Hair Academy
3242-2993

Centro Técnico Helio Diff
www.heliodiff.com.br/centro-tecnico
3223-4400

Casa do Ceará
www.casadoceara.org.br
3533-3800

Coobel
3963-1100

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