postado em 08/04/2013 10:46
Gerar inovação sem custos é o desafio e o grande objetivo de empresas e do governo. No sistema de saúde não é diferente, e a Coordenação de Pesquisa e Comunicação Científica da Escola Superior de Ciências da Saúde (CPEq/ESCS) encontrou uma forma de concretizar essa meta: por meio da formação de estudantes e de profissionais da rede. A escola firmou parceria de cinco anos com a Marshall School of Business (MSB), dos Estados Unidos, para unir as práticas acadêmicas com as necessidades do sistema, uma das maiores dificuldades enfrentadas hoje.;Existem vários problemas pouco relevantes da perspectiva acadêmica, mas que são muito importantes para o sistema. Para essa classe de problemas, é necessário promover uma mudança, e a ideia é fazer isso por meio da educação;, explica o coordenador do curso de mestrado na MSB, Sriram Dasu, doutor em gestão e tecnologias voltadas para operações de saúde global.
No ano passado, quando teve início a parceria, o primeiro cenário escolhido para o trabalho foi a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia. Em 2013, três alunos do curso de gestão e inovação de processo da universidade americana deram continuidade ao projeto, dessa vez analisando o trabalho da UPA do Recanto das Emas e toda a situação de saúde na região. Depois de conhecerem detalhadamente o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS), os estudantes foram conhecer o local. A enfermeira Marcella Fernandes Xavier, 25 anos, conta que eles ficaram muito interessados na classificação de risco pela unidade, com cores identificando o estado de cada paciente. ;Também gostaram muito da ideia de saúde pública, que é para todos e não é paga;, lembra.
Eficiência
O coordenador do projeto na ESCS, Karlo Quadros, reforça que o objetivo principal é criar uma ponte entre o mundo acadêmico, o trabalho e a comunidade. Essa é uma maneira de alcançar com mais eficiência, inclusive, o objetivo das próprias UPAs (leia o Saiba mais). ;O sistema brasileiro, em geral, está voltado para as condições agudas e não para as condições crônicas, que prevalecem hoje e que são mais baratas de se prevenir;, ressalta Quadros. Doenças como hipertensão arterial e diabetes podem ser controladas nas UPAs, que encaminham os casos às equipes de saúde da família quando necessário, evitando o agravamento do estado do paciente por falta de acompanhamento frequente e, assim, reduzindo os custos para o sistema de saúde.
A diretora da UPA do Recanto das Emas, a médica Cristhiane de Aguiar, 37 anos, relata a dificuldade que teve em se adaptar para exercer a tarefa. Para a nefrologista, tornar real as metas estabelecidas pelo Ministério da Saúde é o principal desafio. Ela destaca que falta literatura específica na área de gestão das UPAs. ;O gestor brasileiro precisa de conhecimento teórico que muitas vezes ele não tem;, afirma. Por isso, a parceria com a MSB veio em boa hora. ;Os estudantes já apontaram alguns problemas para os quais nós estamos pensando em soluções;, completa.
Para a enfermeira Marcella, a formação constante do profissional é essencial para garantir a qualidade do serviço. Ela participou, por exemplo, de cursos sobre atendimento pré-hospitalar, sobre o Sistema de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e sobre vigilância epidemiológica. ;Com isso, entendemos mais a rede e ampliamos a nossa visão;, relata. Marcella lembra que os estudantes deixaram uma observação interessante relacionada ao fluxo da unidade. Eles perceberam que o fato de os pacientes entrarem na área de atendimento para passar pela triagem para depois voltarem à recepção externa da unidade é ruim, pois o cidadão acredita que, ao entrar no hospital, será automaticamente atendido, mas volta para a outra sala frustrado.
Soluções universais
Os resultados da pesquisa feita no Recanto das Emas serão debatidos durante videoconferência marcada para maio, entre representantes da ESCS e da MSB. O objetivo é que as soluções apontadas pelos especialistas da universidade americana sejam implementadas na UPA e otimizem o atendimento à população. Como o modelo das unidades é unificado no país, os resultados podem, futuramente, atingir também outras regiões. ;As soluções possíveis são universais, pois os conceitos fundamentais são os mesmos;, ressalta o professor Dasu. A mobilização dos alunos que estão sendo formados para o SUS na ESCS também será um benefício futuro do projeto.
;Para que esse tipo de colaboração funcione, você precisa de pessoas que estão dispostas a mudar;, lembra Dasu. Ele acredita que o aumento da renda per capita em países desenvolvidos e naqueles que estão em desenvolvimento, como o Brasil ; o que resulta no aumento da expectativa de vida e no envelhecimento da população ;, começa a mudar a forma como essas próprias nações pensam os seus sistemas de saúde. Nesse sentido, trabalhar com a ajuda da comunidade e da academia é de extrema importância. ;Não é mais uma questão de encontrar a cura de doenças ou de descobrir um novo medicamento, mas de como dar o melhor atendimento possível ao máximo de pessoas com os recursos existentes;, finaliza.
Parte do sistema
A ESCS é mantida pela Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs), entidade vinculada à Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF). A escola oferece os cursos de medicina e de enfermagem.
Saiba mais
Atendimento à comunidade
Em 2003, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Urgência e Emergência. Hoje, a atenção primária fica a cargo das unidades básicas de saúde e das equipes de saúde da família, e os hospitais são encarregados do atendimento de média e alta complexidade. No nível intermediário, a responsabilidade é do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), que funcionam 24 horas por dias, todos os dias da semana. A intenção é diminuir as filas nos prontos-socorros dos hospitais. De acordo com o ministério, 97% dos casos são solucionados na própria unidade.
O Distrito Federal conta com quatro UPAs, instaladas nas regiões administrativas de Samambaia, Recanto das Emas, São Sebastião e Núcleo Bandeirante. Outras 11 estão em construção. A previsão da Secretaria de Saúde do DF é de que, ainda em 2013, Asa Norte, Ceilândia, Gama, Taguatinga Norte, Sobradinho e Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) também recebam unidades. Em todo o país, há 788 UPAs habilitadas pelo Ministério da Saúde, 272 delas estão em funcionamento e 516 em construção. O estado com o maior número de unidades é São Paulo, são 53 em funcionamento e 108 em construção. O Paraná foi a primeira unidade da federação a ter uma UPA.