Todas as disciplinas citadas são obrigatórias nos currículos das escolas brasileiras. Mesmo assim, o desempenho dos estudantes nessas cadeiras deixa muito a desejar, segundo pesquisas oficiais de avaliação, como a Prova Brasil. Especialistas ouvidos pelo Correio acreditam que, para mudar esse quadro, são necessárias políticas capazes de aliar a educação ao crescimento do país.
O alto índice de desistência, segundo a diretora executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, mostra que, cada vez mais, os estudantes optam pelo bacharelado em vez da licenciatura.Na opinião dela, o principal chamariz é a possibilidade de o profissional conseguir um emprego mais bem remunerado. ;No caso das ciências exatas, por exemplo, como há poucos especialistas na área e uma demanda maior por profissionais, como engenheiros e matemáticos, eles acabam trocando de ramo. Em uma economia aquecida, com pleno emprego, muitas empresas absorvem esses profissionais;, avalia.
A trajetória de Leandro Chiarini, 20 anos, estudante do 5; semestre de matemática da Universidade de Brasília (UnB) reflete essa tese. Ele iniciou a graduação com a intenção de fazer duplo curso (bacharelado e licenciatura), mas, ao longo do curso, descobriu que o campo da matemática era bem mais amplo.;São opções diferentes. É bom ensinar, mas vi que gosto mais de aprender;, destaca. ;A quantidade de coisas para fazer na área é grande, e há espaço para quem quer seguir a carreira na pesquisa;, completa. Apesar de considerar a área fascinante, ele destaca que é fácil perceber que muita gente desiste com facilidade do curso. ;Quando entrei na UnB, éramos uns 40 calouros. No segundo semestre, só oito permaneceram;, lamenta.
O estudante do 9; semestre do curso de físicaDiegoVeloso, de 24 anos, nem chegou a cogitar a licenciatura. ;Optei pelo bacharelado para poderme dedicar com exclusividade à pesquisa, os profissionais da educação básica não são valorizados, principalmente na rede pública;, justifica.
O coordenador do curso de matemática da UnB, Guy Grebot, ressalta que a desistência é um caso histórico, mas que tem se intensificado nos últimos anos. ;A remuneração é umdos fatores (da desistência). Tem profissional que ainda leva a carreira como um quebra-galho, e não é. As pessoas se esquecem de reconhecer o magistério. Tem cargos em que basta o ensino médio para que o funcionário ganhe uma fortuna;, desabafa.
O retrato do desestímulo para seguir carreira no magistério também aparece em uma pesquisa feita em 2010 pela Universidade de São Paulo (USP) dentro da própria instituição, a maior do país. O estudo apontou que dar aulas é apenas a quarta razão para escolha da licenciatura.
O diretor jurídico do Sindicato dos Professores do DistritoFederal (Sinpro-DF),Washignton Dourado, argumenta que ;a maioria faz outra opção, porque o prestígio de ser professor está caindo;. ;Há uma falta crônica desses profissionais, principalmente de (ciências) exatas. A gente percebe que, no momento em que o jovem escolhe a faculdade que ele vai cursar, há uma demanda maior por cursos de áreas saturadas, como direito, em detrimento da licenciatura;, diz Dourado.
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Luiz Cláudio, assegura que o Ministério da Educação tem acompanhado o problema, mas destaca que o quadro está mudando. Segundo ele, a criação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) tem dados bons resultados, assim como o Exame Nacional do Ensino Médio e o fortalecimento do programa de assistência estudantil. ;O Pibid tem feito com que o estudante se motive, fique no curso. E, com o Enem, a concorrência para os cursos de formação de professor aumentou e tem atraído estudantes com notas mais altas, que permanecem no curso;. As mudanças, segundo ele, devem se refletir nos próximos censos do ensino superior.
A política do piso nacional para os professores e as ações do Plano Nacional de Educação, que tramitam no Senado Federal, também são apontados pelo órgão como políticas eficientes. ;Boa escola precisa de bons professores e precisamos tê-los para repor nossa demanda;, resume.