Trabalho e Formacao

Cozinha artesanal

Chef francês abriu o negócio em 1995 com quatro funcionários. Hoje, com 40, brinda a cidade com o concorrido Café Científico

postado em 23/09/2013 10:09
Chef francês abriu o negócio em 1995 com quatro funcionários. Hoje, com 40, brinda a cidade com o concorrido Café CientíficoÉ difícil encontrar um morador do Plano Piloto que não conheça a confeitaria do chef Daniel Briand, 62 anos, na 104 Norte. Inaugurada em 1995, a pâtisserie tinha apenas quatro funcionários na época. Ele mesmo trabalhava na cozinha e ainda atendia os clientes no caixa. O impulso inicial para abrir o restaurante começou com um encontro, de Daniel com a fotógrafa brasileira Luiza Venturelli. Os dois se conheceram quando ele era professor de confeitaria em Paris e ela fazia doutorado na cidade. Casaram-se por lá mesmo. ;Ela tinha essa ideia de abrir um café parisiense aqui, mas eu não conhecia o Brasil. Aí, vim para cá, passei um ano e vi que tinha muito espaço para o meu trabalho. Por isso, resolvi abrir essa loja com a Luiza.;
Filho de padeiro, Daniel nasceu na pequena cidade de Angé, na região central da França, mas não quis dar continuidade ao negócio do pai. Ele viu no Brasil ; e especialmente em Brasília ; a oportunidade que não teria na Europa de ter um negócio artesanal, que pudesse manter a qualidade pela qual ele tanto preza. ;Na Europa, você não consegue mais trabalhar assim. Tem que comprar tudo pronto, e a administração é bem complicada;, explica. A mão de obra mais barata também foi um ponto positivo, porém a formação dos profissionais era o principal desafio. ;A minha batalha aqui é um pouco diferente do que poderia ser na França porque, aqui, a dificuldade é de conseguir montar uma equipe boa e fiel.;

Foi difícil, mas Daniel conseguiu. Hoje, ele tem 40 funcionários, muitos trabalham no restaurante há cinco, oito e até 10 anos, e, pelo menos seis deles, são gerentes e chefs de cozinha em quem confia para tomar conta do negócio. Dar boas condições de trabalho, flexibilidade de horários e pagar bem são premissas das quais ele não abre mão. ;O que motiva as pessoas a trabalhar bem é o fato de elas terem mais responsabilidades e, com isso, a oportunidade de ganharem mais. Eu levo muito bem a minha vida e não tenho problema nenhum em dividir cada vez mais. Nunca fiz isso para ganhar dinheiro. Esse não é o meu objetivo principal.;
E sempre que alguém pergunta se ele tem a intenção de expandir o negócio, Daniel brinca: ;Respeite meus cabelos brancos;. Ele prefere ter apenas uma loja, para manter melhor o controle e poder sair e viajar quando quiser.

A decoração do espaço, avisa logo, vem da sensibilidade do olhar de fotógrafa da esposa. Cada detalhe é meticulosamente pensado para criar um ambiente agradável que faz os clientes se sentirem na França. Cadeiras e mesas de madeira, com pequenos vasos de flores ficam distribuídas no pátio, que lembra um terraço francês, com folhas secas caindo insistentemente e cobrindo o chão, anunciando o fim da temporada de seca no Planalto. No centro, um quase imperceptível bebedouro para os pássaros, feito de mosaico colorido, em que as aves se refrescam do calor. ;Eles gostam daí;, observa Daniel. As flores e plantas que sobem nas trepadeiras convidam os casais apaixonados a se sentar e aproveitar os quitutes preparados para a perfeição.

Os anfitriões da casa sabem mesmo receber como ninguém. A cada dois meses, Daniel cede o espaço da pâtisserie para o Café Científico, encontro aberto ao público em que são discutidos temas relevantes de diversas áreas, como mulher e trabalho, transporte público e saúde. As instituições que promovem o debate são responsáveis pela organização e Daniel oferece a comida, um banquete impecável. O evento ocorre sempre às segundas-feiras, às 19h, e o próximo, ainda sem data marcada, será em novembro. Para o francês, que ainda guarda o forte sotaque da terra natal, essa é uma forma de retribuir o carinho da comunidade que o acolheu. ;A história que eu vivi aqui em Brasília é demais.;

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