postado em 04/11/2013 09:42
Há 31 anos, uma jovem que acabara de deixar o emprego de bancária começava a desbravar os corredores da Feira do Guará. Em uma pequena banca, Helena Yoko Ueno, hoje com 51 anos, passou a vender hortifrutigranjeiros e, com o tempo, a qualidade dos produtos conquistou a clientela, que inclui chefs de cozinha de grandes restaurantes da cidade. Eles vêm comprar peixe na barraca ao lado e sabem que, logo mais à frente, podem encontrar os temperos frescos que fazem a diferença num cardápio sofisticado. ;Temos clientes muito fiéis. Se a gente fecha as portas, eles ficam perdidos;, relata. É por isso que, de quinta a domingo, das 7h às 17h, as três bancas conjugadas que a feirante tem hoje estão abertas para receber o público. A cada semana, Helena vende 5,6 mil kg de alimentos. Parte deles ; as folhas, a mandioca e o limão ; é ela mesma quem planta na chácara onde mora, no Riacho Fundo. ;Nós temos tradição de manter a qualidade e ainda somos produtores, por isso o pessoal prefere;, observa.
Para manter a clientela cativa, a feirante explica que apenas vender o produto de qualidade não é suficiente, é preciso criar laços com os fregueses. ;O freguês vem para cá mais pela amizade, pela comunicação. Não é só dar bom dia e tchau, tem que conversar também;, diz. Helena tenta gravar o nome de cada um deles e relata que muitos chegam sem noção do que querem levar. A conversa é a chave para entender o que eles precisam e incentivá-los a levar uma variedade maior, sem chateá-los com a prática de empurrar produtos.
O sucesso, no entanto, cobra um preço, e é preciso muita energia para encarar a maratona de tarefas diárias. Helena acorda por volta das 3h da manhã, começa a organizar a produção e faz a compra dos produtos na Ceasa do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) quatro vezes por semana e na de Ceilândia, aos sábados. Depois que fecha a banca, o trabalho não acaba. ;Tem que estar sempre ligado. Chego em casa e organizo tudo, a colheita, cuido de gato, de cachorro;, conta. Nos dias que não tem feira, ela aproveita para fazer as tarefas de dona de casa e separa um período na semana para pagar impostos e taxas.
O marido, Elano da Silva, 33 anos, é o principal parceiro no negócio. Enquanto Helena cuida de perto da banca, ele organiza a produção na chácara, cuida do plantio e da compra de adubo. Nas poucas horas de lazer, Helena tem um hobby que a faz deixar a tensão de lado e abrir um sorriso só em comentar: a pesca. Quando não dá tempo de ir mais longe, como na Serra da Mesa (GO), um pesque e pague próximo da cidade já resolve. ;É preciso esquecer o estresse;, aconselha.
Desafios
Hoje, o principal desafio de Helena no empreendimento é o mesmo que enfrentam os chefs de cozinha que compram produtos em sua banca: a falta de funcionários qualificados. ;Eles não acompanham o ritmo. Aqui, tem que ter agilidade, eficiência e qualidade no atendimento.; A empreendedora tem cinco funcionários registrados que aprenderam o ofício com a prática diária.
A única coisa de que Helena reclama é do cansaço. Com uma média de quatro horas de sono por dia, é difícil não sentir o corpo pesar. Mas ela não pensa em fazer outra coisa, pois conseguiu se encontrar na função de empreendedora. ;Eu me aprofundei nisso aqui. Fui bancária durante cinco anos e meio, mas foi na feira que levantei bastante coisa, sustentei meus três filhos;, relata. Graças ao trabalho da mãe, dois dos filhos estudam na Universidade de Brasília (UnB), um cursa engenharia civil e o outro, geofísica. O próximo passo não é segredo para ninguém. Helena pretende continuar a fazer o trabalho de qualidade que começou 31 anos atrás.