Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Os campeões da distração

Uso das redes sociais durante o expediente e conversas de corredor são os principais motivos da perda de foco no trabalho

Quem nunca foi conferir se tinha alguma notificação nas redes sociais e, sem perceber, perdeu mais de uma hora ou teve um simples encontro com o colega de trabalho na sala do café que rendeu assunto para a tarde toda? De acordo com pesquisa da empresa de recrutamento especializado Robert Half, publicada no último mês, navegar na internet e socializar com colegas são os principais ladrões de tempo dos funcionários durante o expediente. Entre os 2,1 mil executivos norte-americanos entrevistados, 30% afirmaram que o uso da internet para fins pessoais, incluindo redes sociais, é a maior razão para a distração dos colaboradores, e 27% responderam ser as famosas conversas de corredor.
;São várias as maneiras de um funcionário perder o foco e, ao não ter um ritmo de produção, o desempenho ruim é notado no fim do dia;, diz a gerente da divisão de engenharia da Robert Half, Isis Borge. Ela sugere que as organizações não optem pelo bloqueio dos sites, mas conversem e tentem conscientizar os trabalhadores sobre as metas e resultados esperados deles. ;Grande parte dos funcionários tem acesso à internet por smartphones, então é inevitável. O bloqueio nos computadores acaba sendo mal-visto pelos colaboradores e esse clima de proibição gera resultado piores. Um jogo aberto com uma conversa franca é mais bem aceito;, opina.

Já quando o problema está em longos intervalos para tomar um café, Isis afirma que o ideal é realizar ações de integração para que a conversa ocorra em momentos específicos e diminua no resto do expediente. ;Existem algumas empresas que promovem um café da manhã num dia da semana, o que tira apenas meia hora de trabalho. Outras fazem reuniões das equipes em locais descontraídos fora do ambiente de trabalho;, exemplifica. A diminuição da altura das baias para que todos consigam se ver e interagir de uma forma mais positiva também é uma opção apontada pela especialista.
No laboratório Sabin, o acesso a sites é liberado. ;Temos uma forte política de educação no trabalho. Fazemos reuniões para instruir os gestores quanto ao excesso de uso da internet;, explica a gerente de recursos humanos da empresa, Juliana Alcântara. ;Propomos alguns momentos de descontração em horas de menor fluxo de trabalho e temos uma sala destinada ao uso de smartphones e notebooks;, completa.
Para o autor do livro Geração Y (Ed. Integrare; 152 páginas; R$ 29,90), Sidnei Oliveira, a palavra que deve ser seguida à risca é bom senso, mas, em alguns casos, a restrição pode ser uma saída. ;É preciso que as empresas tenham um código de conduta claro a que todos tenham acesso. Existem algumas atividades, como atendimento ao público e outras bastante operacionais, que não podem mesmo ter distrações;, pondera.

Limitações
No ambiente de trabalho do gerente de pré-vendas de uma empresa de tecnologia da informação Rodrigo Monção, 25 anos, o acesso à internet era livre. Há seis meses, no entanto, redes sociais e canais de vídeo foram limitados. ;Além de puxar muita banda da internet e atrapalhar o acesso aos sites necessários para o serviço, algumas pessoas exageravam mesmo. De 10 em 10 minutos, eu olho meu e-mail, mas é sempre para me atualizar sobre assuntos profissionais;, diz. Como muitos funcionários têm acesso por smartphones, a rede de internet sem fio também foi reduzida.
O gerente de pós-vendas da firma, Pedro Rocha, diz que a mudança trouxe maior foco para o trabalho e melhorou os resultados. ;Alguns colaboradores estavam usando os sites em excesso e isso ficava muito evidente para todos dentro da empresa;, relata. Outra mudança que a empresa pretende implementar em breve é a junção de todos os funcionários em uma única sala de escritório. ;As conversas paralelas ocorrem, mas todos são muito atarefados, e a comunicação deve melhorar se estiverem juntos;, afirma Monção.

Para o professor de mídias sociais do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), Roberto Lemos, o ideal é que cada organização tenha uma rede social interna, para que a comunicação flua de forma mais rápida. O especialista afirma ainda que até mesmo as redes abertas podem ser usadas a favor da empresa. ;Essa ferramenta pode ser usada para lidar de maneira mais rápida e pessoal com um cliente que precisa de uma resposta. O contato pode ser feito pelo perfil pessoal de um funcionário, caso seja necessário. Se a empresa tiver uma política clara do uso das redes sociais, todos saem ganhando.;



Para saber mais

Várias maneiras de perder a atenção

As redes sociais não são o primeiro elemento tecnológico a desviar o foco da atenção dos trabalhadores. O especialista Sidnei Oliveira lembra que, quando o computador foi disseminado nas empresas, houve casos de perda de produtividade porque funcionários gastavam tempo com o jogo de cartas conhecido como Paciência. O mesmo ocorreu com o surgimento da internet. ;Todos ficavam navegando e descobrindo as novidades que ela podia oferecer;, afirma.