Brasília está a menos de um mês de recepcionar 79.610 turistas estrangeiros para a Copa do Mundo, segundo dados do Ministério do Turismo. A capital será a segunda cidade sede que mais vai receber visitantes durante o Mundial. Mas quem trabalha diretamente com o público terá de driblar um difícil adversário: o idioma, quesito em que o Brasil perde feio. Levantamento mais recente do British Council mostra que apenas 5% dos brasileiros sabem falar inglês. No índice de proficiência do grupo Education First, o país está apenas na 38; colocação entre 60 nações avaliadas (veja o quadro).
Por isso, empresas que qualificam o funcionário para atender em outras línguas saem na frente. Luciano Timm, diretor do grupo Education First no Brasil, alerta que oportunidades podem ficar comprometidas com a falta de conhecimento em outros idiomas. ;Lojistas vão perder negócios por não conseguirem se comunicar, então a chance de expandir o mercado e lucrar mais durante esse fluxo de turistas fica prejudicada;, afirma.
O setor ligado ao turismo precisa, de fato, estar com o inglês afiado. De acordo com o portal de reserva de vagas Booking.com, a maior parte das reservas de estrangeiros para o Brasil em junho vem dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Austrália. Cledenir Storch, 28 anos, está pronto para receber os estrangeiros em Brasília na Copa do Mundo. O gerente de atendimento na churrascaria Fogo de Chão conversa tranquilamente em inglês com clientes de outros países, que chegam a representar 70% do movimento noturno na casa, atraídos pelo típico churrasco brasileiro. ;Além de explicar detalhadamente os itens do cardápio, consigo dar informações diversas sobre a cidade e falar a respeito de outros assuntos;, conta. Ele participa do curso de inglês que a empresa oferece.
;Os cursos de inglês que oferecemos não são apenas para alguém conseguir traduzir o cardápio. O funcionário precisa responder a outras situações;, explica Jandir Dalberto, presidente de operações do restaurante, onde a preparação para a Copa do Mundo foi intensificada. ;Devemos ter um acréscimo de 60% nas vendas, então treinamos trabalhadores temporários para suprir a demanda;, comenta Dalberto. Só na loja de Brasília, serão 95 colaboradores durante o mundial.
Questão de estratégia
Além de restaurantes e aeroportos, profissionais que atuam no comércio se preparam. O Brasília Shopping sabe que vai receber muitos estrangeiros durante o torneio, uma vez que fica entre o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha e o Setor Hoteleiro Norte. Somente no dia da abertura da Copa das Confederações, entre Brasil e Japão, o recepcionista Duillyam Gonçalves, 26 anos, atendeu 17 estrangeiros, principalmente japoneses. Por mais que ele soubesse falar bem o inglês, explicar coisas mais complexas a um japonês com péssima compreensão no idioma de Shakespeare não deu muito certo. ;Precisava explicar ao cliente que ele não poderia ter um celular pós-pago no Brasil porque, na época, era necessário apresentar CPF. Foi complicado;, relembra o jovem.
Pensando no ponto estratégico que ocupa, o shopping contratou funcionários bilíngues e os treinou para dar informações turísticas sobre a cidade. Durante a Copa, os recepcionistas também devem auxiliar lojistas que não falam outra língua para não perderem as vendas.
O aeroporto é outro local que contará com funcionários para auxiliarem lojistas de bancas e quiosques. ;Nossos atendentes vão oferecer apoio ao passageiro desde as filas de imigração, logo após o desembarque, até a saída deles do terminal;, afirma o gerente do serviço ao cliente da Inframérica, Leandro Vera. Eles provavelmente precisarão auxiliar visitantes como o inglês Robin Golding, 55 anos. O conselheiro financeiro saiu de Londres e fez conexão em Brasília para chegar ao Pantanal. Ao tentar lanchar durante a espera, Robin teve problemas em um dos quiosques. ;Minha esposa queria comer um bolo, mas não conseguíamos explicar o que queríamos nem os garçons conseguiam nos entender;, reclamou.
Situações como a de Robin confirmam o que Luciano Timm, da Education First, acredita que será a maior complicação da falta de conhecimento em idiomas. O especialista teme que produtos típicos do país deixem de ser divulgados por causa dessas vendas perdidas. ;O turista que vem aqui vai querer provar do brigadeiro, da água de coco e de outras comidas e produtos tipicamente brasileiros;, enumera.
A drogaria onde a estudante de farmácia Kamila Amorim, 22 anos, estagia, não perdeu o cliente. Robin foi atrás de repelente de insetos e conseguiu ser atendido pela jovem e as colegas. ;Falamos apenas o básico do inglês, mas já sabemos o nome de alguns tipos de doenças, remédios e outros produtos;, comenta. A loja fica bem próxima ao desembarque, o que levou a chefia a pensar em formas de receber visitantes em busca de medicamentos ou de informações. ;Tivemos uma reunião recentemente e fomos orientados a oferecer o máximo de simpatia e acolhimento aos estrangeiros.;
O idioma do sorriso
A simpatia já rendeu boas histórias a Gabriel Guedes, 19 anos, atendente em uma banca de jornais logo em frente ao desembarque internacional. Certa vez, um boliviano teve problemas com hospedagem e transporte e pode contar com a ajuda do jovem. ;Eu mesmo fiz a reserva no hotel dele, mesmo que só nos comunicássemos por gestos ou com inglês e espanhol bem básicos;, conta. Gabriel chegou a estudar inglês durante três anos, mas, sem prática, perdeu a fluência e usa apenas frases simples. Porém, ele não se acomoda e aproveita a tecnologia para atender bem os estrangeiros. ;Utilizo aplicativos e treino o idioma com outro colega, já que o fluxo de gente chegando de fora do Brasil tem sido cada vez maior;, diz.
Usar aplicativos em tablets ou em celulares pode ser uma boa ideia para quem tem dificuldades com o idioma. Porém, não substitui a prática na língua estrangeira. ;Quem deixa para aprender inglês de última hora recorre a métodos engessados, menos eficientes e sem praticar a linguagem;, afirma Anderson Pádua, gerente de marketing do Centro Cultural Brasil Estados Unidos (CCBEU).
Nada de portunhol
Funcionários do aeroporto, Luanna e Leandro dominam o espanhol |
Bernardo Aranha, 22 anos, trabalha no Brasília Shopping e se comunica bem em inglês, mas o espanhol é o grande diferencial dele, que morou durante cinco anos com o pai na Colômbia. O país no norte da América do Sul, inclusive, terá um dos jogos da Copa do Mundo em Brasília. Além disso, a capital receberá, na primeira fase, a equipe do Equador, também falante de espanhol. ;Os turistas desses países se sentem muito mais seguros e à vontade quando conversam com alguém que fala bem o idioma deles;, diz.
Conhecimentos em língua espanhola são necessários para que empresas ampliem ainda mais o alcance entre visitantes internacionais. A proximidade com nações que falam espanhol e o fato de o idioma ser o segundo mais falado no mundo são enumeradas pelo diretor do Instituto Cervantes em Brasília, Pedro Eusébio, como motivos para aprender a língua. De acordo com o Anuário de Língua Espanhola no Mundo, o Brasil tinha 12 milhões de pessoas capazes de falar espanhol em 2012, ano da pesquisa mais recente.
Porém, a proximidade com o português não pode servir como desculpa para não estudar e argumentar que se ;consegue embromar um portunhol;. ;Há palavras e expressões que se parecem muito com o português, mas podem significar coisas opostas;, alerta Eusébio.
O conhecimento em espanhol fez a diferença na contratação de Luanna Anastásio, 26 anos, atendente da Inframérica, consórcio que controla o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. ;Eles exigiam saber falar pelo menos uma língua estrangeira. Todos tinham o inglês, então falar bem a língua espanhola me colocou na frente;, conta. Para treinar a fluência no idioma da atual seleção campeã do mundo, Luanna pratica com o chefe, o argentino Leandro Vera, com conversas e ligações-surpresa. ;Ele me liga se passando por alguém que só fala espanhol para me testar;, revela Luanna. O treinamento, bem humorado, é aprovado por Leandro. ;Precisamos estar preparados o tempo todo, pois os estrangeiros nem sempre perguntam se podemos falar outra língua;, comenta o gestor.
Para não fazer feio
Confira algumas sentenças que você pode escutar em inglês e em espanhol de turistas que virão a Brasília para a Copa do Mundo e saiba como oferecer ajuda
Inglês Espanhol (Português)
Excuse-me, may I help you? Permiso, ;puedo ayudarlo? (Com licença, posso ajudá-lo?)
Is there a bank/restaurant/drugstore/hospital/supermarket near here? ;Hay un banco/restaurante/farmácia/hospital/supermercado por aquí cerca? (Existe algum banco/restaurante/farmácia/hospital/supermercado perto daqui?)
R: Turn left/right / Go straight ahead Gire a la izquierda/derecha / Sigue todo recto (Vire à esquerda/direita / Vá em frente). Aqui, vale utilizar linguagem corporal para indicar.
R: Not so close No muy cerca (Não tão perto)
Where;s the stadium? ;Dónde queda el estadio? (Onde fica o estádio?)
R: The stadium is on Eixo Monumental avenue En una avenida llamada Eixo Monumental (Na avenida chamada Eixo Monumental)
How much is this? ;Cuánto cuesta? (Quanto isso custa?)
R: Aqui, vale consultar um dicionário de números para responder corretamente
Thank you! Gracias (Obrigado)Fontes: Minds Idiomas e a professora da UnB Idiomas Monica Daduch