Trabalho e Formacao

Eficiência quantificada

Novos métodos no sistema de gestão por competências revolucionam o gerenciamento de pessoas e ajudam a encontrar e a reter talentos em empresas públicas e privadas

postado em 06/07/2014 13:00

Maria Fernanda, Luiz Emanuel, Camila e Railson trabalham numa clínica que adotou a meritocracia para valorizar mais os colaboradores

O uso de ferramentas para otimizar a administração de recursos humanos não é novidade. Porém, avaliar os funcionários em questões que vão além da carga horária e dos resultados ainda não é algo largamente difundido fora de grandes empresas e multinacionais. Aos poucos, órgãos públicos e privados aderem à chamada gestão por competências, que propõe uma visão mais complexa sobre o gerenciamento de pessoas.

A preocupação quanto à seleção e à retenção de bons funcionários é global. Uma pesquisa da PwC, rede de companhias de assessoria empresarial, realizada entre 1,3 mil CEOs de todo o mundo, revela que 93% dos entrevistados acham que precisam mudar as estratégias adotadas para atrair e para reter talentos. Desses, três em cada cinco ainda não tomaram medidas para fazer isso. Além disso, 63% consideram a ausência de competências-chave como a maior ameaça para o crescimento dos negócios de sua organização (veja quadro).

Sucesso em números
Foi a partir da necessidade de reconhecer os funcionários que a Clínica de Doenças Renais de Brasília (CDRB) alterou os processos de gestão de pessoas no ano passado. ;Trabalhar com meritocracia era o que precisávamos para valorizar os colaboradores, além de atrair pessoas para a empresa e reter talentos;, diz a diretora de qualidade, Maria Fernanda de Azevedo Reis, 29 anos.

No Tribunal Regional Eleitoral, Fernando viu benefícios na equipe depois da adesão do novo modelo

Agora, todos os empregados da clínica passam por avaliações anuais que geram notas individuais e coletivas. Assim, são definidas as necessidades de treinamento e de orientação. Como resultado da primeira avaliação, profissionais que se destacaram devem ser promovidos a partir deste mês.

O técnico administrativo Luiz Emanuel, 31 anos, trabalha na clínica há dois anos e considera a mudança positiva. ;Todo mundo teve receio no início, mas, depois que o processo foi aplicado em gestores e em colaboradores, a gente vê que o objetivo é melhorar;, afirma.

O analista de qualidade Railson Pereira, 18 anos, concorda. ;A gente tem a oportunidade de avaliar metas, ver pontos positivos e negativos no trabalho e melhorar a comunicação por meio das avaliações;, diz. Já a técnica administrativa Camila Aquino, 25, afirma que o resultado da avaliação fez com que ela repensasse a maneira de manter a ordem no ambiente de trabalho. ;A avaliação dos colegas me ajudou a notar que eu precisava de mais organização;, diz.

Serviço público

A busca por mais eficiência não fica restrita aos setores de recursos humanos de empresas privadas. Um exemplo é o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF), que adotou o sistema de gestão por competências há seis anos. De acordo com Fernando Velloso Filho, secretário de gestão de pessoas do TRE, o processo trouxe benefícios. ;As principais mudanças se deram na capacitação dos gestores, que agora é mais eficiente, no treinamento e no aperfeiçoamento de carências e na distribuição de pessoas entre os setores.;

Diferentemente do método empregado por empresas privadas, que entrevistam e selecionam candidatos que mais se encaixam para cada vaga, a distribuição de funções após um concurso público pode representar um desafio, segundo Velloso. ;Você já conta com uma pessoa selecionada pelo concurso e deve ajustá-la posteriormente, o que pode ser uma grande dificuldade;, avalia.

Mudança estruturada

O momento de transição para um novo modelo de gerência pode ser delicado, e é preciso definir bem quais são os novos critérios de avaliação para que colaboradores e gestores entendam as alterações. Não há uma receita pronta que se aplique a todos os tipos de negócio, mas é necessário analisar aspectos qualitativos e quantitativos do trabalho dos funcionários.

;O ideal é que haja equilíbrio entre a valorização das competências, que são conhecimentos, habilidades e atitudes de uma pessoa, e a cobrança por resultados concretos. É a combinação desses dois fatores que leva ao desenvolvimento profissional;, diz André Freitas, consultor em gestão por competências e professor do Instituto de Desenvolvimento Empresarial (Idemp).

Bruno Goytisolo, sócio-diretor da Véli Soluções em RH e vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-DF), diz que a transparência é fundamental para o processo. ;Para que o modelo funcione, é necessário aplicar uma análise ampla, incluindo autoavaliação, avaliação entre pares, avaliação de superior para subordinado e vice-versa;, diz. Segundo ele, o ideal é que a implantação de um modelo de gerência seja feita por meio de consultoria externa para não gerar desconfiança. ;Quando alguém de fora faz esse trabalho, supõe-se que há mais isenção ou transparência na hora de avaliar o desempenho de todos.;

A atuação dos gestores é fundamental para o sucesso da adoção desse modelo de funcionamento como política de uma empresa. A disponibilidade para orientar e acompanhar os resultados cotidianos da organização é uma dificuldade para muitos chefes. ;O desempenho de uma equipe depende de esforços individuais, coletivos e do gestor. É ele quem vai incentivar a equipe a ter metas e objetivos definidos e a buscar o autodesenvolvimento;, explica Freitas.

Com adaptações, é possível implantar princípios da gestão por competências em negócios de todos os tamanhos. ;Se eu tenho um pequeno restaurante, por exemplo, e a minha estratégia é me diferenciar dos concorrentes pelo serviço, posso treinar a minha equipe para que ela tenha a competência necessária para atingir o objetivo;, exemplifica João Lins, sócio da PwC e especialista em gestão de capital humano.

Na visão de Lins, esse tipo de gestão facilita a geração de resultados. De acordo com uma pesquisa conduzida por ele junto de 51 empresas de grande porte que utilizam o modelo de gerenciamento, 59% dos gestores notaram melhoria no desempenho das pessoas. Além disso, metade acredita que o modelo contribui para os resultados da empresa como um todo (veja gráfico).

Pela meritocracia

Esse modelo de gerenciamento pode ser definido como um conjunto de atividades que compreendem a definição do desempenho esperado, o acompanhamento e a orientação contínua de equipes e de indivíduos, a avaliação do desempenho e o feedback para as pessoas e o estabelecimento de planos de ação e de desenvolvimento.
Fonte: PwC

;As principais mudanças se deram na capacitação dos gestores, que agora é mais eficiente, no treinamento e no aperfeiçoamento de carências e na distribuição de pessoas entre os setores;
Fernando Velloso, secretário de gestão de pessoas do TRE-DF


Prós x contras

Confira o que os especialistas têm a dizer sobre as vantagens e as desvantagens desse modelo

Bem conduzida, a adoção da gestão de desempenho pode...

; Motivar empregados
; Aumentar o conhecimento do colaborador quanto às verdadeiras expectativas do empregador
; Proporcionar feedback constante aos funcionários, dando a eles oportunidades para melhorar
; Identificar as necessidades de treinamento e reciclagem

Já um processo mal
aplicado pode...
; Amedrontar colaboradores
; Gerar ansiedade e competitividade excessiva entre funcionários, sobretudo quando há cobrança apenas por resultados
; Provocar clima de desconforto e desconfiança, caso não haja critérios claros para a avaliação de desempenho

Novos métodos no sistema de gestão por competências revolucionam o gerenciamento de pessoas e ajudam a encontrar e a reter talentos em empresas públicas e privadas

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