Trabalho e Formacao

Altos e baixos

Conheça carreiras que perderam e que ganharam espaço este ano. Com a lentidão na economia, empresas estão procurando profissionais mais experientes, que acumulam funções e que são capazes de suportar situações turbulentas

postado em 28/07/2014 10:00

Flávio, Rodrigo e Camila, funcionários de uma agência de mídias sociais: aposta em atualização constante é a saída para áreas desaquecidas (Minervino Junior/CB/D.A Press    )
Flávio, Rodrigo e Camila, funcionários de uma agência de mídias sociais: aposta em atualização constante é a saída para áreas desaquecidas

Num contexto de lento avanço econômico ; com projeção de crescimento de menos de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 ;, aumenta a demanda por pessoas aptas a ocuparem cargos que têm foco nos resultados e no corte de gastos. É o caso de vendedor, analistas de custos, de tributos e de marketing (veja quadro). A situação desfavorável na economia traz medo do futuro a empresários, que passam a economizar e a apostar fichas em trabalhadores polivalentes, que ocupam mais de uma função. É assim que outros cargos ; como analista de mídias sociais e de sistemas ; perdem espaço.

Essa é uma das conclusões de uma pesquisa da consultoria de recrutamento especializado Page Personnel, que comparou contratações feitas entre 2013 e 2014. Para Ricardo Haag, gerente executivo da organização, o resultado reflete o lento crescimento brasileiro. ;O momento econômico não é o mais próspero, e está difícil aumentar as vendas. As empresas estão preocupadas com otimização de recursos e de processos. Elas visam um ganho da porta para dentro, já que não estão conseguindo ter da porta para fora;, constata. ;As estratégias para lidar com o momento são ter equipes enxutas, com profissionais multidisciplinares capazes de assumir mais de um cargo, o que faz algumas funções serem menos demandadas;, indica.

Vanderli Frare, coordenadora da Pós-graduação em Gestão Estratégica de Pessoas do Ibmec/DF e diretora de RH do Hospital da Criança de Brasília, tem a mesma percepção. ;Olhando para as finanças, percebe-se a projeção de um cenário não muito positivo, com muita inflação, PIB baixando, indústria reduzindo a produção; O mercado de trabalho dita as regras, e as empresas obedecem. Agora, é hora de aumentar a eficiência e diminuir custos;, avalia. ;Por isso, justificam-se mais contratações de analista de tributos diretos e de planejamento financeiro, para cortar gastos; de vendedores, para gerar mais resultados; de compradores, para garantir margem de lucro ao varejo; de marketing, para fazer frente à concorrência; e de remuneração sênior, que tem a ver com pagar adequadamente;, lista.

Outro ponto-chave para lidar com o momento é a inovação, segundo Lourdes Scalabrin, diretora estratégica do Grupo Empreza. ;Diante de tempos turbulentos e de incertezas, as organizações buscam especialistas com perfis analíticos, que antecipem tendências e ajudem a inovar e a produzir mais. A palavra de ordem é inovação, para se manter à frente dos concorrentes.;

Bem na fita
O contador Ivan Oliveira, gestor de tributos ; função análoga à de analista tributário ;, está numa das posições-chave para fazer frente ao atual momento da economia e sente que o ramo sempre foi valorizado. ;Há poucos profissionais qualificados na área, por isso, quem mexe com isso sente os bons efeitos até nos salários. Para quem se especializa, gosta e sempre busca atualização, é fácil crescer;, afirma. Segundo Ivan, um bom profissional impede o desperdício de dinheiro. ;O PIB está diminuindo e, mesmo assim, a receita está arrecadando mais. O analista tributário está em alta e vai blindar a organização para que ela pague impostos de forma racional. É comum que empresas paguem além do que deveriam porque o responsável a enquadrou de forma errada, porque não fez cálculos corretamente ou porque não conhece a legislação para fazer abatimentos, por isso, é preciso entender muito de várias áreas, como direito e contabilidade para atuar.;

Pouco procuradas
Além do acúmulo de funções por outros profissionais, há outra motivação para a baixa procura por algumas áreas. ;Se um setor estava muito aquecido no ano passado, é natural que agora haja uma queda até a estabilização;, esclarece Ricardo Haag. Segundo ele, mesmo se o setor de um profissional estiver em baixa, há chances de colocação. ;O mercado varia muito, e o importante é buscar qualificação constante; investir no aprendizado de idiomas, já que ainda é difícil encontrar profissionais fluentes em outras línguas; preocupar-se em conhecer outras áreas da empresa; ampliar seu escopo de atuação; e colocar-se à disposição do empregador para fazer mais atividades.;

Segundo Vanderli Frare, ;nas seleções para áreas com menor demanda, o que vai diferenciar você entre uma pilha de currículos é a atitude positiva, a proatividade, a qualificação, a capacidade de trabalhar em time e de pensar fora da caixa.; Segundo a professora, essas características podem ser demonstradas, principalmente, durante dinâmicas de grupo. O tempo em que era normal não fazer mais do que sua obrigação ficou para trás. ;As pessoas precisam acumular funções para não serem substituídas. A secretária pura e simplesmente, por exemplo, não existe mais. Hoje, ela tem que ser assessora e fazer outras coisas;, decreta Lourdes Scalabrin.

;Os profissionais de áreas em baixa são importantes e necessários, mas precisam se diferenciar para ganhar espaço. Devem se manter antenados, ter capacidade de se automotivar e de procurar mais conhecimento, por meio de palestras, por exemplo. Fazer especialização em uma área correlata aumenta as chances de ofertas. O analista de sistemas, por exemplo, tem que se renovar o tempo todo, já que algumas tecnologias se tornam obsoletas, e ele tem que se reciclar para manter a empregabilidade;, diz Lourdes.

É em atualização constante que apostam a analista de mídias sociais Camila Batista, 22 anos, e o analista de sistemas Rodrigo Glosara, 24, que trabalham para o empresário Flávio Rosário, 43, numa agência de mídias sociais. Formada em publicidade, Camila acredita que é preciso se reciclar o tempo todo e conhecer todas as partes do trabalho. ; Tenho noção de todas as áreas. Estou sempre atrás de cursos aos fins de semana;, conta. Além de nunca ter tido dificuldade para conseguir emprego, Camila está num processo de promoção. ;O que contou pontos para ela foi o rápido aprendizado, a vontade de aprender e de se atualizar. Quem não se atualiza perde espaço. Busco pessoas que estão constantemente se reciclando na empresa e por fora, algo indispensável para a área;, explica o chefe Flávio.

Rodrigo ainda cursa faculdade de análise e desenvolvimento de sistemas, mas atua na área há seis anos. ;Sempre fui autodidata e procuro aprender na internet. O mercado tem vagas limitadas, e a oferta está diminuindo. Para se manter empregado, é preciso entender a parte técnica e se renovar todos os dias porque tudo nessa área muda rápido.;

Maturidade
A professora Vanderli Frare avalia que o perfil de idade das pessoas nas organizações está a ponto de mudar. ;Vivemos uma juniorização das empresas, que passam a ser formadas por pessoas talentosas, mas que não têm bagagem e maturidade para sustentar aquele potencial. Agora, num momento de pré-crise, talvez haja uma seniorização na busca por pessoas que possam segurar esse contexto.;

Para o gerente executivo da Page Personnel, Ricardo Haag, o momento desfavorável na economia tem aumentado a procura por profissionais com perfil mais experiente. ;Vivemos oscilações grandes no mercado, e é mais provável que profissionais com mais experiência consigam suportar melhor essas mudanças por já terem passado por isso outras vezes. Quando o negócio está evoluindo bem, fica fácil manter a motivação, mas quando o cenário muda, pessoas com mais experiência costumam se adaptar melhor por possuírem mais controle emocional e maturidade.;

 (Gustavo Moreno/CB/D.A Press)

O analista tributário está em alta e vai blindar a organização para que ela pague impostos de forma racional;
Ivan Oliveira, gestor de tributos

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