Trabalho e Formacao

O engenheiro que virou educador

Quatro décadas depois de abrir um cursinho aos 17 anos para se sustentar, paulista está à frente de rede de colégios com 2,3 mil alunos

Ana Paula Lisboa
postado em 03/08/2014 12:00
 (Antonio Cunha/CB/D.A Press - 14/7/14)


;Perfeição é utopia, mas é obrigação correr atrás dela;

Dar aulas foi a saída encontrada por Atef Aissami para se manter durante o período da faculdade de engenharia civil. Com um grupo de sete colegas, ele montou um curso supletivo e de pré-vestibular que cresceu com a Capital Federal e se tornou escola. Os sócios logo desistiram porque ;não dava dinheiro;, e Atef se viu sozinho frente a um cursinho com sete unidades. ;Eu pensava em largar aquilo depois que me formasse, mas o envolvimento com a área educacional só aumentou;, lembra. Os frutos de tanto trabalho se revelam nas duas unidades do Ciman que, juntas, são guiadas por 260 professores e 70 funcionários. A quantidade de estudantes impressiona: são 500 no Cruzeiro e 1,8 mil na Octogonal.

;Nossa matéria-prima é gente. Preparamos os alunos para viverem como bons profissionais, cidadãos éticos, felizes e realizados. Pegamos um bebê e entregamos um homem. Há filhos e netos de ex-alunos estudando aqui. Já estamos na terceira geração;, comemora. ;Perfeição é utopia, mas é obrigação correr atrás dela;, define. Além do perfeccionismo, foi preciso ter muita perseverança e paixão. ;A dedicação é de segunda a segunda. Vir à escola não pode ser um peso: é preciso gostar do que se faz;, acredita.

;Crescer com trabalho não traz resultados imediatos. Tive que subir degrau por degrau. Implantar o negócio é difícil. Manter e crescer é ainda mais. Em 43 anos de Ciman, quase quebramos muitas vezes;, admite. ;Tem que ter muita paciência, além de serenidade e sabedoria para fazer escolhas;, percebe. Pai de três filhos que estudaram no Ciman, aos 61 anos Atef Aissami não pensa em parar. ;Deus me livre de me aposentar!”, brinca. Por outro lado, não pretende expandir e está satisfeito com as duas unidades.

Fundamentos
O dono estabeleceu os três pilares da escola: recursos humanos, recursos físicos e recursos tecnológicos. ;Os colaboradores são selecionados a dedo. A estrutura tem que ser limpa e funcional e parecer que foi inaugurada ontem.; O processo seletivo para educadores é pesado. ;Precisamos de professores que não apenas passem conhecimento, mas que saibam avaliar e se relacionar. Devem ser pessoas que educam pelo exemplo e com projetos diferenciados, que sabem ser firmes e, ao mesmo tempo, criar uma relação de amizade e de respeito com os alunos.;

O início
Filho de libaneses e natural de Sabino (SP), Atef Aissami se mudou para a casa de um tio, no Distrito Federal, aos 17 anos, para realizar o sonho de estudar engenharia civil. Aprovado no vestibular da Universidade de Brasília (UnB), queria conquistar a independência financeira. ;Os jovens de hoje não têm pressa para sair de casa, mas, naquela época, nós tínhamos. Eu queria me sustentar sozinho;, lembra. ;Montamos o Curso Integral de Madureza da Asa Norte (Ciman), por causa do exame de madureza ; que era o supletivo da época. Depois, Ciman se tornou nome fantasia.;

O que Atef não imaginava é que a empreitada fosse dar tão certo, a ponto de ele abandonar a engenharia para se tornar educador. Depois de abrir a primeira unidade na 604 Norte, o cursinho se expandiu, a custa de muito sacrifício, para outras sete localidades do Distrito Federal. ;Comia em bandeijão, morava num quartinho em república, não tinha dinheiro nem para ônibus. Expandimos por causa da qualidade do trabalho e porque há muito menos exigências para abrir um cursinho preparatório do que para abrir uma escola;, conta.

Aprovado em quarto lugar num concurso público federal, foi chamado de louco por desistir da estabilidade para investir na educação. ;Hoje eu estaria aposentado se tivesse assumido o cargo. Mas concurso é muito cômodo. Eu acredito na iniciativa privada e na meritocracia.;

Decidido a transformar o cursinho numa escola, comprou um lote de 3 mil m; no Cruzeiro em 1978. ;Os trabalhos começaram num barracão improvisado, onde as aulas eram interrompidas por goteiras. Para construir a estrutura da atual escola, foi preciso muito trabalho duro e foco. Acabei fechando todas as unidades do cursinho para investir no colégio. Pensei ;minha vida vai mudar; e comecei a estudar pedagogia. Foi no curso que conheci minha esposa, que me ajudou no colégio durante muitos anos.;

Em 1981, o Ciman foi inaugurado como escola, mas Atef queria mais. Em 1997, comprou um lote de 20 mil m; na Octogonal. ;7 de fevereiro de 2000 é um dia de que não me esqueço porque foi quando o Ciman da Octonogal foi inaugurado. Foi um sonho se realizando;, diz. Apesar disso, ele tem o mesmo amor pelos dois colégios. ;O Ciman do Cruzeiro é a nossa escola do coração. É pequenininha, mas foi a primeira.;

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