Trabalho e Formacao

Segredo de cozinha

Em bistrô aconchegante, dupla de amigos investe na relação próxima com os clientes para manter a qualidade dos serviços em alta. Eles atendem 5 mil pessoas por mês

Ana Paula Lisboa
postado em 10/11/2014 10:45
 (Bruno Peres/CB/D.A Press)


Apesar de ficar escondido nos fundos da quadra comercial 402 Norte, o restaurante Nossa Cozinha Bistrô cativou os brasilienses com uma decoração convidativa com vista para um jardim, pratos elaborados, custo razoável e atendimento simpático. O local é pequeno e foi inaugurado em 21 de janeiro de 2011. Desde então, amplia cada vez mais os serviços e o número de clientes ; hoje, são cerca de 200 por dia. O cardápio é atualizado constantemente e oferece pratos diferentes no almoço e no jantar.

A fórmula de oferecer gastronomia de qualidade com preço acessível tem dado certo, como explicam os proprietários, Alexandre Albanese, 41 anos, e Otávio Soares, 29. ;É muito bom ver seu trabalho ser reconhecido e conquistar o público. Começamos com quatro mesinhas e, hoje, atendemos 5 mil pessoas por mês;, comemora Alexandre. A chegada do Nossa Cozinha Bistrô mudou até a movimentação da quadra. ;Não havia nenhum restaurante, a noite era um breu perigoso. Hoje, há até outro bistrô na quadra;, conta Alexandre.

;O nome do restaurante é a base do nosso trabalho. Os clientes são tão donos quanto a gente. A maior parte dos clientes nos conhece e ganhamos muitos amigos assim;, revela Otávio. É por isso que o feedback tem um papel importantíssimo no estabelecimento. ;Temos um canal de comunicação muito direto: quando entregamos a conta, entregamos também uma ficha de avaliação; no cardápio, as pessoas podem deixar mensagens;, diz Alexandre. Segundo o empresário, não só elogios são bem-vindos. ;Levamos as críticas muito a sério. O feedback é muito importante e aplicamos tudo para oferecer um serviço cada vez melhor.;

O perfil dos clientes mudou com o desenvolvimento do restaurante. ;No começo, nosso público era só de jovens. Hoje, também há muitos senhores;, esclarece Alexandre. O carro- chefe da casa é a costelinha de porco ao molho barbecue servida com batatas douradas. O brownie, a apple pie e o cheesecake também estão entre os mais pedidos. ;Todas as receitas são de pratos que lembram minha infância ou são preparações que aprendi com amigos. Não tem nenhuma frescura;, explica o chef Alexandre Albanese.

Parceria

Os dois sócios conseguem dividir bem as tarefas: enquanto Alexandre cuida dos pratos e da cozinha, Otávio é encarregado do atendimento e da admnistração do estabelecimento. ;Às vezes, temos discussões, mas cada um entende a capacidade do outro, é algo saudável;, revela Otávio. O relacionamento com os 18 funcionários também é bem próximo. ;Fazemos as contratações com base em indicações. Precisamos de pessoas que se identifiquem com nosso trabalho. Não tem uma fórmula, mas oferecemos um treinamento prático e valorizamos cordialidade e simpatia, conversar com o cliente;;

Em fevereiro deste ano, Alexandre e Otávio inauguraram mais um serviço: o Sua Cozinha Take Out. Localizado ao lado do restaurante, o negócio vende comidas congeladas. Muitos dos pratos são os mesmos dos restaurantes, outros são exclusivos, como o bolo red velvet. Entre os planos da dupla, está o projeto de aperfeiçoar cada vez mais o serviço. ;É utópico, mas buscamos a perfeição. Queremos criar uma tradição em Brasília;, sonha Otávio. ;Abrir outra unidade também é uma possibilidade;, finaliza Alexandre.

O início
Alexandre Albanese e Otávio Soares eram uma dupla improvável de sócios. Colegas de academia, os dois começaram a trabalhar juntos por acaso. Alexandre é chef de cozinha desde 2000, trabalhou durante seis anos nos Estados Unidos como chef na embaixada brasileira e durante quatro anos dirigindo o Dish Caterers, um dos mais importantes bufês norte-americanos. Apesar de ter experiência à frente do fogão, nunca tinha administrado um negócio. Otávio é graduado em direito, e a alimentação não aparecia como seu ramo mais provável de atuação.

;O Alexandre ia participar de uma mostra com pratos de sobremesa, e eu me ofereci para ajudar. Trabalhei como garçom e foi assim que começou. Eu nunca imaginei que largaria minha área para abrir um restaurante;, lembra Otávio. Em 2010, os dois inauguraram um pequeno ponto na 402 Norte para vender sobremesas. ;Uma amiga veio visitar e sugeriu que abríssemos um bistrô.; A dupla não levou a ideia a sério no início. ;Não tinha nada para dar certo. O que se procura no comércio é justamente visibilidade, e o local era escondido, voltado para a residencial, numa quadra sem nenhuma tradição de restaurante;, conta Alexandre.

Mesmo assim, os dois resolveram apostar. ;Juntamos o dinheiro que ganhamos com vendas na mostra cerca de R$ 3 mil, fizemos uma pequena reforma e abrimos com quatro mesinhas em janeiro de 2011. Alguns dos móveis eram coisas das nossas casas.; O cardápio era rotativo, e o restaurante só funcionava no horário de almoço. ;Éramos três pessoas: o Alexandre na cozinha, eu como garçom e uma menina que ajudava na limpeza e quebrava os poucos copos que tínhamos;, brinca Otávio. ;Não tínhamos nem louça, e meus parentes trouxeram vasilhames de casa; Contar com o apoio das nossas famílias nos marcou muito.;

Apesar das dificuldades iniciais, o local deu retorno. ;O restaurante sempre se manteve. No começo, sobrava pouco dinheiro ; às vezes, não tínhamos nem como colocar gasolina no carro, mas o restaurante nunca deu prejuízo;, revela Alexandre. ;O dinheiro é importante, mas é secundário. Se você pensar apenas em lucrar, perde o foco de respeito ao cliente, de qualidade dos alimentos.;

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