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Férias para que te quero

Segundo estudo, dias de folga ajudam a melhorar a saúde e o desempenho no emprego. A pausa é fundamental mesmo para workaholics, já que o excesso de trabalho e o sentimento de sobrecarga podem causar doenças, transtornos mentais e até acidentes

postado em 22/12/2014 10:35
Orlando Santos em El Calafate, na Argentina: viagens para desestressar (Arquivo Pessoal  )
Orlando Santos em El Calafate, na Argentina: viagens para desestressar

Mais do que um direito trabalhista conquistado após um ano de esforço, as férias fazem bem à saúde e melhoram o desempenho do profissional. É o que indica pesquisa da empresa britânica de serviços de saúde Nuffield Health e da agência de viagens Kuoni Travel. O estudo, concluído em 2013, aplicou uma série de testes físicos e mentais a seis casais. Metade do grupo foi enviado para viagens na Tailândia, no Peru ou nas Ilhas Maldivas durante duas semanas, enquanto a outra parte do grupo ficou em casa trabalhando. Os mesmos testes realizados antes da viagem foram repetidos durante os passeios e duas semanas após o retorno para casa. Os resultados mostram que quem viajou teve, em média, capacidade 29% maior para se recuperar de situações estressantes. Aqueles que não tiraram férias tiveram essa habilidade reduzida em 71%.

Em uma escala que vai de -100 a 100, a qualidade de sono do primeiro grupo melhorou em 34 pontos, contra uma queda de 27 pontos do segundo grupo. Além disso, a pressão arterial daqueles que tiraram férias caiu 6%. Entre os que continuaram trabalhando, a taxa subiu 2%. Em geral, os participantes que viajaram também relataram melhora no humor e nos níveis de energia. Fã de viagens, o servidor público Orlando Santos, 51 anos, sempre comprova os benefícios dos dias de folga. ;É bom sair da rotina e fazer coisas que não fazemos normalmente. Isso me renova para o dia a dia e me faz ficar menos estressado;, diz. O passaporte dele foi carimbado em diversos países, e os próximos destinos desejados são a Costa Oeste do Canadá e o Havaí. ;Quero conhecer os vulcões que ainda estão ativos;, planeja.

Sair de férias era um sonho distante para o empresário Voriques Oliveira, 45 anos. Dono de 12 lojas de diversos segmentos ; como óticas e vestimenta ;, o workaholic confesso tornou a reserva de tempo para o descanso uma prioridade de vida. No ano passado, tirou as primeiras férias da vida e passou 15 dias em Aquiraz (CE). ;Há cerca de um ano e meio, reduzi o número de negócios para ter mais qualidade de vida. Agora, faço exercícios todos os dias, almoço na hora certa e busco meu filho na escola. Minha saúde melhorou desde então;, conta. Neste ano, Voriques repetiu a dose e ficou 25 dias nos Estados Unidos com a família. O treinamento adequado da equipe foi fundamental para conseguir se afastar. ;O maior desafio é deixar as coisas rolarem sem que você esteja presente e não haver queda de desempenho durante a ausência;, observa. ;Sempre tive um estilo de gestão bastante centralizador, gosto de estar próximo de tudo nas lojas. Felizmente, tudo ocorreu bem enquanto estive fora. Voltei com a sensação de que poderia ter ficado;, brinca.

Tempos estressantes

Segundo a diretora da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), Marcia Bandini, o perfil das atividades trabalhistas mudou, e o descanso se tornou essencial. ;Por causa da industrialização e da automatização de processos, o trabalho tem exigido cada vez mais capacidade cognitiva. Diante dessa demanda mental crescente, as pausas são fundamentais. Não se trata apenas de férias: ter tempo para se recuperar nos fins de semana e durante a jornada também é importante;, analisa a especialista em medicina do trabalho. Professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (IP/UnB), Mario Cesar Ferreira destaca que a percepção de excesso de trabalho é crescente. ;O contexto é de aceleração de atividades e há um sentimento de sobrecarga. Isso pode levar a doenças, a transtornos mentais e a acidentes;, anuncia.

Dados do Ministério da Previdência Social (MPAS) mostram que as concessões de auxílio-doença acidentário por transtornos ligados ao estresse e à ansiedade cresceram, respectivamente, 23% e 14% entre 2005 e 2013. Em situações de excesso de serviço, alguns sintomas podem se manifestar. ;O limite de cada um é individual, então é preciso desenvolver autopercepção e notar os sinais de que está indo além da conta. Alguns desses indícios incluem dificuldade de concentração, ansiedade e qualidade de trabalho comprometida. Na parte física, podem surgir cansaço, comprometimento do sistema imunológico e distúrbios alimentares, gastrointestinais e do sono;, exemplifica Marcia Bandini.

Marcio Cesar Ferreira acredita que a tecnologia pode acabar prejudicando o período de descanso. ;De modo geral, as pessoas que saem de férias passam por três momentos. Antes da folga, há animação e euforia pela oportunidade de se afastar de um contexto estressante. Durante as férias, a pessoa não consegue, necessariamente, se desligar do trabalho por causa da tecnologia já que continua conectada, o que gera tensão e compromete o descanso. Na volta para o serviço, o trabalhador pode ficar ansioso por não saber o que o espera e como o trabalho foi feito durante a ausência;, explica. O professor ressalta o papel da chefia para evitar esse tipo de situação. ;Garantir a qualidade das férias é uma responsabilidade do gestor. Então, antes de sair, é preciso conversar com os colegas e com a chefia para evitar interrupções;, diz.

Momento certo
De acordo com Maurikeli Teles, consultora de Recursos Humanos do Grupo Spot, o período que antecede as férias pode exigir um pouco mais de dedicação, dependendo do perfil do cargo. ;Não é recomendável que apenas uma pessoa saiba fazer determinada atividade dentro de uma organização. Nesses casos, muitas vezes, é contratado um colaborador temporário ou uma pessoa de outra área é deslocada para fazer a cobertura. É necessário se preparar e reservar alguns dias para compartilhar as rotinas e dar as principais recomendações para quem fica;, explica. Caso a substituição não seja possível, a consultora recomenda adiantar demandas. ;Para o trabalho não se acumular, o melhor é resolver as pendências com antecedência e deixar clientes e parceiros avisados sobre a ausência. É bastante recomendável que gestores invistam num programa de sucessão. Assim, o profissional seria contatado apenas em situações de urgência.;

Para quem deseja viajar, vale a pena fugir dos períodos de alta temporada para conseguir ofertas em passagens e diárias. Essa é a orienta do especialista em turismo Henrique Mol. ;Quem se programa com antecedência consegue preços melhores. A sugestão é pegar folga fora do período de férias escolares;, orienta. O especialista conta quais são as épocas ideais para gastar menos. ;Março costuma ser um mês interessante para viagens ao exterior por ser depois do período de alta. Já as praias do Nordeste tem sol quase o ano inteiro, então basta evitar datas comemorativas;, afirma. Mol ressalta, no entanto, que é possível aproveitar a folga sem sair da cidade. ;As férias são um momento para se desprender do trabalho, mas não é preciso viajar. Também é possível explorar lugares turísticos na própria cidade ou nas proximidades;, diz.

Palavra de especialista
À venda?

Há previsão legal para a venda de férias, no artigo 143 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). No entanto, essa possibilidade é restrita a um terço do período, ou seja, 10 dias. Em caso de irregularidades, não há previsão de multa específica. Porém, caso essa seja uma obrigação imposta pelo empregador, cabe denúncia à Delegacia Regional do Trabalho (DRT) ou ao Ministério Público do Trabalho (MPT). Como esse pedido é feito pelo empregado, o certo é que a empresa não aceite converter mais do que o período previsto em lei. A decisão final é sempre do empregador. Além disso, é importante ressaltar que as férias devem ser gozadas nos 12 meses subsequentes ao aniversário de um ano de contratação. O acúmulo de férias é ilegal e está sujeito a multa administrativa aplicada ao empregador. Caso esse prazo não seja cumprido, o trabalhador tem direito a receber pagamento em dobro, conforme previsto no artigo 137 da CLT.


Luciana Martins Barbosa, advogada trabalhista do Escritório Alino & Roberto e advogados

Segundo estudo, dias de folga ajudam a melhorar a saúde e o desempenho no emprego. A pausa é fundamental mesmo para workaholics, já que o excesso de trabalho e o sentimento de sobrecarga podem causar doenças, transtornos mentais e até acidentes

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