Wendell, Marilyn e Daniel são estimulados a procurar soluções sozinhos |
Problemas são sempre negativos? Não necessariamente. Para Marcus Vinicius Freire, diretor executivo de Esportes do Comitê Olímpico do Brasil (COB), eles devem ser encarados como oportunidades. No recém-lançado livro Resolva, ele traz dicas de como agir antes, durante e depois do problema (veja quadro) e defende que situações complicadas se tornam um trampolim para o crescimento. Portanto, é necessário ter coragem e até gostar de enfrentar adversidades. ;Se você tem ambições, projetos desafiadores prontos para sair do papel e quer deslanchar em sua carreira e a empresa em que trabalha, tem de gostar de tempestades. E quero convidá-lo a tomar chuva. Uma chuva torrencial;, estimula.
O bordão ;Resolva! Isso faz parte do jogo; ; frase que Freire ouviu do pai aos 11 anos quando estava indo mal na escola ; foi repetido para si mesmo e para equipes que coordenou e deu origem ao livro que pretende estimular e instruir gestores e outros profissionais a desatarem qualquer nó ; afinal, resolver problemas é imprescindível não apenas para quem é responsável por missões olímpicas com delegações de mais de 500 pessoas, mas também para todos que almejam subir grandes degraus na vida pessoal e profissional. Entre as adversidades enfrentadas por Marcus Vinicius Freire, estão o acidente que lesionou a coluna da ginasta Lais Souza, em janeiro deste ano, e a ameaça de que Guga Kuerten não participaria dos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. Com a organização dos Jogos Olímpicos Rio 2016, certamente, enfrentará outras tempestades, mas está pronto para lidar com elas.
Em 24 anos em posições de liderança ; 16 como executivo do mercado financeiro, 10 como chefe de delegações olímpicas brasileiras e seis como diretor executivo de Esportes do COB ;, Marcus Vinicius Freire lidou com essas e outras grandes questões, aprendeu a não ter medo dos problemas e compreendeu que não há alternativa a não ser resolver a questão e assumir a responsabilidade. ;Grandes empresas, grandes projetos e, principalmente, grandes profissionais enfrentarão grandes problemas se quiserem ser realmente grandes,; afirma.
Marcus Vinicius Freire, do COB |
É preciso gostar
Assim como Marcus Vinicius Freire, Roberto Shinyashiki, empresário, palestrante e doutor em administração de empresas pela Universidade de São Paulo (USP), defende que revezes sejam vistos como oportunidades. ;O profissional tem que ter a atitude que eu chamo de ;Problemas? Oba!’. Quanto maior for o número de pessoas que ajudar, mais sucesso ele fará, e a melhor forma de ajudar as pessoas é resolver os problemas que as afligem;, orienta o psiquiatra com experiência em assessoria empresarial. Essa também é a visão de Carlos Diniz, coordenador do curso de administração da Estácio Facitec. ;Assim como nas competições esportivas, o mercado procura pessoas com habilidade de solucionar problemas e de tornar a situação melhor do que estava antes do problema. É preciso compreender que, para a carreira, problema não é problema, é solução;, decreta. Para conseguir tal proeza, Diniz acredita em capacitação. ;Determinadas formações permitem experimentar a busca de soluções por meio de estudos de caso e simulações que demandam atitude imediata,; sugere.
Evitar é resolver
Um dos primeiros grandes problemas que Marcus Vinicius Freire enfrentou no COB veio de madrugada. ;Estou em casa, dormindo, quando toca o telefone. Do outro lado da linha, alguém me diz: ;Os cavalos não cabem no avião!’;, recorda, referindo-se ao embarque dos animais que participariam das provas de hipismo dos jogos Pan-Americanos de Winnipeg em 1999. O comitê tentou levar os cavalos num avião militar cedido a preço de custo. A manobra parecia uma boa saída, mas foi um erro que teve de ser contornado às pressas, trouxe mais gastos e envolveu muitos riscos. Hoje, há um especialista responsável pelo embarque dos cavalos. A lição que a experiência deixou é a de conter atribulações antes que ocorram. ;Quem não abraça o problema antes, durante e depois, fracassa com mais facilidade. É aquela tal história: a melhor maneira de resolver problemas é evitá-los.;
Prevenir adversidades é a tática da assessora estratégica de Recursos Humanos da Brasal Holding Marilyn Joos, 51 anos, no trabalho. ;Com mais maturidade na carreira, comecei a ter uma visão sistêmica para antecipar questões. O problema nem chega a acontecer porque é antecipado;, afirma. Quando a complicação não pode ser evitada, o gerente de Tecnologia e Projetos Daniel Leandro, 34, conta com saídas preparadas. ;Alguns problemas estão dentro de um mapeamento, são mais cotidianos e previsíveis: para esses, deixamos respostas prontas, e eles são resolvidos logo;, explica. ;Para questões mais estratégicas, consulto a opinião de especialistas. Quando preciso levar um transtorno à chefia, apresento, no mínimo, duas possibilidades de solução.;
Liderança e equipe
;Não basta você se convencer de que os problemas são passaportes para o sucesso: é preciso trazer seu time para essa nova mentalidade. Uma crise tem de ser superada com vários agentes trabalhando juntos;, explica Marcus Vinicius Freire. Ele aposta que um líder tem que engajar a equipe na direção correta e saber escalar o estafe a dedo: é preciso identificar não só quem é capaz de resolver, mas também quem pode causar problemas. Ele alerta que muitos aborrecimentos são provocados pela própria equipe, por isso o gestor tem que conhecer os funcionários e perceber quais perfis reter (como os gerenciadores de talentos, os jovens inovadores, os pragmáticos, os planejadores e os especialistas) e quais evitar (como os baba-ovos, os dramáticos e os pessimistas) ; categorias estabelecidas por Freire.
Para o autor, ;um bom gestor é aquele que, acima de tudo, tem talento e expediente para ;descascar abacaxis;, criar estratégias para atingir as metas e dar as melhores soluções para as questões que aparecem.; A resolução, porém, não precisa partir apenas do chefe. ;Os bons líderes são capazes de fomentar a solução dos problemas por parte da equipe sem uma relação de dependência. As soluções do bom líder não vêm necessariamente dele: podem vir de baixo para cima;, acredita Carlos Diniz. ;As empresas que não têm funcionários resolvedores não crescem no mercado. Primeiramente, é preciso ensinar pelo exemplo, que deve vir de cima;, complementa Marcus Vinicius Freire.
Essa é a aposta do diretor financeiro corporativo da Brasal Holding, Wendell Queiroz, 40 anos. ;Os funcionários são estimulados a apresentarem sugestões. Incentivamos um perfil mais autônomo e intraempreendedor. A pessoa não deve se conformar e esperar que o líder apresente a solução;, observa. No entanto, Wendell Queiroz ressalta que isso não significa que os trabalhadores não devam conversar sobre os problemas com a chefia. ;Se você fala para o profissional não trazer problemas, acaba fechando um canal de comunicação;, diz. Chefes que pedem que os funcionários não tragam problemas sofrem ainda outros prejuízos, como explica Roberto Shinyashiki. ;Ele perde uma chance de ser parte da solução do problema e corre o risco de que a situação acabe sendo resolvida por pessoas que talvez não tenham a visão e o conhecimento amplo de um líder, o que gera riscos.;
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Resolva! : transforme problemas em grandes oportunidades e tenha uma empresa campeã
De Marcus Vinicius Freire
Editora Gente
160 páginas
R$ 29,90