Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

Sonho de intercâmbio destruído

Juízes divergem sobre a validade da questão



O estudante do 9; semestre de medicina veterinária da Universidade de Brasília (UnB) Sandro Caldas, 22 anos, fez o Enem em 2008, quando saiu da escola. Mesmo assim, resolveu arriscar e se inscrever para o programa em junho deste ano. Em uma rede social, encontrou pessoas que passavam pelo mesmo problema e, com um grupo de outros seis estudantes, contratou um advogado. Eles entraram com um mandado de segurança e tiveram o pedido concedido por um juiz. ;Com a liminar, eu continuei no programa normalmente. Fui aceito pela Royal Veterninary College, em Londres, estava com a acomodação reservada e recebi a primeira parte do dinheiro da bolsa;, conta.

Em 26 de novembro, porém, a liminar foi suspensa. Na mesma semana, Sandro recebeu uma carta do CNPq. ;Disseram que eu fui excluído do programa e que terei de devolver a quantia já recebida, cerca de R$ 25 mil,masnão deram prazo nem informaram como a devolução deve ser feita;, reclama. Em nota enviada ao Correio, o CNPq informou que o modo de devolução será informado.

Prejuízos

Sandro não contratou um advogado para recorrer da decisão por considerar os honorários muitocaros. De olho na viagem, programada para janeiro do próximo ano, o jovem saiu de um programa de pesquisa, deixou de participar de dois grupos de estudos e abriu mão de ser bolsista daUnB. ;Fiz todo o meu planejamento pensando que não estaria aquiem2014. Agora, já está muito tarde para eu tentar participar de outro edital. Até poder fazer o próximo Enem, estarei me formando. Esta era a minha última chance;, lamenta.

A prima de Sandro Lara Caldas, 21, cursa o 8; período de arquitetura e urbanismo na UnB. Ela também se inscreveu para o programa sem ter feito o Enem após 2009 e teve transtornos ainda maiores com o cancelamento da viagem, pois saiu de um emprego com carteira assinada. ;Eu era professora de inglês e pedi demissãocoma certeza de que viajaria para o Reino Unido na segunda semana de janeiro.; A estudante teve gastos para tirar passaporte e visto e reclama por ter que restituir toda a quantia recebida. ;Vou ter que devolver os R$ 23 milao CNPq, mas eu paguei para tirar passaporte e visto. Agora, não vou viajar e vou ter que tirar isso do meu bolso?;, questiona.

Planos interrompidos


A reportagem entrou em contato Com a Capes e com o MEC,mas não obteve resposta.OCNPq enviou Nota de esclarecimento em que a firma que os estudantes citados na reportagem não foram excluídos. Segundo o texto, os alunos não terão direito à bolsa por decisão judicial. ;Trata-se de alunos que entraram com liminares na Justiça questionando a exigência do Enem. Por decisão judicial, ficou determinado que os candidatos não teriamdireito à bolsa por não satisfazeremos critérios;, diz o conselho em nota.

Apesar das exigências, não faltam universitários indignados. Daniela Pena, 26, estuda o 7; período de farmácia na Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG)e se inscreveu no Ciência sem Fronteiras.; O juiz negou meu mandado de segurança, mas vou continuar tentando.O Enem aborda conteúdos de ensino básico, mas o intercâmbio é no ensino superior e não é um método adequado para avaliar universitários.;

Esperanças
Aos 25 anos,Carlos Fellipe Sousa cursa o 5; semestre de geologia e se prepara para embarcar para a Nova Zelândia em fevereiro de 2014.Ele não fez o Exame Nacional do Ensino Médio depois de 2009, mas entrou com um mandado de segurança em julho.Os resultados do programa saíram em outubro e o nome de Carlos Fellipe estava na lista dos selecionados. Até o momento, ele continua no programa. ;Já fui aceito pela universidade e estou com muitos planos. Espero que dê tudo certo,mas ainda tenhoreceio;, admite.

Falta de informação na inscrição

No momento da inscrição para o Ciência sem Fronteiras, não é necessário inserir a nota do Exame Nacional do Ensino Médio. A pontuação deve ser apresentada apenas no momento de homologar a inscrição, depois que o estudante for aceito em uma universidade estrangeira. Por causa disso, é possível que alunos que não cumpram todos os requisitos dos editais sejam admitidos. As inscrições efetuadas foram usadas por estudantes para justificar mandados de segurança para garantir a chance de participar do programa. Os resultados dos mandados variaram a cada caso e os estudantes podiam desistir ou apelar da decisão se houvesse recusa.Algumas situações ainda aguardam julgamento. As entidades responsáveis pelo Ciência sem Fronteiras não possuem dados sobre a quantidade de alunos que conseguiram homologar a inscrição no programa por meio de mandado de segurança.