Trabalho e Formacao

Liderança na medida

O chefe raramente quer bancar o vilão, mas líderes distantes, inflexíveis ou econômicos demais nos elogios acabam provocando antipatia na geração Y. Para especialistas, o gestor ideal deve adaptar estilos diferentes de comando a cada situação

postado em 26/01/2015 10:25

O chef Yuri é conhecido por ser bonzinho, enquanto o empresário Rodrigo tem fama de durãoUm chefe que não acompanha a equipe de perto pode acabar perdendo a admiração dos colaboradores. Essa é a conclusão de pesquisa conduzida entre novembro e dezembro do ano passado pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube). A partir das respostas de 7.451 jovens de 15 a 26 anos, constatou-se que o chefe que se mantém ;distante e quase nunca presente; é reprovado por 57% dos entrevistados. Em seguida, vem o gestor que não elogia os pontos positivos do trabalho dos funcionários, que desagrada a 20,52% dos participantes do estudo. Outros dois tipos de personalidade fecham a lista: o chefe excessivamente tradicional (17,32%) e o imparcial e pouco flexível (5,12%).

;O resultado mostra que o líder deve estar sempre presente para estender a mão. A ausência pode gerar problemas na produtividade e no ambiente de trabalho. Afinal, como o chefe pode cobrar algo se não acompanha a equipe?;, questiona Rafaela Gonçalves, analista de treinamento do Nube. ;O profissional mais jovem procura alguém para admirar como superior. Quando o líder não é tão envolvido, acaba frustrando expectativas;, avalia Fernando Santiago, consultor de negócios da 4Legal Coworking (empresa de compartilhamento de espaço de trabalho). ;Os profissionais mais novos estão pedindo limites. Alguém tem de dizer até onde eles podem ir. No entanto, essa questão deve ser muito bem trabalhada, pois o jovem de hoje é diferente daquele da geração anterior;, afirma Gustavo Silva, mastercoach e presidente do instituto de coaching Awakening.

[SAIBAMAIS]A insatisfação quanto à falta de feedback positivo no trabalho, segundo item mais citado na pesquisa, pode estar ligada à forma como a geração Y foi criada, de acordo com a especialista do Nube. Os nascidos entre as décadas de 1980 e 1990 estão acostumados a receber elogios de pais e professores, estímulo que continua a ser esperado após a entrada no mercado de trabalho. Além disso, a especialista considera que a chefia que não ressalta qualidades pode espantar talentos. ;Ao deixar de reconhecer as conquistas, o líder também acaba não identificando o potencial dos colaboradores;, diz Rafaela.

Questão de estilo
Às vezes, dentro da mesma organização, é preciso adotar formas diferentes de liderança a fim de garantir o bom andamento do trabalho. Essa é a estratégia dos sócios Diogo Bevilaqua, 27 anos, e Rodrigo Góes, 28, donos do restaurante de comida natural Lótus Azul. Há quatro anos no negócio, os dois têm relações diferentes com a equipe quando comparados ao chef de cozinha Yuri Ottoline, 23, braço-direito da dupla. ;Aprendemos que não dá para ser bonzinho demais. É preciso ter pulso firme;, opina Diogo. ;Demoramos uns três anos até termos coragem de levantar a voz para alguém, sendo que isso é necessário em algumas situações;, diz Rodrigo. Os sócios tinham pouca experiência em gestão antes de inaugurar o restaurante. Após passar por cursos sobre liderança e desenvolvimento, a dupla acredita que o tempo é o melhor professor. ;O que ajuda mesmo é a experiência. Temos um responsável por cada setor, o que promove a integração. Evitamos ter intimidade com as pessoas porque isso já provocou conflitos. Um simples bilhete de boas férias para uma funcionária, por exemplo, gerou ciúmes dentro da equipe;, conta Rodrigo.

Yuri, chef de cozinha, aposta num relacionamento mais próximo dos subordinados. ;Tento me aproximar mais da equipe para criar um clima de confiança, mas sempre mantendo o respeito;, explica. ;Sou amigo e líder ao mesmo tempo. Acho que isso ajuda a convencer as pessoas a fazerem as coisas da forma correta;, observa Yuri. O consultor de negócios Fernanda Santigo ressalta, porém, que o perfil ;bonzinho; pode trazer problemas.;O chefe que é muito permissivo pode acabar sendo confundido com um amigo e ter dificuldade em ser levado a sério;, afirma. O conselho para líderes que fogem de conflitos é adotar uma postura proativa por meio do feedfoward (o oposto do feedback), certificarndo-se de que os colaboradores estão cientes das expectativas sobre o trabalho antes que os problemas surjam.


"O profissional mais jovem procura alguém para admirar como superior. Quando o líder não é tão envolvido, acaba frustrando expectativas;
Fernando Santiago, consultor de negócios

O chefe raramente quer bancar o vilão, mas líderes distantes, inflexíveis ou econômicos demais nos elogios acabam provocando antipatia na geração Y. Para especialistas, o gestor ideal deve adaptar estilos diferentes de comando a cada situação

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