Ana Paula Lisboa
postado em 09/02/2015 11:52
Na volta às aulas, a preocupação com o que preparar de lanche escolar para as crianças é uma constante em muitos lares. Sem tempo, mães apelam para produtos industrializados. Quando percebem, porém, que a merenda dos filhos pode ser prática, saudável e divertida, mudam de rumo. É isso que Evelyne Ofugi, 32 anos, ensina nas palestras da empresa Bentô Kids, criada há três anos. Além de cursos para mães e interessados em culinária, ela também dá oficinas para crianças aprenderem a fazer quitutes. ;Ensino a deixar tudo prático. Uma dica que eu passo, por exemplo, é fazer sucos, congelar em formato de cubinhos de gelo. Na hora de levar para a escola, basta colocar os cubinhos na garrafinha. Quando a criança for lanchar, a bebida vai estar fresquinha;, orienta. Entre as crianças, o aluno número 1 de Evelyne é o próprio filho, Enzo, 4 anos, que já sabe temperar frango, descascar batata e fazer bolo. ;Dá para aprender tudo isso na infância. É outro relacionamento com a comida;, diz.O mais novo serviço, a entrega de lanches para escola em formato de bentô, tem feito sucesso. A ideia começou com o interesse dos colegas de turma do filho pelas comidas que ele levava ao colégio. ;As crianças viam a lancheira dele, com comidas em formato de bichinhos, carrinhos, e ficavam loucas. Diziam que o dele era o mais legal;, conta. Com o interesse das mães, Evelyne começou a oferecer um serviço de entrega de merendas no fim do ano passado. No momento, a ;assinatura de lanches; é usada por 20 famílias. Sem condições de atender a todos os interessados, pais chegam a entrar em lista de espera para participar. ;No início, eu fazia tudo na minha casa. Agora, uso uma cozinha em Águas Claras. Tenho uma ajudante fixa, e contrata os serviços de uma moto-girl para as entregas. Passo a madrugada fazendo os lanches;, relata.
;Faço tudo o mais saudável possível. O pão de queijo, por exemplo, é sem lactose, mas o sabor não se altera. As crianças não têm dificuldades de se adaptar a refeições mais saudáveis porque comem com os olhos. Algumas choravam para comer verduras e, hoje, comem tranquilamente;, conta. A adoção de lanches com aparência inusitada é popular entre estudantes com restrição alimentar. ;Esses sofriam bullying nos colégios, pois levavam opções pouco atraentes aos olhos dos coleguinhas, que perguntavam ;você vai comer isso aí? Eca!’ Mas, hoje, eles levam lanches bonitos e divertidos.;
Segundo a empresária, o segredo para o sucesso da empresa está no cuidado. ;O diferencial é que eu faço tudo com carinho, da mesma maneira que eu faço comida para o meu próprio filho. As mães percebem isso. O bom atendimento também é um dos pilares;, revela. ;No início, o negócio demorou a repor o que investi, mas, agora, cresceu tanto que não há mais condições de continuar sendo microempreendedora individual, que permite ter apenas um empregado. Pretendo transformar a empresa numa sociedade;, revela.
O início
Evelyne Ofugi trabalhava como professora de biologia e resolveu abandonar a carreira depois do nascimento do filho. ;Eu dava aulas nos três períodos e percebi que não daria para continuar nesse ritmo sendo mãe;, lembra. A experiência como professora influenciou o modo como ela cria o filho. ;Eu via os meninos comendo só besteira. Nas aulas de pirâmide alimentar, eu levava verduras para a sala de aula, e muitos não conseguiam identificá-las. Eu sempre pensava em como seria com o meu filho;; Para acostumá-lo à alimentação saudável, ela começou a fazer pratos atraentes e divertidos, num formato de bentô (refeição individual japonesa em que a aparência é muito valorizada). ;Eu fazia bentô de papinha e postava na internet. As pessoas se interessavam e me pediam para ensiná-las.;
Foi assim que a neta de japoneses viu na tradição de família uma oportunidade de mercado. ;Aprendi a fazer bentô com a minha mãe, que aprendeu com a minha avó;, revela. Para trabalhar no ramo, Evelyne investiu em cursos em áreas como engenharia de alimentos e psicopedagogia, além de ter feito pós-graduação em nutrição infantojuvenil. ;O próximo passo foi correr atrás de me tornar uma microempreendedora individual (MEI) e registrar a marca.;
A partir daí, cursos dados para adultos e oficinas para crianças viraram rotina. Com o boca a boca, mais pessoas se interessaram pelo trabalho de Evelyne, e o negócio cresceu muito. Hoje, ela é convidada para ministrar cursos e palestras nos mais diferentes estados. As oficinas também podem ser para grupos ou até uma consultoria individual.