Trabalho e Formacao

Namoro na firma

Empresas passam a aceitar mais os romances entre funcionários, já que pessoas apaixonadas são mais felizes e, consequentemente, mais produtivas. A discrição no ambiente de trabalho é fundamental para evitar comentários

postado em 08/06/2015 14:16
Thiago e Andreia se sentem mais motivados para trabalhar em um call center por causa do envolvimento Na semana do Dia dos Namorados, que será na próxima sexta-feira (12), o Correio conversou com especialistas e casais para entender como os relacionamentos amorosos entre colegas podem afetar a produtividade. A conclusão é de que a tolerância das organizações quanto a envolvimentos afetivos entre funcionários tem aumentado e pode trazer benefícios, como explica o diretor executivo da Associação Brasileira de Desenvolvimento e Treinamento (ABDT), Alexandre Slivnik. ;Em relação há 10 anos, há mais permissividade. Os apaixonados são mais felizes e, consequentemente, mais produtivos. Ter duas pessoas que se gostam é muito melhor para o local de trabalho do que aguentar funcionários que se odeiam;, argumenta.

O casal Andreia Alencar, 23 anos, e Thiago de Oliveira, 20, acredita que o romance aumenta a motivação para trabalhar. Os dois são operadores de telemarketing em uma empresa que terceiriza serviços de call center. ;Principalmente aos fins de semana, não recebemos muitas ligações. Às vezes, é bem parado, e fico mais feliz quando somos escalados para trabalhar no mesmo dia;, conta Thiago. Eles namoram há quatro meses e revelaram o relacionamento aos colegas de forma inusitada. ;Mandamos uma foto juntos para o grupo de WhatsApp dos funcionários. Os supervisores só souberam depois, mas não houve qualquer problema;, conta Andreia. Para evitar piadinhas e comentários, os dois não demonstram intimidade no escritório.

Para Hélio Vasconcelos, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos ; Seccional Distrito Federal (ABRH-DF), a atitude é acertada. ;A questão toda se resume ao comportamento do casal. Eles devem ser discretos, não usar apelidos, nem dar beijos e abraços durante o expediente;, afirma. Na opinião de Vasconcelos, esse tipo de situação pode trazer vantagens também para o empregador. ;Na maioria dos casos, o casal busca mostrar ainda mais seu lado profissional e se sobressair para não se tornar alvo de questionamentos por causa do namoro ; assim, o rendimento até aumenta;, observa.

Amor no serviço público: Marília e Gandulfio revelaram o namoro à equipe da UnB três meses depois Hora de assumir
A psicóloga Marília Mesquita, 24 anos, e o assistente de administração Gandulfio Franco, 28, também estão no time daqueles que encontraram o amor entre o almoço com colegas e a pausa para o café. Os dois trabalham no Decanato de Gestão de Pessoas da Universidade de Brasília (UnB) e começaram a conversar por motivos profissionais. Aos poucos, o diálogo foi mudando de tom, até o dia em que resolveram sair. Eles demoraram três meses para assumir o namoro para os colegas. Marília conta que, por ter menos de um ano no cargo, ficou apreensiva. ;No início, era segredo até porque a gente não sabia se daria certo. Eu tinha um pouco de receio sobre a reação que as pessoas poderiam ter;, conta.

;Meu chefe imediato ficou tranquilo, algumas pessoas desconfiavam, e a decana ficou chocada com a notícia porque não esperava por isso;, revela Gandulfio. Com sete meses de relacionamento, a psicóloga não acredita que ter o namorado no mesmo ambiente tenha afetado sua motivação ou produtividade. ;Minha atitude não mudou por causa da minha relação;, afirma. Apesar de trabalharem na mesma direção, os dois são de equipes diferentes e só atuam lado a lado em processos ocasionais. ;Para mim, o ambiente de trabalho melhorou. Não fico mais motivado para vir trabalhar, e sim para vê-la;, brinca Gandulfio.

Cada um no seu canto
A fim de minimizar a interferência dos assuntos pessoais nos profissionais, algumas empresas optam por manter os casais separados. Foi o que aconteceu com Cláudio Albuquerque, 32 anos, e Melândia Alves, 33. Os dois são gerentes em uma rede de lojas de roupas. Quando começaram o relacionamento, trabalhavam no mesmo local. ;Entrei na empresa em 2006, e ela em 2005. A gente se conheceu em Brasília, mas, alguns meses depois, recebi uma promoção e fui para São Paulo. Um tempo depois, ela também se mudou para lá e ficamos na mesma loja. Foi o destino;, conta Cláudio.

Eles esperaram cerca de dois meses para contar aos superiores sobre o relacionamento. Apesar de trabalharem em departamentos diferentes, ele ficou em Ribeirão Preto e ela foi transferida para a capital do estado. De volta ao Distrito Federal, os dois permanecem na empresa, em lojas distintas. Ambos acreditam que a medida é benéfica. ;Acho positiva essa política porque a gente já convive em casa e tem alguns pontos de vista diferentes, não sei se daria certo misturar as coisas;, explica Melândia. Atualmente casados, os dois têm um filho de 1 ano e quatro meses.

Na opinião de Cláudio, transparência é fundamental para quem começa um romance no ambiente de trabalho. ;Ser honesto com os superiores é o primeiro passo. Tentar manter segredo por muito tampo pode acabar provocando situações chatas;, opina. O diretor-executivo da ABDT, Alexandre Slivnik, concorda. ;A verdade é o melhor caminho. Confiança e trabalho em equipe são fundamentais num ambiente laboral. Ao esconder uma situação como essa, a relação de segurança pode ser quebrada;, explica. Para ele, restrições sobre o namoro dependem do perfil da organização. ;Existem empresas de cultura mais conservadora, e é preciso entender e respeitar isso. Essas regras podem mudar, mas de forma gradual, então é preciso ter paciência;, diz.

Fim da linha
No caso de um término de relacionamento conflituoso, o desempenho do funcionário pode ser comprometido, com queda de rendimento e clima constrangedor. A função do chefe é fundamental para resolver o impasse. ;Nesses momentos, o papel do líder é trazer as pessoas de volta à normalidade. Para isso, é preciso mostrar as metas que a organização espera e manter diálogo com ambos;, diz Hélio Vasconcelos. As conversas, aliás, também são a solução para casais que apresentam comportamento inadequado. Para Alexandre Slivnik, medidas mais drásticas podem ser tomadas em algumas situações. ;Se houver briga ou algo mais sério, é possível mudar as pessoas de área ou até mesmo recorrer à demissão;, afirma. Para o especialista, os relacionamentos entre chefes e subordinados merecem ainda mais cuidado. ;Se o líder tem uma relação dentro da empresa e não leva os códigos de conduta à risca, corre o risco de perder a equipe. Basta um deslize. É preciso também exercitar um olhar crítico sobre o próprio trabalho para não ser acusado de proteger o parceiro;, analisa.

O que diz a lei
Não há legislação que proíba relacionamento amoroso no ambiente de trabalho, como explica o advogado Bruno Galucci. ;A lei não condena namoro no contexto profissional. O que pode acontecer é o estabelecimento de regras internas de boa convivência. A organização não deve impedir os funcionários de se relacionarem.; No ano passado, as empresas Renner e Walmart foram condenadas pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) por demitirem funcionários que namoravam colegas. Além de reverterem as demissões por justa causa, as companhias tiveram de pagar indenizações de R$ 39 mil e R$ 30 mil por danos morais, respectivamente. ;Caso o funcionário consiga comprovar que sofreu dano no trabalho por causa do relacionamento, pode recorrer à Justiça do Trabalho;, afirma Galucci. Mudanças de setor ou de unidade, no entanto, são permitidas, desde que haja consentimento do colaborador. ;É interessante que a empresa tenha uma política definida sobre isso;, conclui.

Para não pegar mal

Confira dicas de comportamento para evitar problemas caso tenha um relacionamento amoroso no trabalho:
; Seja discreto. Beijos e abraços durante o expediente, assim como apelidos, são desaconselhados.
; Para evitar fofocas, não conte detalhes do relacionamento para colegas de trabalho.
; Não use o e-mail ou a rede social corporativa para trocar mensagens de cunho particular.
Fontes: Alexandre Slivinik e Hélio Vasconcelos

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