A crise econômica, deflagrada em meados do ano passado e aprofundada no primeiro trimestre de 2015, começa a abalar com mais intensidade as gerações Y e Z. O desemprego entre jovens de 18 a 24 anos no país atingiu, em maio, taxa de 16,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice geral de desocupação subiu para 6,7% no último mês, sendo o mais alta registrada desde agosto de 2010. Enquanto a prioridade de muitas empresas é cortar gastos, mão de obra fixa é dispensada e novas contratações são impedidas.
;É a primeira vez que a geração Y, que tinha um mercado bastante aquecido e boas perspetivas há até pouco tempo, vê uma crise de perto e sente seus efeitos;, aponta o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos. Segundo ele, o momento não é ideal para aqueles que deixam os portões das universidades. ;Se, na situação econômica atual, até os funcionários experientes estão sendo dispensados, é justo indagar o que resta para os recém-chegados.;
Interessada em ter um currículo completo, Ilza Lopes, 27 anos, investiu em atividades paralelas à graduação em gestão financeira, concluída no segundo semestre de 2014. Com certificados de cursos técnicos em agronegócio e em logística, além do diploma, Ilza não esperava ter dificuldade para encontrar emprego. ;Foi uma surpresa: eu imaginava que a formatura seria o pontapé inicial e abriria portas;, conta. ;A economia não está boa, e o que desejamos é terminar os estudos e trabalhar, mas ninguém parece disposto a dar oportunidade;, avalia, desestimulada.
Até recentemente em situação semelhante à de Ilza, Douglas Domingos de Oliveira, 26 anos, começou a buscar emprego em dezembro de 2014, quando se formou em sistemas de informação. Ele mantinha uma média de cinco entrevistas por mês, das quais, de janeiro a junho deste ano, não obteve mais que promessas de retorno. O jovem, que ambicionava trabalhar em programação ou análise de sistemas, viu-se obrigado a fazer restrições e, na semana passada, aceitou emprego como técnico de informática. Apesar da dificuldade para conseguir trabalho, Douglas não enfrentou o impedimento quando era um estudante à procura de estágio. ;Todas as vezes que quis estagiar, consegui;, lembra.
A contradição faz parte da vida de milhares de universitários e ilustra o momento vivido pela geração Y: restrições para conseguir emprego enquanto a oferta de vagas de estágio aumenta. A recessão atual, por exemplo, teve influência positiva ao gerar vagas para universitários de janeiro a maio de 2015, quando foi constatado aumento de 35,65% na demanda por estagiários no país. O levantamento, realizado pela Catho, indica uma tendência de procura por estudantes neste período de aperto. Apenas no Centro-Oeste, a oferta de vagas de janeiro a maio de 2015 foi 181,37% maior que no mesmo período do ano passado, passando de 1.219 a 3.320. No Distrito Federal, a procura por estgiários no primeiro trimestre de 2014 foi 273,16% maior que nos três primeiros meses de 2015, passando de 682 para 2.545 vagas.
Enquanto o mercado de estágio é protagonista de uma fase de crescimento, o percentual de pessoas desocupadas no país subiu de 4,4% para 4,8% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado e de 6% para 7,1% no DF, segundo dados do IBGE. O mês passado também não trouxe bons resultados. Em Brasília, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, e as 14 mil novas vagas geradas ; principalmente no comércio ; não foram suficientes para absorver as 23 mil pessoas que passaram a integrar a força de trabalho da região, formada por 1,5 milhão de trabalhadores. O número de desempregados em maio ficou em 225 mil ; 10 mil a mais que em abril ;, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal (PED-DF).
De acordo com o economista Carlos Alberto Ramos, a dicotomia entre desemprego e surgimento de ofertas para profissionais em formação é típica no Brasil. ;Sempre que passamos por uma crise financeira, o setor jovem é mais penalizado;, avalia o economista, que acredita que o saldo da recessão é negativo para a geração Y. De uma perspectiva um pouco mais otimista, o consultor em gestão de pessoas Eduardo Ferraz não vê o momento atual como decisivo para a população que começa a vida economicamente ativa agora. ;Nas últimas décadas, houve crises mais e menos graves do que esta, e isso nunca foi motivo para abalar uma geração como um todo. Não será agora que isso vai acontecer;, diz. No entanto, ele orienta que os jovens não se acomodem, inclusive os empregados.
Mão de obra barata
Ao mesmo tempo em que o desemprego cresce, vários centros de integração têm percebido aumento na demanda por profissionais em formação, tendo em vista que o custo de um estagiário é inferior ao de uma pessoa contratada por meio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) apresentou alta de 5,37% no número de vagas de estágio ofertadas em escala nacional no primeiro trimestre deste ano (93.446) em relação ao mesmo período do ano passado (88.680). Em consonância com a tendência, o Instituto Fecomércio (IF) declarou que, nos primeiros meses de 2015, a procura por estagiários e jovens aprendizes no DF aumentou 1,3%. Apesar do horizonte otimista para universitários, nem todas as empresas aumentaram a oferta de vagas para mão de obra em formação no período da crise. O Instituto Euvaldo Lodi (IEL), por exemplo, abriu 1.421 vagas de janeiro a maio de 2014, número que decaiu para 1.343 no período equivalente de 2015. A queda de 5,48% foi entendida pela assessoria do IEL como uma consequência da conjuntura econômica atual.
O boom de oportunidades para universitários em algumas empresas é um efeito indireto da recessão. ;Os estagiários são mão de obra barata e qualificada, então, faz sentido que, no cenário atual, as empresas demonstrem preferência por eles;, explica a coordenadora de Estágios do IF, Regina Malheiros. Segundo o superintendente executivo do CIEE, EduardoSakemi, a iniciativa privada investe na mão de obra em desenvolvimento como estratégia para se fortalecer durante a crise econômica. ;O estagiário representa uma renovação de cenário; os jovens têm disposição para aprender e contribuir com ideias novas, estão sempre antenados;, explica.
Priorizar a contratação de estagiários em momentos de crise, porém, não é considerado saudável. O economista Carlos Alberto Ramos acredita que, apesar de parecer uma solução imediata, eles não devem assumir obrigações que competem a outros cargos. ;Não é inteligente dispensar funcionários e contratar estudantes: um profissional não substitui o outro. O estagiário precisa se dedicar à vida acadêmica e requer treinamento, sem falar que o período de contratação é limitado, o que pode causar insegurança financeira;, afirma.
Cenário desigual
Apesar de diversas empresas estarem recrutando mais estagiários, a distribuição das oportunidades varia conforme o curso. Segundo levantamento da Catho, por exemplo, a maior parte das vagas abertas no Centro Oeste, de janeiro a maio deste ano, foram para administração (30,82%), publicidade (8,9%), marketing (8,02%), análise de sistemas (5,28%) e ciência da computação (5,28%).
André Luís de Sousa, 21 anos, é aluno do 7; semestre de engenharia civil do Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (Uniplan) e, desde outubro do ano passado, procura estágio sem sucesso. ;Meus colegas enfrentam o mesmo problema. Ultimamente, nem para entrevista a gente é chamado;, conta o estudante, que espera encontrar numa oportunidade de estágio o exercício das habilidades práticas que a faculdade não proporciona. André Luís acredita que, caso não consiga estagiar antes da formatura, terá problemas para arranjar emprego depois. ;As empresas exigem experiência, mas nenhuma delas permite um primeiro contato;, aponta.
O superintendente executivo do CIEE, Eduardo Sakemi, aponta outro motivo para que estudantes enfrentem dificuldades para estagiar. ;As empresas passam a cobrar postura profissional e conhecimento dos estagiários;, pondera.
Três perguntas para
O que os jovens podem fazer para não serem atingidos pelos cortes no mercado de trabalho?
Para quem está trabalhando, o momento é de mostrar empenho e de se oferecer para fazer algo a mais. Não tenha vergonha de perguntar ao chefe ;O que posso fazer para contribuir?;
Existe uma maneira de se beneficiar da atual situação atual?
O segredo é ser proativo, não dá para esperar as coisas caírem do céu. Para quem não está empregado ou estagiando, a dica é fazer cursos técnicos ou de especialização e se manter atualizado para que você se destaque quando surgir uma oportunidade.
Como aumentar as chances de ser contratado?
É imprescindível ter um currículo completo, atualizado e disponível na internet. Capriche na descrição das atividades anteriores, principalmente se tiver boas notas ou projetos de destaque durante a graduação.
Encontre uma vaga
; Vagas do Ministério do Trabalho: maisemprego.mte.gov.br
; Portal Admite-se, dos Diários Associados: www.admite-se.com.br
; Vagas de emprego no DF: www.vagadeempregodf. com.br
; Catho, site de classificados de empregos: www.catho.com.br
; Insight, empresa de colocação profissional: www.insightconsultores.com.br
; Emprego Ligado, classificado de empregos: empregoligado.com.br
; Vagas, portal de empregos e programas de estágio e treinee: www.vagas.com.br
; Nube Estágios, site especializado em ofertas de estágios e cursos profissionalizantes: www.nube.com.br
; O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) está com inscrições abertas para estagiários até 7 de julho pelo site www.tjdft.jus.br. Há vagas para diversos cursos, e a bolsa é de R$ 800.