Trabalho e Formacao

Comprometimento se põe à mesa

Mercado de festas no Brasil enfrenta escassez de mão de obra capacitada e responsável. Nova escola de eventos deve ser lançada em nível nacional para suprir a carência do setor. Em Brasília, o IFB mantém curso técnico na área desde 2011

postado em 06/07/2015 11:33 / atualizado em 19/10/2020 14:20

De festas de debutantes a casamentos, passando pelas cerimônias corporativas, o setor de eventos gera emprego e renda. De acordo com pesquisa do Instituto Data Popular, a pedido da Associação Brasileira de Eventos Sociais (Abrafesta), o brasileiro gastou R$ 16,8 bilhões com festas em 2014, montante 6,3% maior do que o registrado no ano anterior. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc), o setor empregou 1,89 milhão de pessoas de forma direta em 2013. Apesar dos números animadores, o ramo não deixou de ser afetado pela desaceleração econômica recente, como explica Ana Cláudia Bitencourt, presidente da Abeoc. “As empresas do setor precisam se adaptar para responder à crise de forma rápida. O momento é de trabalhar para transformar problemas em oportunidades”, diz.

O arquiteto de eventos Ricardo Azevedo, 39 anos, tem sentido esses efeitos. “Houve uma baixa no crescimento, e tivemos de nos recriar, trabalhando de forma mais enxuta e usando a criatividade para continuar competitivos”, avalia ele, que abriu a empresa que leva seu nome há 18 anos. O decorador Robinho Lemos, 50 anos, que também tem uma loja de objetos decorativos, admite que teve de reformular o negócio. “Eu me adequei e tive de demitir. Estou buscando outros mercados e alternativas”, conta o dono da Nativa Festas, localizada no Lago Sul.

Para o cerimonialista César Serra, no entanto, o mercado se beneficia por exigir planejamento prévio por parte dos contratantes. “Nós sofremos menos com as crises porque as pessoas começam a se programar para uma grande festa com, pelo menos, um ano ou um ano e meio de antecedência. Por isso, há tempo para economizar”, argumenta. Diante da falta de mão de obra qualificada disponível, ele investe em treinamento na própria empresa. Na equipe de seis funcionários, a maioria está com ele há anos. “Não existe milagre para reter pessoas. Sou exigente, mas me considero um bom patrão”, afirma. Serra, 48 anos, é um dos mais requisitados cerimonialistas da cidade, com mais de 30 anos de experiência.

Dona de um bufê e do espaço de festas Orpheum, que fica no Jardim Botânico, a chef Leninha Camargo, 40 anos, critica a falta de profissionalismo de pessoas que entram na área com a ideia de fazer dinheiro fácil, mesmo sem ter qualificações. “Infelizmente, há muitos aventureiros, que abrem negócios sem saber como estabelecer um preço para o serviço e acabam não dando conta de fazer o evento. Para nós, isso vira concorrência desleal”, afirma. À frente de uma equipe fixa de 17 pessoas, além dos autônomos que trabalham a cada evento, Leninha aponta ainda a alta rotatividade de pessoas como um grande problema do setor. Ela tem o próprio negócio há 16 anos e atuou em grandes eventos, como a Copa do Mundo.

Capacitação

O mercado de eventos sonha com um funcionário de perfil não muito diferente do idealizado em outros setores: um profissional comprometido com o trabalho e que tenha conhecimento prático sobre a profissão. Para especialistas, porém, essas são as características mais ausentes no mercado. Na capital, apenas o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB) oferece curso técnico regular na área. Com duração de três semestres, ele se divide nos seguintes módulos: formação básica, assistente cerimonial e assistente em eventos. Uma nova seleção para o curso será aberta no ano que vem. A escolha dos candidatos, que devem ter ensino médio completo, ocorre por meio de sorteio.

Diante do interesse dos alunos e do potencial do setor, o IFB passará a oferecer, a partir do próximo ano, curso técnico em eventos integrado ao ensino médio e formação tecnológica na área. O formado poderá receber o diploma de curso superior após treinamento de apenas dois anos. “Desde o início das aulas, em 2011, 582 alunos ingressaram, e a procura vem aumentando”, diz Simone Santos, coordenadora do curso técnico em eventos da instituição.

A falta de qualificação é algo que atinge o setor em nível nacional, tanto que a Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc) deve lançar uma escola própria no próximo semestre. A ideia é oferecer capacitação em diversos temas de interesse para o mercado, em várias cidades brasileiras. A entidade também trabalha para criar parcerias com instituições internacionais para que os formados tenham certificação reconhecida no exterior. “A Abeoc é muito comprometida com a qualificação da gestão das empresas e com a formação de capital humano. Qualificar pessoas nessa área não é fácil, pois o empregado deve entender de vários assuntos, como atendimento ao público, planejamento e elaboração de projetos. A proposta da escola de eventos será formar um profissional intermediário, que trabalhará em setores como recepção, licitações e captação de recursos”, explica Ana Cláudia Bitencourt, presidente da associação.

O que eles querem de você
O Manual de boas práticas da Abrafestas (Associação dos Profissionais, Serviços para Casamento e Eventos Sociais) estabelece pontos a serem levados em consideração por todos os profissionais de eventos para obter a excelência em serviços. Confira:

» Confiabilidade: ter expertise suficiente para oferecer o que foi prometido e deixar claro ao cliente todos os detalhes sobre o produto ou serviço.

» Responsividade: estar pronto para responder às solicitações dos clientes de maneira ágil e com qualidade.

» Garantia: dar ao cliente segurança quanto ao preço combinado e ao item comprado, inclusive em caso de substituição.

» Empatia: ter a capacidade de compreender as necessidades do cliente de maneira individualizada.

O Manual de boas práticas está disponível no site: www.abrafesta.com.br.

Onde estudar
» O próximo sorteio para o curso técnico em eventos do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB) ocorre no ano que vem. Com duração de três semestres, a formação é oferecida no câmpus Brasília (610 Norte). Mais informações no site www.ifb.edu.br ou pelo telefone 2103-2132.

» A Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc) inicia os cursos de sua escola de eventos a partir de agosto. Há previsão de formações em logística, captação de recursos, eventos de luxo, entre outros. Ainda não há informação sobre as cidades que receberão os cursos. No entanto, os interessados podem acompanhar as novidades do lançamento pelo site www.abeoc.org.br ou tirar dúvidas pelo e-mail secretaria@abeoc.org.br.

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