A medicina é a grande escolhida para o futuro da nova geração na família de Dimitri Homar, 58 anos. Por influência dele, que é especialista em nutrologia, as três filhas ; Wanessa, 29; Weruska, 27; e Dimitria, 24 ; decidiram seguir a profissão. ;Eu tinha esse desejo de que elas estudassem medicina também. É uma área muito gratificante. Eu até brincava imaginando como seria trabalharmos todos juntos no mesmo consultório. Qual pai tem essa oportunidade?;, conta Dimitri. ;Ele sempre teve muita paixão pelo que faz e influenciou não somente minhas irmãs, mas muita gente na família. Meu pai nunca falou claramente que queria que nós fôssemos médicas, mas sabíamos que ele tinha esse desejo;, conta Dimitria, que concluiu a graduação em medicina este ano e trabalha parte do período no consultório do pai. Wanessa está concluindo a residência médica em nefrologia em São Paulo e Weruska terminou a pós-graduação em dermatologia e nutrologia.
Segundo pesquisa, Dimitri não está sozinho entre os que imaginam uma carreira para os filhos: estudo realizado pelo HSBC entrevistou 5.550 pessoas de 16 países e revelou que a maior parte dos pais tem em mente uma profissão específica para os filhos ; medicina é a carreira queridinha pelas famílias, com 19% da preferência. O desejo de ter filhos engenheiros também está presente: 11% afirmaram ter predileção pela área para o filho. Para o diretor do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), Marcos Tito, o desejo de que os filhos sigam carreiras tão tradicionais está alinhado aos valores de gerações antigas. ;Quando os mais jovens tiverem filhos, provavelmente vão querer que eles sigam as profissões que eles conhecem. Essas carreiras tradicionais estavam em alta na época dos pais. É normal que eles escolham essas áreas para tentar proteger e dar segurança. Mas os pais não podem se tornar anuladores dos sonhos dos filhos;, destaca.
Um dos valores que o especialista atribui à época dos pais é a busca pela estabilidade rápida no emprego. ;Esse é um valor das gerações mais antigas. Hoje em dia, as coisas acontecem muito mais rápido por conta da globalização, da internet. Há 30 anos, profissões relacionadas com empreendedorismo e criatividade, por exemplo, não eram tão cotadas. Existe uma febre em relação a alcançar independência, mas isso varia de acordo com o perfil de cada pessoa: alguns vão fazer isso por meio da segurança de um concurso público, e outros vão optar por desafios diferentes;, explica Tito.
Apesar de não estarem familiarizados com as novidades no mercado de trabalho, os pais acertam ao pensar em profissões que continuarão tendo espaço daqui alguns anos. ;Algumas carreiras estão em mercados que ainda estão em desenvolvimento e que podem não ter capacidade de abranger todos os profissionais graduados na área;, afirma o professor do núcleo de pesquisas Profuturo da Fundação Instituto Administração da Universidade de São Paulo (FIA/USP) Daniel Estima de Carvalho.
Busca por segurança
A preocupação com a estabilidade no emprego escolhido pelos filhos também parece tirar o sono dos pais brasileiros: o serviço público é bastante cotado entre as profissões desejadas pelos progenitores, com 10% da preferência dos entrevistados ; entre os demais países, a média é de 6%. A opção pela carreira como servidor público era o desejo dos pais de Jeremias Cesar Neto, 37 anos. Ele chegou a concluir o curso de graduação em direito como parte do caminho para prestar um concurso na área e seguir na carreira pública, conforme desejavam o pai e a mãe, mas, assim que se formou, decidiu estabelecer uma carreira numa área diferente. Atualmente, Jeremias é empresário e está à frente de dois restaurantes.
;Enquanto eu estava no curso de direito, meu pai comprou uma lanchonete. Comecei a ajudá-lo na administração e me identifiquei. Ele trabalhava como bancário e não queria de jeito nenhum que eu continuasse nessa área de comércio. A vontade dele era que eu concluísse a faculdade de direito e prestasse um concurso;, conta o empresário. Mesmo não seguindo a carreira desejada pela família, ele afirma que recebeu apoio para prosperar e está feliz. ;Já pensei em como seria a minha vida se eu tivesse continuado em direito. Acho até que me daria bem na carreira, mas não me arrependo da escolha que fiz.;
Outras conclusões
Os pais de todas as nacionalidades concordam em um ponto: a educação é o grande caminho para o sucesso. Para 89% dos entrevistados, um diploma de nível superior é essencial para ter uma vida próspera. Entre os brasileiros, 63% das famílias acham que fazer uma especialização é uma necessidade básica para alcançar o sucesso ; entre o total de entrevistados, o índice foi de 50%. No entanto, 58% dos entrevistados em todo o mundo consideram a universidade inacessível para a maioria da população.
Apesar de idealizarem uma carreira para os filhos, o principal plano que a maioria dos pais afirmou ter é que eles sejam felizes (64%). A pesquisa também revelou que a maioria dos pais espera que os cursos de graduação ensinem valores aos filhos. Entre as famílias brasileiras, 87% dos pais esperam que as universidades ensinem aos filhos como se tornarem independentes e financeiramente responsáveis.
"Carreiras tradicionais estavam em alta na época dos pais. É normal que eles escolham essas áreas para tentar proteger e dar segurança;
Marcos Tito, diretor do Instituto Brasileiro de Coaching
Negócio de família
Para aqueles que seguirão a carreira desejada pelos pais:
; Você deve desejar a carreira tanto quanto sua família.
; Analise o próprio perfil e leve em consideração se essa carreira aproveitará seus talentos e as atividades que você gosta de fazer.
; Nunca é tarde demais: se perceber que está infeliz na carreira que escolheu, reavalie e mude.
Para os que decidiram seguir uma carreira indesejada pelos pais:
; O melhor é conversar, apresenter motivos pelos quais você acha que será mais feliz nesta carreira do que em qualquer outra.
; A resistência pode ser desconhecimento. Se sua família entender o que você faz, pode ver a profissão de maneira diferente.
; Evite conflitos. Diferentes gerações tendem a ter perfis diferentes. O diálogo ainda é a melhor saída para pais e filhos.
Fonte: Marcos Tito, coaching e diretor do IBC, e Roberta Paiva, psicóloga especialista em orientação profissional
Três perguntas para
Roberta Paiva, psicóloga especializada em orientação profissional
Quais são as possíveis consequências de adiar a graduação desejada e investir na carreira que a família quer para evitar conflitos?
Não é aconselhável, apesar de muitos jovens terem feito isso. Porém, o que ocorre realmente é que eles buscam tardiamente a formação desejada. O grande problema é o dispêndio desnecessário de tempo e dinheiro, além da angústia diante da insatisfação com a graduação que não foi uma escolha própria.
Mesmo com o desejo de que o filho siga determinada carreira, qual deve ser o comportamento dos pais caso ele escolha uma área diferente?
Não é fácil para os pais. Porém, se isso ocorrer, eles devem apoiar a tendência profissional escolhida pelo filho. Essa decisão aponta as habilidades e talentos dele. Além disso, a postura colaborativa dos pais não arrisca a autonomia dos filhos. Tudo deve ser tratado com sensibilidade e bom senso.
Como alcançar a felicidade na escolha da carreira?
Esse momento é regado de dúvidas, angústias e sofrimento. Com a ajuda de questionários, entrevistas e testes com psicólogos a pessoa pode entender suas habilidades e economizar tempo e dinheiro.