Depois de abordar a importância da retenção de talentos, da inovação, de uma boa liderança e da administração do tempo para alcançar a eficiência e de detalhar os entraves que atrapalham o crescimento de empresas brasileiras ; e, consequentemente, atrasam a competitividade do país ;, na sexta e última reportagem, o Especial Produtividade aborda o tema educação ; um dos mais importantes, se não for o mais significativo de todos ; na busca pelo desenvolvimento de qualquer nação.
Renato da Fonseca, gerente executivo de Competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), observa que o baixo nível educacional da mão de obra brasileira atrasa o crescimento do país. ;Para crescer, são necessários cada vez mais trabalhadores, mas não adianta se eles chegam desqualificados. Quando o problema é do estado e o governo não resolve, as empresas precisam tentar solucionar, capacitando trabalhadores. Muitas pagam cursos em escolas técnicas e levam treinamentos para o local de trabalho. Mas são medidas paliativas;, avalia.
Apesar de não resolver o problema matriz, o investimento na educação prova impactar nos lucros das corporações. O estudo global Workforce 2020, feito pela SAP e pela Oxford Economics, analisou companhias de alto e baixo rendimento, entrevistou 2,7 mil executivos e constatou uma relação direta entre investimentos na força de trabalho e melhores resultados econômicos: mais da metade das instituições de alto desempenho oferecem treinamento para os colaboradores. Na pesquisa Managing Director, da Randstad Professionals ; multinacional holandesa especializada na seleção de profissionais de média e alta gerência ;, programas de formação também foram apontados por 88% das empresas como a melhor alternativa para resolver gargalos da produtividade.
Investimento
Atenta aos resultados que um quadro funcional qualificado proporciona, a direção do Laboratório Sabin montou uma universidade corporativa para treinar os empregados, a UniSabin. Há 5 anos no laboratório, Graziele da Silva Lima, 34 anos, atribuiu ao seu interesse pelos treinamentos uma promoção. ;Participei de mais de 20 cursos sobre temas como excelência no atendimento, profissionais de alto desempenho, etiqueta corporativa e sistema integrado de gestão e acabo de ser promovida a analista;, comemora a graduada em recursos humanos. ;No mundo inteiro, quanto maior a qualificação, maior o ganho salarial e maior o nível de produtividade para as empresas;, afirma Luiz Teixeira, diretor do Ibmec-DF. Sabendo disso, Eric Abreu, 25, emendou a graduação em administração num MBA em gestão de projetos. ;Quanto mais a pessoa estuda, mais amplia horizontes. Não quero parar de estudar nunca e pretendo fazer mestrado e doutorado;, diz o consultor de RH da Capgemini.
Renato da Fonseca, diretor executivo de Competitividade da CNI, critica o sistema educacional do país, que não direciona os estudantes para o mundo do trabalho. ;O ensino básico é deficiente, e as pessoas não aprendem nenhuma profissão no processo. O problema é que apenas 18% dos estudantes chegam à universidade ; os outros 82% precisarão trabalhar. Mas trabalhar em que, se não aprenderam nada? Com um pouco de português e um pouco de matemática, não se forma um profissional;, assegura.
Pós-graduação para suprir lacunas
;No Brasil, tem muita gente fazendo pós-graduação. Mas isso não é uma maravilha. As pessoas procuram especializações porque não aprenderam o básico nem no ensino médio nem no ensino superior. É uma forma de tentar compensar;, examina o diretor executivo de Competitividade da CNI, Renato da Fonseca. Devido à baixa qualificação que empresas e indústrias encontram nos profissionais ; mesmo os com nível superior ;, ser pós-graduado tem se tornado exigência para ocupar diversas vagas de emprego. Quando não é pré-requisito, o grau ajuda a destacar trabalhadores em seleções e oportunidades de crescimento.
É o que explica o professor do Institut of Businesss Education ; Fundação Getulio Vargas (IBE-FGV), Júlio César Nogueira de Sá, especialista em gestão de RH e marketing. ;O fato de a pessoa querer se renovar representa um ponto a mais com relação a quem parou de estudar. O profissional mais bem qualificado, que está se preparando e antenado, corre menos riscos numa eventual crise ou corte de gastos. Afinal, graduação é a 8; série de antigamente;, compara.
Henrique Lopes Pereira, 29 anos, sabe da importância de se capacitar. Ele estudou em escola pública, graduou-se em administração em 2011 e ingressou num MBA em Business Process Management no início deste ano. ;Nas aulas, sempre vejo inovações do mercado e técnicas para aplicar. O fato de eu estar fazendo a pós é visto com bons olhos na empresa;, revela o consultor de processos da TOTVS. ;Com o MBA, sano um pouco das lacunas da graduação e do ensino médio. A escola não deveria ser só para aprender português e matemática, mas coisas que vão agregar valor para a vida;, diz.
;A educação brasileira não mostra o por- quê das coisas, então, os estudantes não vêem a utilidade de aprender, por exemplo, equação de segundo grau ou porcentagem. O profissional mediano não sabe tomar decisões nem aplicar o que aprende;, descreve o diretor do Ibmec-DF, Luiz Teixeira. Apesar da nova função atribuída ao quarto grau, ele acredita que nenhuma pós-graduação consegue complementar a lacuna da educação. ;O objetivo é aprimorar determinada habilidade. Não dá para sanar a deficiência de 12 anos de ensino em 400 horas de aula;, explica.
Palavra de especialista
A melhor saída
A qualificação faz diferença para alcançar maior produtividade. No cenário ideal, a empresa só teria que focar na capacitação relacionada à especialidade dela. Mas essa não é a realidade ; há deficiências deixadas pelo ensino básico. A companhia que deseja resultados tem que investir em capacitação, e o profissional que quer melhores empregos também deve apostar nisso. Com ou sem crise, a saída é a educação.
Rogério Gabriel, fundador e presidente do grupo Prepara, presente em mais de 400 cidades do país