Trabalho e Formacao

O receio de envelhecer

Segundo pesquisa, parte dos brasileiros têm medo de que o envelhecimento traga problemas financeiros, dificulte a recolocação no mercado de trabalho ou os torne improdutivos. Por outro lado, menos da metade se preocupa em planejar a aposentadoria

Paula Braga
postado em 13/09/2015 13:38

Como você encara o envelhecimento?

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Ao contrário do que diz o ditado popular, para a maioria dos brasileiros, a idade parece ser documento, sim. Segundo pesquisa sobre como as pessoas encaram o avanço dos anos, realizada com 989 entrevistados, na faixa etária de 18 a 61 anos, 90% dos brasileiros têm receio de envelhecer. Ter problemas de saúde, apresentar limitações físicas e não ser capaz de se lembrar das coisas como antes são os principais temores em relação ao envelhecimento, mas o medo dos cabelos brancos também está refletido na vida profissional: as preocupações financeiras ocupam o quinto lugar entre os mais temidos problemas trazidos com a idade, seguidas pela sensação de ter menos energia ou estar improdutivo.

O estagiário Ricardo já começou a poupar:

;Quando o marco da idade da aposentadoria foi definido, a expectativa de vida era de 45 anos. Para a realidade da época, com 60 ou 65 anos, o indivíduo já estava no fim da vida. Atualmente, as pessoas são ativas por muito mais tempo;, destaca a geriatra e coordenadora executiva do Centro Internacional de Informação para o Envelhecimento Saudável (Cies), Andréa Prates. Apesar das percepções pouco otimistas dos entrevistados pela pesquisa, a idade já chegou para parte da população brasileira ; segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem aproximadamente 15 milhões de idosos (pessoas com 65 anos ou mais), sendo que 4,5 milhões continuam no mercado de trabalho. ;Acredito que parte do receio de envelhecer poderia ser diminuído se as pessoas fizessem, desde jovens, um planejamento de vida, da aposentadoria;, completa a geriatra.

A maioria dos entrevistados pela pesquisa parece concordar com a especialista: para 70% das pessoas, é necessário planejamento para chegar bem à terceira idade. Mesmo assim, apenas 45% afirmaram que poupam dinheiro para este momento. O estudante Ricardo Pessinato, 22 anos, dá exemplo para aqueles que desejam ter uma boa aposentadoria. Desde 2000, os pais dele investem em uma previdência privada para garantir alguma renda para o futuro. Além disso, ele também guarda parte da bolsa que recebe como estagiário no setor de informática de um órgão público numa poupança. ;É um fundo de segurança para quando ficar mais velho. A previdência é para garantir uma renda depois da aposentadoria. A poupança. eu guardo para um futuro mais próximo, para um intercâmbio ou para dar entrada em um imóvel, por exemplo;, destaca.

"A previdência é para garantir uma renda depois da aposentadoria;
Ricardo Pessinato, estudante

Segundo pesquisa, parte dos brasileiros têm medo de que o envelhecimento traga problemas financeiros, dificulte a recolocação no mercado de trabalho ou os torne improdutivos. Por outro lado, menos da metade se preocupa em planejar a aposentadoria

A saga de quem busca uma segunda chance

Segundo pesquisa, parte dos brasileiros têm medo de que o envelhecimento traga problemas financeiros, dificulte a recolocação no mercado de trabalho ou os torne improdutivos. Por outro lado, menos da metade se preocupa em planejar a aposentadoria

A cuidadora social Rosa Maria de Oliveira, 48 anos, quer voltar para o mercado de trabalho. Ela foi demitida do último emprego no ano passado e, desde janeiro, comparece às agências do trabalhador procurando uma nova vaga. ;Estou buscando em todas as áreas, mas, para alguns cargos, acredito que ser mais jovem faz bastante diferença. Fui a uma entrevista e o empregador perguntou direto quantos anos eu tinha. Eu acho que, em algumas funções, as empresas estão procurando pessoas mais jovens;, afirma Rosa.

A situação pela qual Rosa passa é temida por grande parte das pessoas: 37% dos entrevistados pela pesquisa afirmaram que, por conta da idade, temem não serem capazes de conseguir um novo emprego caso percam o atual.

Segundo pesquisa, parte dos brasileiros têm medo de que o envelhecimento traga problemas financeiros, dificulte a recolocação no mercado de trabalho ou os torne improdutivos. Por outro lado, menos da metade se preocupa em planejar a aposentadoria

Para o conselheiro profissional e especialista em recolocação no mercado de trabalho José Augusto Minarelli, a idade é um atributo que, em algumas situações, pode ser considerada positivo e, em outras, será um empecilho para a contratação. ;De modo geral, na medida em que as pessoas vão envelhecendo e somando tempo de carreira, elas vão subindo dentro das organizações. Quem está acima dos 40 e precisa transitar no mercado de trabalho deve dirigir a atenção para as empresas que buscam vasta experiência profissional, em que a idade do indivíduo será mérito. Em cargos que buscam pessoas mais jovens, esse profissional será menos atraente;, explica.


Além disso, ele destaca que existem outras opções além dos empregos em empresas para aqueles que desejam retornar ao mercado de trabalho após determinada idade. ;O que muitas pessoas mais velhas não veem é que, fora das organizações, existem vários mercados, com a necessidade de prestação de serviços. Elas podem continuar tendo uma renda iniciando um empreendimento próprio, por exemplo.;


"Fui a uma entrevista e o empregador perguntou direto quantos anos eu tinha. Eu acho que, em algumas funções, as empresas estão procurando pessoas mais jovens
Rosa Maria, desempregada

Palavra de especialista


Profissional mais velho

Uma pessoa que está com 40 anos não está mais no fim de carreira. Atualmente, existe no mercado a figura do profissional sênior, que é um profissional com ampla bagagem de conhecimento. Em algumas instituições, há funcionários com mais de 30 anos de casa que são fundamentais para passar aos mais jovens a cultura e os valores da empresa. Apesar da experiência, assim como os mais jovens, o profissional sênior deve estar antenado com as tendências para ter diferencial no mercado de trabalho.

Patrícia Pessoa Pousa, professora da IBE-FGV e especialista em gestão de pessoas

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