Trabalho e Formacao

Empreender com responsabilidade

O empreendedorismo social é uma forma de negócio sustentável e, ainda por cima, necessária. O Brasil engatinha no setor, mas a criatividade da economia solidária não deixa a desejar em relação aos negócios tradicionais

postado em 28/09/2015 10:37

Vertente de empresas que buscam soluções para problemas sociais e ambientais, os negócios sociais ganham cada vez mais adeptos ; especialmente entre jovens. Exemplos de negócios sociais são as bicicletas laranjas do Itaú, espalhadas por diversos pontos da cidade e que visam diminuir o trânsito e a poluição; o Instituto Chapada, que busca melhorar a qualidade da educação pública, oferecendo apoio à formação continuada de professores; e o projeto Catarse, que fornece financiamento coletivo para projetos que precisam de recursos.


Em escala global, grandes amostras de empreendedorismo social são a Asembis, que presta serviços médicos na Costa Rica, por meio de centros equipados com alta tecnologia, preço justo e atendimento qualificado, e a Bridges International Academies, do Quênia, que oferece educação a um preço acessível. O empreendedorismo social e a economia solidária são muito similares. A diferença entre os dois termos está na forma de distribuição da renda ; que é feita igualmente, na economia solidária, e pelo critério do presidente de empresa, no caso empreendedorismo social.


O projeto Brasil 27, iniciativa que mapeou os negócios sociais no Brasil, em parceria com o Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da Universidade de São Paulo (Ceats/USP), contabilizou 1,1 mil empreendimentos do tipo espalhados pelo país e constatou que o Distrito Federal conta com sete exemplos.

Solidariedade essencial

Edson Marques Oliveira, 51 anos, doutor em serviço social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e autor do livro Empreendedorismo social: da teoria à prática, do sonho à realidade, acredita que vivemos uma época em que a economia solidária é essencial. ;Hoje, os negócios sociais geram redes de trabalho e também sustentabilidade. A pretensão é revolucionar o capitalismo;, explica. Para o pesquisador, o Brasil investe de forma ainda pouco expressiva no segmento. ;Aqui, o empreendedorismo social ainda está muito apagado, mas temos potencial. Há um investimento muito grande no exterior. Aqui, falta estímulo das escolas para os jovens se engajarem;, percebe. ;Querer fazer do mundo um lugar melhor é um ganho inestimável. À medida que isso é estimulado, você traz um equilíbrio importante para a vida em sociedade;, defende.

;Os brasileiros são criativos e envolvidos, e há muitos bons projetos em curso. O problema é que a demanda atual de negócios sociais exige mais recursos do que temos e não conseguimos acompanhar;, opina César Froes, 68, autor do livro Empreendedorismo social: a transição para uma sociedade sustentável e mestre em administração pública e governo pela Fundação Getulio Vargas. Para ele, a vertente é da maior importância. ;O objetivo é promover a transformação da realidade social, tentando fazer uma mudança com a participação da sociedade. Quando um empreendedor social cria um projeto, ele procura beneficiar o maior número de pessoas possível e atender a uma demanda da comunidade. O lucro não é apenas financeiro. O retorno é medido de acordo com a qualidade de vida dos beneficiários, do progresso material, social e psicológico das pessoas envolvidas;, afirma.


Conheça jovens que estão fazendo a diferença com negócios sociais

 (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)

Cooperação pelo design

Thiago Lucas, 29 anos, e Bruno Antunes, 25, estão à frente da Baru Design, empresa produtora de móveis a partir de madeira de demolição em parceria com a cooperativa Sonho de Liberdade, da Cidade Estrutural, que conta com mão de obra de ex-presidiários. ;Tudo começou com meu trabalho de conclusão de curso. Durante a pesquisa, me falaram de uma cooperativa que estava trabalhando exclusivamente com madeiras de demolição. Entrei em contato com o presidente, Fernando de Figueiredo, e conversamos sobre uma parceria. A Baru acabou se tornando um projeto de vida;, conta Thiago.
O lucro é dividido meio a meio entre os jovens e a cooperativa. ;As pessoas se interessam muito e dão valor ao móvel por ser sustentável e trabalhar com economia solidária;, explica Bruno. ;Não consigo acreditar mais num sistema em que o lucro é exclusivamente dos proprietários. Esse tipo de relação, na qual mais de uma pessoa é beneficiada, tem que se espalhar;, diz Thiago.

 (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)


Sonho realizado

Mestre em economia pela Universidade de Georgetown (EUA), o português Miguel Queimado, 32 anos, é CEO da DreamShaper, que atua em várias cidades, incluindo Brasília. Ele foi executivo na empresa de consultoria McKinsey e CEO do Groupon, mas largou o último emprego para se dedicar ao projeto. Miguel desenvolveu uma aplicação que ajuda pessoas a elaborarem planos de negócios. ;Com perguntas práticas, a gente consegue encaminhar jovens sonhadores para uma ideia viável;, diz.


São aceitos projetos de qualquer tipo, desde um trabalho de ecologia até a montagem de uma empresa. Apesar de ter objetivos louváveis, a empresa não é isenta de lucro. ;Empreender de maneira responsável não é apenas jogar dinheiro fora pela ética e para ser bem-visto. O negócio gera renda e ainda busca eliminar mazelas sociais.; A decisão de trabalhar com empreendedorismo social veio da experiência de Miguel com o voluntariado na ONG Acredita Portugal. Acesse: dreamshaper.com.

 (Arquivo Pessoal)


Estudantes inspirados

Aspirante a empreendedor social, o estudante de análise de desenvolvimento de sistemas do Centro Universitário Iesb Matheus Freitas, 20 anos, está finalizando um aplicativo para viabilizar a reciclagem de lixo. ;A ideia é ligar, por meio do aplicativo, catadores de rua, cooperativas e empresas que reciclam com quem produz o lixo. Proporcionaremos a quem entrega o material para reciclagem a certeza de que o resíduo será processado da maneira correta. Se der certo, vai ajudar muitas pessoas, gerar trabalho e acabar com o problema do lixão;, espera o jovem, que conta com a ajuda do colega Victor Assis, 21, para colocar o projeto em prática.


O aplicativo está sendo desenvolvido com recursos dos envolvidos. A expectativa de Matheus é abrir uma empresa. ;Acho que as pessoas pensam muito no dinheiro e se esquecem de que o que realmente importa é ajudar os outros;, reflete. O lucro do projeto viria de uma pequena taxa a ser cobrada das empresas.

Manual para abrir um negócio social


O professor Gabriel Cardoso escreveu um guia prático para quem quer empreender socialmente (André Violatti/Esp.CB/D.A. Press)

O professor Gabriel Cardoso escreveu um guia prático para quem quer empreender socialmente



Para os que desejam se aventurar pelo ramo, o administrador Gabriel Cardoso, 35 anos, pós-graduado em gestão de projetos e professor de empreendedorismo no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), escreveu Mude, você, o mundo: manual do empreendedorismo social (Lura Editorial; 128 páginas; R$ 24,90 ou R$ 9,40 na versão digital). De acordo com o docente, qualquer um que vê um problema na sociedade e procura resolvê-lo é considerado um empreendedor social. ;Existem equívocos sobre o que o capitalismo pode trazer de bom. Agora, vemos uma nova geração de empresários e empreendedores que buscam não somente o lucro, mas também resolver problemas sociais.; Um exemplo que Gabriel cita desse novo tipo de empreendedorismo é a empresa americana de calçados Toms, criada em 2006, que, a cada par de sapatos vendido, doa outro para uma criança descalça em alguma parte do mundo.


;Meu livro é destinado a jovens. Ele foi feito em forma de guia para proporcionar uma leitura fácil e intuitiva. Não é um texto acadêmico e tem um viés prático para que as pessoas partam para a ação;, afirma. Para o professor, o segmento ainda é recente no Brasil. ;Estamos bem no começo aqui e não é discutido em termos de políticas públicas. Em Brasília, o ramo é pouco explorado. Quanto mais for difundido, melhor para a sociedade.; Gabriel empreende desde os 17 anos, atualmente é sócio-administrador da empresa Produção Criativa Consultoria e Capacitação em Eventos e resolveu se envolver com empreendedorismo social ao perceber que é possível lucrar e, ainda assim, ajudar o mundo. O negócio social em que o autor trabalha atualmente é a distribuição de conhecimento adquirido, por alunos da UDF, com ensino e pesquisa para as comunidades do Distrito Federal e região.

Oportunidade

O Prime Cursos oferece, na modalidade a distância, um curso gratuito de empreendedorismo social. Para se inscrever, basta acessar ao link www.primecursos.com.br/empreendedorismo-social.

Os 10 passos de um negócio social

1- Entenda o que é
Você precisa aprender o que são e como funcionam os negócios sociais.

2- Competências necessárias
Visão de futuro, engajamento e empatia são características essenciais.

3- Problemas para solucionar
Identifique as dificuldades que encontrará, para não se deparar com nenhuma surpresa.

4- Ideias e soluções
Elabore um projeto. É preciso que seja a solução para um problema.

5- Plano de negócio social

Trace um plano estratégico. Faça pesquisa de mercado e desenvolva um.

6- Comunicando com eficácia
Para que as pessoas se interessem pelo projeto, saiba vender e contar uma boa história.

7- Abrindo a empresa
Selecione pessoas e pesquise como o governo e entidades podem te ajudar.

8- Hora de administrar
Busque melhorar todos os aspectos da empresa e conquiste os primeiros clientes.

9- Turbulências e oportunidades
Fique atento a possíveis problemas e a janelas abertas para bons negócios.

10- Mãos à obra
Não adianta se preparar e não aplicar. Então, coloque a mão na massa.

Fonte: Livro Mude, você,
o mundo: manual do empreendedorismo social

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