Para contornar as dificuldades de aprender outra língua, atividades como assistir a filmes sem legendas e escutar novas músicas são comumente utilizadas nas aulas tradicionais. Entretanto, em um mundo com distâncias cada vez menores, a oportunidade de interagir com nativos de outras línguas tem se tornado uma oportunidade viável para diversos estudantes.
É graças à tecnologia que alunos do ensino médio do Serviço Social da Indústria (Sesi) estão vivendo a experiência de um intercâmbio cultural diferente. Dividido em três etapas, o programa Conexão Mundo possibilita o aprendizado em contato direto com americanos. ;A interação com novos amigos, a mistura de culturas e as brincadeiras que fazem parte do intercâmbio tornam o aprendizado mais divertido;, explica Anna Victória Ronska, 15 anos, aluna do 2; ano. ;O programa é bom porque é totalmente dinâmico e cultural;, afirma.
As fases do programa
Os interessados devem realizar uma prova de proficiência em inglês, e os aprovados são divididos em turmas. Plataformas on-line como Facebook, hangouts do Google e Top Notch (programa para exercitar a gramática) são usadas durante dois meses na primeira etapa do projeto. Em seguida, professores americanos viajam para o Brasil para encontrar os estudantes brasileiros. Realizada em período em férias no Brasil, a segunda etapa promove o contato presencial de couches com os alunos. ;Foi muito bom conhecer meus alunos pessoalmente. Não são só eles que aprendem, nós também;, compartilha Chelsea Raubenheimer, 24, professora voluntária de inglês nos EUA e couch do programa Conexão Mundo.
No Distrito Federal, 104 alunos deixaram o descanso de lado durante o mês de julho, para viver essa experiência. Este é o segundo ano em que o programa é realizado em Brasília. ;Os estudantes estão mais empolgados desta vez, porque viram outros colegas participando. Muitos que não quiseram na primeira vez demonstraram interesse, e alguns que não tinham sido selecionados no ano passado tentaram de novo e estão participando agora;, explica Atos Henrique Reis, coordenador do Sesi-DF.
Ao término das férias, os americanos voltam para casa, e a terceira etapa começa. Semelhante à primeira, mas com maior intimidade com os professores, os alunos voltam às plataformas digitais por um bimestre. Durante os cinco meses que integram o programa, os participantes são avaliados por participação e provas, e quem se destacam viaja durante duas semanas para os Estados Unidos em uma experiência de imersão em inglês.
O início
O programa é uma iniciativa do Sesi em parceria com a ONG americana US-Brazil Connect. A ideia nasceu de uma conversa entre Sérgio Moreira, diretor adjunto de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), e Mary Gershwin, presidente da US-Brazil Connect. ;O mais importante do programa é a conexão pessoal. Aprendi português com 17 anos, e conhecer o Brasil mudou a minha vida;, compartilha Mary.
O então ministro da Educação Renato Janine Ribeiro visitou o Sesi para conhecer o programa e aprova a iniciativa, pois mostra o caráter vivo da língua. ;Ele proporciona o conhecimento de uma forma alegre e rica. Os participantes criam vínculos com pessoas de outros países, e isso é muito positivo;, afirma. Mais de 2 mil alunos em todo o Brasil estão participando do Conexão Mundo este ano em contato com 200 professores americanos. O coordenador do Sesi-DF, Atos Henrique Reis, explica que ainda não há previsão de quantos alunos participarão do projeto em 2016, mas a tendência é de que o número aumente.
Defasagem e desânimo em escolas públicas
Pesquisa do British Council que entrevistou 1.269 professores revelou que o ensino de inglês é prejudicado na rede pública de ensino pela defasagem tecnológica, pela sobrecarga didática e pela falta de interesse dos alunos no idioma. O reflexo dessa série de entraves são aulas com conteúdos rudimentares, já que 42% dos entrevistados entendem que livros são muito avançados para o nível dos estudantes e precisam utilizar outros recursos didáticos, como músicas em inglês. No entanto, apenas 15% das escolas têm aparelhos eletrônicos para as atividades. Para tentar reverter a situação, 61% dos docentes levam aparelhos e outros recursos tecnológicos próprios para as aulas. A pesquisa também revelou que mais da metade dos alunos (55%) não têm oportunidade de colocar a língua inglesa em prática, o que dificulta o processo de aprendizagem.
Para Nina Coutinho, diretora de Inglês do British Council, os resultados refletem a realidade das escolas públicas no país, especialmente pela falta de obrigatoriedade para lecionar o idioma. ;A pesquisa sobre a educação básica que concluímos agora reforça conclusões a respeito da insuficiência do treinamento no idioma oferecido aos brasileiros que contam com a escola pública para aprender a língua;, revela Nina. A diretora também aponta a necessidade de investimento nos educadores. ;Os professores de inglês são impactados pela falta de oportunidade de praticar o idioma que ensinam e eles reconhecem ter dificuldades com a língua inglesa. Um investimento no preparo desses profissionais, proporcionando a eles a oportunidade de praticar a língua e conhecimento de aspectos pedagógicos, os motivaria mais.;