Uma suspeita de fraude no vestibular da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) pode ter repercussões no Distrito Federal. Quatro universitários de medicina da instituição foram presos, suspeitos de burlar o último processo seletivo da universidade, em 7 de novembro. A operação, batizada como Gabarito, foi deflagrada na manhã de ontem em Goiânia. Os jovens têm entre 19 e 23 anos e estavam em casa no momento da abordagem. A Polícia Federal também apura a participação dos estudantes em processos seletivos de instituições em Brasília e Ouro Preto (MG), além das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2014. O delegado regional de combate ao crime organizado da Polícia Federal, Jocenildo Cavalcante de Carvalho, explicou que o grupo agia para ter acesso ao conteúdo das provas. Ainda falta identificar os beneficiários e outras pessoas que faziam parte da organização criminosa.
Equipes de investigação também cumpriram mandados de busca e apreensão na residência dos suspeitos para recolherem materiais e provas do esquema criminoso. Ainda não se sabe quanto eles recebiam para participar do esquema. Os envolvidos são alunos regulares do curso de medicina e se inscreviam para participar do certame com o próprio nome. Eles faziam as provas e saíam rapidamente para passar o conteúdo a outros membros da organização que transmitiam os dados aos beneficiados.
No último vestibular da PUC-GO, os estudantes fizeram a avaliação como candidatos para os cursos de administração e zootecnia. ;Durante o vestibular a equipe de fiscalização da PUC-GO identificou comportamento estranho de um deles que levou o recorte da prova. A partir do levantamento da universidade, identificamos que, além do candidato, havia outros alunos de medicina tendo esse mesmo tipo de atitude;, contou o delegado.
Segundo o delegado, os envolvidos também participaram do Enem em 2014, mas não há como afirmar suspeita de fraude do processo nacional. Os presos foram encaminhados para a Superintendência da Polícia Federal de Goiás ,para depoimento. ;Eles precisavam fazer as provas para ter acesso ao conteúdo, mas ficavam na sala durante o período mínimo necessário para poder sair e repassar as questões para outras pessoas que faziam as transmissões;, ressaltou.
A PF trabalha, agora, para identificar os beneficiários e as outras pessoas que faziam parte das fraudes. ;Não há nenhum indício de funcionários das instituições envolvidos;, afirmou.
Os suspeitos vão responder por associação criminosa e fraude em processo seletivo de interesse público, com dano à administração. Se condenados, podem pegar até oito anos de reclusão e ser penalizado com multa.
Segundo a vice-reitora da PUC-GO, Olga Ronchi, os quatro estudantes podem ser desclassificados, conforme previsto no edital. Como alunos de medicina, também podem ser penalizados. ;Se ficar comprovada a participação deles na associação para fraude, os envolvidos, serão enquadrados no regimento geral da universidade, além de poderem responder por medidas disciplinares e administrativas. Mas vamos aguardar, primeiro, a confirmação dos depoimentos;, explicou.
A professora afirma que a instituição detectou as suspeitas ainda durante o certame. ;Imediatamente a universidade nomeou equipe que fez o cruzamento de dados com uso de tecnologias da informação e chegamos a indícios de que havia um grupo se associando para tentar fraudar o processo em curso;, alegou.
Em nota, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disse não ter conhecimento de fraude envolvendo o Enem. O órgão esclareceu que participou do processo de preparação, implantação e realização do certame em parceria com a PF. ;Os envolvidos em qualquer tentativa de irregularidade no Enem serão eliminados do exame a qualquer tempo, conforme prevê o edital;, informou a nota.