Natural de Tangará (SC), ele teve um começo humilde e batia marreta para ajudar o pai a produzir máquinas agrícolas. Hoje, Raul Randon, 86 anos, é presidente do conselho de administração e cofundador das empresas Randon, conglomerado brasileiro que reúne fabricantes de autopeças, implementos rodoviários, veículos e consórcios. Desde o início da carreira, ele é sinônimo de dedicação: até dispensou a lua de mel com a esposa, Nilva, em 1956, porque precisava trabalhar.
Em 1989, seu irmão Hercílio, com quem abriu a empresa, faleceu. As empresas Randon foram pioneiras no segmento automobilístico e, hoje, a marca está entre as maiores empresas privadas brasileiras, chegando a ser referência global e a atender mais de 100 países. A firma conta com 9.170 funcionários e, nos nove primeiros meses de 2015, teve um faturamento de
R$ 2,3 bilhões.
Apesar de ter deixado o controle do negócio, há cerca de seis anos, para os filhos David, que hoje preside o grupo, Roseli, Alexandre, Maurien e Daniel, Raul não ficou parado ; além de comandar o conselho de administração das empresas, planta maçãs, produz leite, queijos e vinhos em uma fazenda em Vacaria, no Rio Grande do Sul.
Para reconhecer o histórico de liderança de Raul, no meio empresarial, o Grupo de Líderes Empresariais (Lide) concedeu a ele o título de empreendedor da década no Prêmio Lide de Empreendedorismo. Ele foi homenageado durante o 6; Fórum de Empreendedores, no Hotel Senac em Campos do Jordão (SP), em 14 de novembro.
Em entrevista exclusiva ao Correio, o empresário falou sobre o início das empresas Randon, abordou ainda empreendedorismo, crise econômica e deu dicas para quem quer abrir uma empresa. Confira:
Antecessores
Apesar de o prêmio de empreendedorismo do Grupo de Líderes Empresariais existir desde 2010, o título de empreendedor da década só começou a ser usado em 2013. Na ocasião, o vencedor foi Alair Martins, do Grupo Martins, líder do segmento atacadista-distribuidor brasileiro. Em 2014, o homenageado foi Eloi D;ávila, da Flytour, empresa de serviços de viagem.
Como foi investir em um mercado que quase não tinha espaço na época de abertura?
Em 1949, aos 19 anos, depois de servir ao Exército, comecei a trabalhar com meu irmão Hercílio Randon, o Nino, na pequena oficina de reforma de motores que ele havia montado um ano antes, aproveitando parte do pavilhão da oficina de nosso pai. Eu cuidava da parte comercial, e meu irmão da parte técnica, de criação de produto. Essa foi a origem de tudo que temos hoje. Não foi fácil, mas, desde então, fomos crescendo de acordo com o mercado e a economia brasileira.
Quais foram os maiores desafios encontrados na hora de empreender?
Posso dizer que as dificuldades não foram poucas. A Randon se expandiu aceleradamente na década de 1970, mas o início dos anos 1980 foi um período de recessão mundial, e o Brasil sofreu fortemente a crise do petróleo. Em 1982, com queda nas vendas, crédito escasso e juros altos, passamos por uma forte turbulência. Essa foi a maior dificuldade. Tenho convicção de que os desafios, assim como vem, vão embora. Basta trabalhar bastante e de forma correta, que os resultados aparecem.
Existe algum método que ajude a alcançar o êxito empresarial?
Acreditar no negócio e nas pessoas. Para mim, esse é o segredo do sucesso. Cercar-se de bons profissionais e parceiros também é fundamental.
Com a crise econômica, você acha que este é um bom momento para empreender?
Sempre é bom investir, basta ter uma boa ideia. Oportunidades não faltam. É necessário se planejar bem, ter conhecimento do mercado e dos concorrentes, para não cair em armadilhas.
Como a recessão abala empresas atuantes no mercado? Há meios de driblar as dificuldades econômicas?
As crises afetam tudo, causam dificuldades, tiram empregos, mas temos que ter a consciência de que nenhuma delas é eterna. O que não podemos fazer é ficar parados, de braços cruzados. Precisamos estar preparados para quando o mercado reagir. Aí é que entra o papel da boa administração.
O que é preciso para se tornar um bom empresário?
Trabalhar bem, gostar do que faz e acreditar nas pessoas. Máquinas e equipamentos é possível comprar. Pessoas a gente prepara, e são elas que fazem a diferença.
Quais dicas o senhor poderia dar a jovens empresários?
Aconselho que eles acreditem no nosso Brasil e trabalhem muito. Foi isso que me fez enfrentar todas as dificuldades. Hoje, os tempos são outros, fabrica-se de tudo, mas, para manter-se em alta, é preciso fazer um bom planejamento, de médio e longo prazo, estudar bem o cenário e a concorrência. É necessário estabelecer metas e não se contentar em fazer tudo sempre igual, mas sim, aperfeiçoar o que se faz. Tenha ousadia, mas a partir de dados mercado.
Como o senhor se sente com o título de empreendedor da década?
Feliz e preocupado porque, cada vez mais, terei que trabalhar mais e melhor para corresponder a reconhecimentos como este.
"Acreditar no negócio e nas pessoas. Para mim, esse é o segredo do sucesso;