Pense na seguinte situação: durante três dias, seu chefe apontou erros seus em voz alta, e os colegas ouviram. Logicamente, isso causou constrangimento. Você pode continuar reprovando silenciosamente as atitudes do gestor ou conversar com ele sobre o ocorrido usando a inteligência emocional ; capacidade de lidar com sentimentos, principalmente em momentos de tensão. Para Raphael Costa, diretor do Instituto Brasileiro Master Coach, as emoções têm relação com a energia pessoal. Segundo ele, trata-se de uma força que nasce com cada um. ;Ela te fez aprender a andar quando era criança, a fazer amigos. A energia é a motivação, mas, se você não controla as emoções, perde a energia, e os sentimentos passam a controlar você;, decreta.
No ambiente profissional, gerenciar emoções é importante para uma boa convivência. É o que defende a psicóloga Marília Pereira, especializada na Teoria da Inteligência Multifocal, proposta pelo psiquiatra Augusto Cury. A profissional explica como educar as emoções: ;Um dos primeiros passos é a consciência de corresponsabilização. O ideal não é apontar os erros alheios, mas fazer parte do problema;. O segundo passo é valorizar o sentimento das pessoas. ;É preciso ter empatia.; O caminho é reiterado pelo master coach Magno Sipaúba, diretor do Centro de Excelência para o Desenvolvimento Humano e Empresarial. Segundo ele, o mais importante é desenvolver a sabedoria por meio da liderança pessoal e do prazer nas pequenas coisas. ;Um bom líder nunca anda só, tem capacidade de ouvir os outros e de tirar os óculos dele e colocar os seus;, diz.
Pequenas mudanças de atitude, como a adoção do otimismo, podem fazer a diferença e dotar o indivíduo de inteligência emocional. ;É preciso trabalhar as emoções. Ao lidar com pessoas consideradas difíceis, é necessário buscar um canal de comunicação. Evitar críticas em público e não resumir as relações nos erros é outra dica. Agradeça pequenos gestos e valorize seus companheiros;, recomenda Bruno Oliveira, presidente e coach do Grupo Educacional Augusto Cury.
Não se reprima!
Entre os sentimentos básicos, estão alegria, afeto, tristeza, raiva e medo. Os três últimos são vistos como problemas de conduta no trabalho. No entanto, para a psicóloga Marília Pereira, podem ser construtivos. ;É necessário ter raiva, para gerar superação, defesa ou agressão. A agressividade é o combustível para a motivação;, exemplifica. Essas emoções, segundo ela, se tornam disfuncionais quando são suprimidas. A omissão origina novos mecanismos: explosões de fúria ou irritabilidade. ;Ao adotar essas válvulas de escape, o profissional passa a condicionar os sentimentos. Todas as situações desfavoráveis serão analisadas de maneira não construtiva;, explica.
Graduada em direito há dois anos, Gabriela Chaves trabalha em um escritório de advocacia. Na profissão dela , muito esforço culmina em vitória ou condenação. A perda de um caso pode ser dramática. ;O sentimento é de frustração quando você se dedica tanto e, no fim das contas, não consegue abraçar tudo;, diz. A jovem apresenta comportamento considerado equilibrado na firma, mas, em casa, a situação muda de figura. ;Desconto em quem mais me ama: minha mãe e irmãs;, confessa Gabriela. Apesar de se considerar calma, Gabriela não acha que tem inteligência emocional. ;Ser tranquilo não basta. Seria necessário que eu desenvolvesse e controlasse todos os tipos de emoções.;
Buscando saídas
Para aprender a lidar com a rotina agitada, o empresário do ramo de construção civil em Ribeirão Preto (SP) Marcel Aparecido Prado dos Santos, 27 anos, iniciou um treinamento de liderança emocional no curso Personal & Professional Coach, oferecido pela empresa Menthes. Ele se considerava racional e negava as próprias emoções. O reflexo disso era o excesso de autoconfiança. ;Faltava capacidade de reconhecer e valorizar minhas vulnerabilidades, não apenas minhas forças;, percebe. ;Não enxergava o outro de maneira adequada. O problema de não prestar atenção a colegas e chefes é perder a oportunidade de aprender com eles;, afirma. O empreendedor se deu conta da necessidade de procurar ajuda após observar alterações na saúde.;Sentia dor de cabeça, insônia e ansiedade. Estava sempre inquieto, fui diagnosticado com a Síndrome do Pensamento Acelerado, cuja origem está no excesso de informações.;
A sobrecarga de informações não afeta apenas Marcel. O problema é uma das principais causas de desgaste, de acordo com Bruno Oliveira, presidente e coach do Grupo Educacional Augusto Cury. Outro fator problemático é a rapidez do cotidiano, atrelada a um ambiente que estimula o consumismo ; fatores que abalam a carreira, já que ;ter; passa a ser mais importante que ;ser;, ao medir o sucesso profissional. ;O dinheiro é o principal motivador na maioria das empresas. Mas é um erro. Se alguém coloca isso como meta, falha. As pessoas precisam ter gratidão com a vida e com os outros, mais do que com a ascensão monetária.;
Válvulas de escape
A cirurgiã plástica Ivanoska Filgueira, 50, ressalta a importância da satisfação com a área de atuação para se tornar uma pessoa inteligente emocionalmente.;Você tem que trabalhar com o que gosta, caso contrário, viverá insatisfeito com o mundo diariamente, e isso é extremamente frustrante.; O trabalho dela pode ser desgastante, já que pacientes depositam muitas expectativas nos resultados finais, o que gera carga emocional intensa para os dois lados. Para reverter a fadiga, Ivanoska recorre a atividades em que encontra equilíbrio, como viagens, atividades físicas e golfe.
Para se desenvolver
; A empresa Desenvolvimento e Liderança (DL) oferece treinamentos de inteligência emocional em todo o país. Informações: www.dlbrasilia.com.br / 3031-1632.
; Pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e gerente de transferência da Agência Unesp de Inovação, Rita de Cássia Costoya fala, em podcast da instituição, sobre como a inteligência emocional é essencial no trabalho. Empatia, autocontrole, autoconhecimento, resistência contra frustações são algumas das características alcançadas com a inteligência emocional. Para escutar o conteúdo, acesse o site podcast.unesp.br.
Leia
Gestão da emoção
Autor: Augusto Cury
Editora: Editora Benvirá
200 páginas
R$ 21,90