Num momento em que a economia brasileira está em retração, líderes precisam conduzir bem a equipe para alcançar maior produtividade. Não bastasse a cobrança por mais resultados para evitar que a empresa vá ladeira abaixo, os gestores ainda precisam lidar com a desmotivação e a desconfiança dos subordinados, provocados pela avalanche de indicadores negativos, que incluem aumento do desemprego e da inflação e perda do poder de compra.
;O funcionário acaba pensando: por que vou me esforçar, me matar, se sei que o risco de ser demitido é grande também?;, observa Vagner Sandoval, professor do Instituto Business Education / Fundação Getulio Vargas (IBE-FGV) e gerente da Qualidade e da Logística na Friedberg do Brasil. Segundo o especialista em gestão de pessoas, liderança e coaching executivo, o líder precisa convencer a equipe de que é possível atravessar o momento de turbulência. ;Uma boa aposta é elaborar um planejamento detalhado, indicando onde estão as oportunidades, e o que cada pessoa deve fazer para alcançá-las;, afirma.
É nisso que aposta Adelmo Gomes, 67 anos, diretor-geral e dono da Omni, empresa de venda de equipamentos de informática, e da Matrix, distribuidora de papéis, produtos de higiene, limpeza e descartáveis. ;Quando não tem crise, os negócios se encaminham de forma mais natural. Em tempos como este, você precisa fazer revisão de custos, margens, resultados, além de acompanhar a equipe ainda mais de perto.;
Ele aposta na transparência como carro-chefe da relação com os subordinados. ;Um bom líder precisa deixar claro quais são os objetivos da empresa, assim o time vai se manter sempre unido;, acredita. Adelmo avalia que a maior prova de uma boa liderança é o fato de os colaboradores saberem o que têm que fazer, mesmo que o chefe não esteja presente. A supervisora administrativa da Matrix, Andréia Amorim e a analista administrativa da Omni, Lizandra Leal, 33, são só elogios sobre o chefe. ;Ele sempre visa o bem-estar do funcionário;, conta Andréia. Lizandra concorda. ;Ele é ótimo e muito justo, seja no que for, nos ajuda;, diz.
Motivar por resultados
Professora da IBE-FGV e PhD em administração pela Florida Christian University, Paulette Melo afirma que não basta a um bom gestor saber liderar quando tudo vai bem: é crucial entender como ultrapassar crises. ;Nessas horas, é preciso extrair o melhor dos outros. Isso constrói uma vantagem estratégica que toda organização busca e garante a sobrevivência;, alerta. Amanda Santos, 29, é supervisora de vendas na Top Distribuidora, que vende utensílios domésticos e elétricos em Águas Claras, e apostou em premiações para estimular os 10 funcionários da equipe que coordena a superar o momento. O empregado que bater o recorde de vendas ganha um prêmio, que pode ser um celular, um tablet ou uma quantia em dinheiro. ;Este mês, por exemplo, será um incentivo monetário;, conta. ;Além disso, tivemos que replanejar o estoque, o número de colaboradores e a prestação de serviço para nos mantermos no mercado;, afirma. Amanda diz que, antes desse processo, a equipe estava numa zona de conforto. ;O mercado estava superaquecido, então os vendedores mandavam no negócio. Hoje, o público compra menos, e tivemos que correr atrás de uma nova clientela;, comenta. O chefe recém-chegado
Quem está começando em uma organização, em uma posição de gestão, enfrenta muitos desafios ; neste momento instável da economia, eles podem ser ainda maiores. Pesquisa das consultorias Lee Hecht Harrison e Plonglê com 120 gerentes, diretores e presidentes brasileiros revela os principais transtornos enfrentados quando gestores entram em uma nova organização. Apenas 12% deles se preocupam com o legado que gostariam de deixar na organização. A diretora de Gestão da Mudança da LHH, Irene Azevedo, afirma que, com a pressão por resultados cada vez de mais curto prazo, os líderes podem se esquecer de seus valores. ;Porém, essa é uma visão míope. Se eles agirem de acordo com seus princípios, serão mais focados, terão mais resultados e, com certeza, deixarão um legado.;
TRÊS PERGUNTAS PARA / João Marcelo Furlan
Graduado em administração de empresas pelo Insper, mestre em marketing e gestão comercial pela Scuola di Direzione Aziendale (Itália) e pela Escuela Superior de Administración y Dirección de Empresas (Espanha), João Marcelo Furlan é fundador e presidente da empresa de educação corporativa Enora Leaders e autor do livro Flaps! ; 6 passos para acelerar resultados e decolar sua carreira com a liderança adaptágil, em que apresenta dados de mercado, reflexões e exercícios para ajudar pessoas em início de carreira e líderes experientes.
Por que você decidiu escrever o livro?
Nos últimos 10 anos, tenho trabalhado com desenvolvimento de líderes em grandes organizações, concluindo a formação de mais de 3 mil gestores. O livro foi criado com o intuito de dar acesso aos principais conceitos relacionados ao desempenho das pessoas no trabalho, aplicando a liderança para atingir resultados junto às pessoas. A principal mensagem é a de que qualquer um pode liderar. Basta aprimorar competências para que, cada vez mais, consiga mobilizar pessoas a alcançar resultados. Isso também permitirá que o leitor acelere a própria carreira, porque será capaz de entregar resultados de melhor qualidade à organização, o que fará com que o perfil desse profissional seja mais valorizado. No livro, reuni seis passos simples para uma boa liderança: o desenvolvimento de uma boa visão, conhecer bem sua equipe, construir uma relação de confiança e respeito, influenciar e inspirar pessoas, manter a motivação e, finalmente, perseverar para alcançar os resultados.
O que o líder deve fazer para superar esse momento de crise e ajudar a equipe a gerar bons resultados?
O gestor deve investir sobretudo em gerar ganhos de curto prazo, já que metas espetaculares estão muito mais difíceis de serem batidas. O ponto principal é gerar sensação de vitórias nas pessoas em desafios menores, como por exemplo a redução de um determinado custo ou um cliente novo, para que os funcionários sintam que estão vencendo, mesmo no cenário atual. Isso irá despertá-los para ir mais longe. Neste momento, o líder tem que ser adaptágil. O termo vem de duas características fundamentais no presente e significa conseguir se adaptar ao ambiente de mudanças intensas de forma rápida. Para isso, é necessário compreender emoções e anseios da equipe para tirar o melhor dela.
O jeito de chefiar está mudando com a crise?
Sim. Muitos líderes antes somente focados em resultado tiveram que passar a olhar mais para as equipes, para as pessoas, até porque os times diminuíram, e os empregados estão sofrendo pressão ainda maior. É preciso mobilizar pessoas para atingir mais resultados e garantir que se sintam seguras, mesmo neste ambiente de crise.