Trabalho e Formacao

Por uma chance de mudar de vida

Enquanto morava na rua, Plínio do Carmo foi aprovado em gestão pública no IFB pelo Sisu. Sem internet e endereço, perdeu o prazo de matrícula. No entanto, ele não desiste e está promovendo um abaixo-assinado para assegurar o direito de cursar o ensino superior

Paula Braga
postado em 07/02/2016 13:50

Enquanto morava na rua, Plínio do Carmo foi aprovado em gestão pública no IFB pelo Sisu. Sem internet e endereço, perdeu o prazo de matrícula. No entanto, ele não desiste e está promovendo um abaixo-assinado para assegurar o direito de cursar o ensino superior

Após concluir os estudos básicos pela Educação de Jovens e Adultos (EJA), em 2014, Plínio do Carmo Limoeiro, 25 anos, prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com o objetivo de buscar uma vaga em uma graduação pública. Na época, o baiano havia deixado Salvador, a cidade natal dele, e mudado para Brasília em busca de oportunidades. Com a renda ganha como servente de obras e caseiro, ele pagava o aluguel da casa onde morava em Sobradinho II. ;Estudava todos os dias depois do trabalho, das 19h até as 22h;, conta. As noites que passou debruçado sobre os livros tiveram resultado: ele foi aprovado no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para o curso de gestão pública do Instituto Federal de Brasília (IFB) para ingresso no segundo semestre de 2015.


Apesar da conquista, a história dele não teve final feliz: Plínio perdeu o emprego, não conseguiu manter o aluguel e se viu obrigado a morar na rua. Como não tinha endereço para receber correspondência ou acesso à internet, só soube que passou para a graduação que queria depois que o prazo de matrícula havia terminado. Para tentar recuperar a vaga, em 29 de janeiro, ele criou um abaixo-assinado on-line na plataforma Change.org pedindo que a instituição o deixe estudar.


;Na rua, perdi a noção do tempo e o prazo da matrícula. Ao verificar meus pertences guardados, encontrei um comunicado solicitando meu comparecimento ao IFB com a documentação necessária para a matrícula, mas estava muito fora do prazo;, relata Plínio no pedido na internet. Até quinta-feira (4), a petição havia alcançado 260 assinaturas. Nos comentários da publicação, internautas deixaram mensagens dando apoio e fazendo um apelo para que a instituição não deixasse que Plínio perdesse a oportunidade. ;Ajudem ele! A educação salva vidas; e ;Todos precisamos de uma chance para mostrar que somos capazes; estavam entre as declarações enviadas pelos usuários.


;Quero dar continuidade aos meus estudos para poder ajudar outras pessoas. Acho que o curso de gestão pública tem o meu perfil e eu poderia dar força a muita gente com o meu depoimento;, afirma o ex-morador de rua, que não concluiu os estudos na Bahia porque precisou trabalhar para ajudar a mãe e a irmã, que moram em Salvador.

Recomeço
Plínio conseguiu se reestabelecer e alugar novamente um local para morar depois que ficou sabendo do projeto da Revista Traços no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), na 903 Sul. No fim do ano passado, ele começou a vender a revista, que é comercializada por moradores de rua pelo valor de R$ 5. Da venda de cada exemplar, R$ 4 ficam com o vendedor, que utiliza R$ 1 para comprar uma nova revista. ;Ele postou a história no Facebook, com todas as informações. Eu li e sugeri o abaixo-assinado, para que o assunto pudesse chegar mais longe, em quem poderia ajudar;, conta a produtora cultural da revista, Chaia Dechen, 32. ;O Plínio é muito inteligente e tem interesse em outras áreas, então nossa meta agora é estimular que ele não fique parado, mas faça algo que possa dar um pontapé na carreira dele;, completa.

Sonho adiado
Apesar de se sensibilizar com a história do jovem, o IFB informou que não pode efetuar a matrícula para que ele estude neste ano. ;Plínio se inscreveu no processo seletivo para ingresso no 2; semestre de 2015 e, segundo o edital, ele é válido apenas para o preenchimento das vagas ofertadas para o semestre a que se refere. Para ingressar no 1; semestre de 2016, é necessário estar inscrito na seleção vigente;, afirmou em nota o instituto. Segundo o IFB, efetivar o registro de uma pessoa que não se inscreveu no processo seletivo e não foi convocada compromete a lisura e a legalidade do concurso.


;A instituição está de portas abertas para recebê-lo. O IFB está com matrículas abertas, que estão sendo preenchidas por ordem de chegada, em cursos técnicos e de qualificação, como espanhol básico, informática básica, rede de computadores, técnico em agroindústria e técnico em agropecuária, todos gratuitos. São ótimas opções para que ele possa se capacitar enquanto aguarda uma próxima oportunidade em um curso superior;, completa o comunicado. Apesar disso, Plínio afirma que não desistirá do sonho. ;Vou tentar apresentar minhas notas em uma faculdade particular para ver se consigo uma bolsa. Esse é o curso que quero e não vou desistir!”, garante.

Acesse!
É possível assinar a petição de Plínio em www.change.org/
oportunidadeIFB

Saiba mais

Ativismo a internet

A Change.org é uma plataforma para ativismo on-line com o objetivo de reivindicar direitos que estejam sendo violados ou propor uma solução para algum problema que afete indivíduos ou comunidades. Ao cadastrar a petição, a pessoa deve informar para quem o pedido é direcionado, o que deseja e o motivo. A cada assinatura, um e-mail é encaminhado a quem pode resolver o problema.


Para não virar lixo eletrônico, as mensagens começam a ser agrupadas quando muitas pessoas apoiam o abaixo-assinado. ;É uma pressão real, e a mobilização funciona. A plataforma alcança uma vitória por hora e, somente em janeiro, foram 13 casos bem-sucedidos;, destaca o diretor da Change.org no Brasil, Lucas Pretti.


Além de hospedar os depoimentos, o site acompanha os proponentes na busca pela solução, auxiliando na campanha do caso. Entre as ações de sucesso alcançadas por meio da plataforma, estão pedidos para que uma empresa de ônibus reconhecesse o nome social de uma passageira transexual no cartão de transporte, a mãe de uma criança com deficiência não pagasse taxas extras na escola e mobilizações para conseguir transplantes e
tratamentos de saúde.

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