Nascido em Santo André (SP), Mizael Conrado, 38 anos, é advogado, vice-presidente e secretário-geral do Comitê Paralímpico Brasileiro(CPB).Bicampeão mundial e paralímpico, foi eleito um dos melhores jogadores do mundo de futebol de cinco modalidade praticada por cegos. Com catarata congênita, passou por quatro cirurgias, ainda bebê, para voltar a enxergar, mas, aos 9 anos, teve um descolamento de retina. Aos 13, estava completamente cego. O atleta, aposentado desde 2008, começou a trabalhar aos 14 anos como vendedor, atuou nas áreas administrativa, financeira, de telemarketing e de seguros em diversas instituições. ;Na minha época, era difícil se dissociar do trabalho e ser apenas atleta. Tive que trabalhar e jogar. Foi um tempo difícil;, conta o graduado em direito.
Conseguir um diploma de ensino superior é um desafio que ganha proporção multiplicada para pessoas como Mizael. Prova disso é que somente 6,7% dos mais de 45 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência conseguiram concluir o grau, ou seja, pouco mais de 3 milhões de cidadãos, segundo dados do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). ;É importante se preocupar com a formação, é preciso se dedicar, almejar algo maior e se esforçar para alcançar os objetivos. Os estudos são a chave para a nossa inserção no mercado de trabalho;, ressalta Mizael. Jorgete Lemos, diretora de Diversidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Brasil), concorda. ;Por questões de inacessibilidade, as pessoas com alguma limitação sofrem com um atraso, existe uma desigualdade que elas só conseguirão superar quando forem incluídas por meio do ensino.;
Quando se trata de deficiência intelectual, os obstáculos para estudar são ainda maiores: somente 989 estudantes com esse tipo de limitação ingressaram em alguma graduação em 2014 de acordo com o Censo da Educação Superior . Jéssica Mendes, 23 anos, superou todas as barreiras e se formou em fotografia.Hoje, trabalha como fotógrafa na Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência e acredita que a formação é a melhor forma de fazer os obstáculos caírem por terra. ;Por causa disso, estou no controle da minha vida, quero crescer profissionalmente e exercer meus direitos. É preciso ter perseverança e saber superar as dificuldades;, conta.
Ponte com o mercado
A Coordenação de Promoção de Direitos de Pessoas com Deficiência (Promodef), ligada à Secretaria de Estado do Trabalho e Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do Distrito Federal (Sedestmidh-DF), localizada na estação do metrô da 112 Sul, conecta empresas a procura de candidatos e pessoas com limitações em busca de vagas. Em 2015, o serviço possibilitou a contratação de 363 profissionais.
;Empresários, muitas vezes, não entendiam que não precisam derrubar paredes e gastar muito dinheiro para contratar pessoas com essas condições: elas usam a mesma mesa, a mesma cadeira e passam pela mesma porta que qualquer outro. Auxiliamos as organizações a se adaptarem;, diz o diretor de Política Para Pessoas com Deficiência, Carlos Guimarães.
Quem quiser se candidatar a um emprego deve ir à estação de metrô da 112 Sul e levar os seguintes documentos: currículo, laudo médico, identidade, CPF e carteira de trabalho. Já as empresas que tiverem interesse em contratar podem mandar e-mail ou agendar um horário por telefone. Informações: 3245-7210 / geat.promodf@gmail.com.
Leia
Liane Martins Collares, 52 anos, lançou um livro em 2004 chamado Liane, uma mulher como todas. A publicação é uma autobiografia da gaúcha com síndrome de Down que, com ajuda de familiares e amigos, conta os detalhes sobre sua vida desde o nascimento até os 40 anos, incluindo histórias sobre sua trajetória profissional.
Atualmente, ela é secretária comissionada na Promodef e, antes, trabalhou no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e na creche da Fundação Cruz de Malta, onde cuidava de recém-nascidos e de crianças. ;Comecei a escrever quando estava trabalhando com Paulo Beck, atual coordenador-geral da Promodef, com quem trabalho há mais de 20 anos, quando fiz meu primeiro estágio. Liane ainda tem intenção de lançar mais uma publicação. ; Espero inspirar outras pessoas com deficiência com o meu livro, para que elas façam o que realmente gostam;, diz.
Denuncie
Caso haja irregularidades na contratação de profissionais com deficiência é possível fazer denúncias na Delegacia do Trabalho, localizado no SCS, Quadra 8, Bloco 50, Venâncio 2000, 1; Andar. Os telefones para contato são 3340-3205 e 3340-3215. Também é possível denunciar em órgãos públicos por meio de ouvidoria e em conselhos de órgão que trabalham com direitos do cidadão com deficiência, como o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (Conade/SDH/PR).