A caminhada para casa depois da aula pode dar origem a muitas histórias e, nesses momentos, alguns alunos podem ter boas ideias. É o caso de Juliana Macedo, 18 anos, e Sthefany Aline Falcão Silva, 17. As meninas são alunas do 3; ano do Centro de Ensino Médio 2 do Gama e faziam o percurso entre a escola e a moradia a pé. ;O sol em Brasília é muito quente, ainda mais no horário em que saímos da escola, logo no início da tarde. Então a gente procurava todo tipo de coisa para se cobrir: papel, casaco... Foi daí que veio a ideia do nosso projeto;, explica Juliana. As jovens desenvolveram uma pesquisa para encontrar tecidos mais baratos e acessíveis que proporcionem uma eficiente proteção contra raios ultravioleta.
O estudo foi finalista na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), em Novo Hamburgo em outubro de 2015, um dos maiores eventos de ciência e tecnologia do país. O sucesso não parou por aí: as meninas foram selecionadas para apresentar os resultados na 68; edição da Feira Internacional de Ciências e Engenharia da Intel (Intel Isef, na sigla em inglês) em Phoenix, no Arizona, nos Estados Unidos. O evento foi da última segunda à sexta-feira, e as meninas estiveram presentes com outros 28 jovens pesquisadores do Brasil. Pela comitiva nacional, foram apresentados 18 projetos de estudantes do ensino médio com idades entre 17 e 19 anos de nove unidades federativas: Distrito Federal, Ceará, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia e São Paulo.
De acordo com Marco Sawer, professor do curso de técnico em eletrônica da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo (RS), a feira é uma ótima oportunidade pra os estudantes, em que eles podem trocar conhecimento com pesquisadores de diversos países e defender as próprias ideias em um ambiente científico. ;Muitos recrutadores de empresas e universidades estão na mostra procurando talentos, o que é uma grande chance para os alunos. Mas, mais do que isso, a troca de conhecimentos em um evento desse porte é única, sem contar a experiência cultural;, analisa.
Juliana concorda com o professor e diz que nunca imaginou que a pesquisa desenvolvida no Gama poderia ter tamanha repercussão. ;A Sthefany era mais confiante, sempre falava que poderíamos chegar aqui. Mas, para mim, a ficha só caiu mesmo quando fomos selecionadas para a final da Mostratec, a primeira grande feira de que participamos. A sensação é incrível, e o aprendizado e o contato com as pessoas é algo que vou levar para a vida toda;, completa.
Os projetos da comitiva brasileira pesquisaram assuntos variados, desde medidas para usar a tecnologia, como ferramenta para promover educação de qualidade, até diversos meios para reduzir impactos ambientais. Dentre os estudos nacionais, destaca-se a de Júlia Albergaria Guedes da Fonseca, estudante de São Paulo, que usou técnicas de antropologia forense para encontrar um perfil da população e dos tipos e períodos das lesões encontradas nas ossadas da vala clandestina paulistana de Perus, utilizada entre 1976 e 1990. A delegação nacional faz parte dos 90 jovens cientistas da América Latina que apresentaram 45 projetos durante a competição. Eles disputam contra 1,7 mil jovens de cerca de 75 países, por mais de US$ 4 milhões (cerca de R$ 14 milhões) em prêmios e bolsas de estudos. Todos os anos, os participantes são selecionados por meio de uma rede mundial de feiras de ciências locais. O programa é promovido pela Intel e a Society for Science & The Public (SSP), que administra a Isef desde 1997.
Vencedores
Antes mesmo da premiação oficial, na sexta-feira (13), três jovens brasileiros receberam condecorações durante a Isef. Laura Rúbia Paixão Boscolo e Rafael Eiki Matheus Imamura, de São Paulo, desenvolveram o Yarner, método que usa plataformas digitais para criar livros didáticos interativos. Eles ganharam os prêmios Oracle Academy e GoDaddy, nos valores de R$ 17,5 mil e R$ 5,2 mil respectivamente. Guilherme de Oliveira Ramos e Fabiane Kuhn, do Rio Grande do Sul, criaram um sistema para otimizar a irrigação do solo que reduz o desperdício de água e, por causa dele, levarão R$ 5,2 mil da Sociedade Internacional de Ótica e Fotônica (Spie, na sigla em inglês) para casa.
Na cerimônia principal, a equipe nacional também fez bonito e recebeu sete medalhas: primeiro lugar em engenharia biomédica e melhor projeto da categoria para Luiz Fernando da Silva Borges, do Mato Grosso do Sul; terceiro lugar em sistemas embarcados para Guilherme de Oliveira Ramos e Fabiane Kuhn, do Rio Grande do Sul; terceiro lugar em engenharia ambiental para Ygor Requenha Romano, de Rondônia; quarto lugar em engenharia biomédica para Márcia Cunha dos Santos e Carolina Rosa Kelsch, do Rio Grande do Sul; quarto lugar em software de sistemas para Laura Rúbia Paixão Boscolo e Rafael Eiki Matheus Imamura, de São Paulo; quarto lugar em engenharia ambiental para João Vitor Kingeski Ferri e Maria Eduarda Santos de Almeida, do Rio Grande do Sul; e quarto lugar em medicina translacional para Maria Vitoria Valoto, do Paraná. Confira todos os projetos e fotos do evento no site www.mostratec.com.br.