Trabalho e Formacao

A hora da escolha

Definir a carreira é um daqueles momentos-chave na vida e trará impactos de longo prazo. Pesquisa revelou que a família e a remuneração são os quesitos que mais influenciam a decisão. Confira dicas para não errar

postado em 24/07/2016 16:41

Ana Clara está em dúvida entre cursar publicidade, engenharia de redes e engenharia de produção

Várias dúvidas e preocupações enchem a cabeça de jovens na hora de escolher a profissão. A sensação de que precisam eleger algo para toda a vida e o medo de decepcionar a família estão entre os fatores que complicam a decisão. Para compreender o que pesa mais nesse momento, a Universidade Anhembi Morumbi entrevistou mais de 31 mil alunos de ensino médio do estado de São Paulo. Os resultados foram divulgados este mês e mostram que 59% dos estudantes definiram a área de atuação antes de terminar o ensino médio. Entre os entrevistados, 35% afirmaram ter sido influenciados pelos pais e 17% foram atraídos pela remuneração da área.


De acordo com Mariana Parucci de Oliveira, coordenadora de Pesquisa na Universidade Anhembi Morumbi, a remuneração é um ponto de preocupação entre adolescentes por causa da competitividade do mercado de trabalho. ;Eles têm se preocupado em escolher uma profissão que traga segurança financeira, uma vez que sabem que serão muito cobrados em qualquer profissão. É uma questão de retorno;, revela. ;Era esperado forte peso da opinião familiar. Os parentes têm papel fundamental por fatores como experiência, proximidade e confiabilidade perante os jovens;, detecta. Para Mariana, ;não existem problemas em seguir a carreira dos pais, desde que seja uma decisão individual;.


Formado em medicina pela Universidade de Brasília (UnB), o oncologista com residência feita no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) Márcio Almeida, 37 anos, vem de uma família com muitos médicos e é realizado na profissão. Filho de uma dona de casa e de um anestesiologista, é irmão de uma nefrologista e primo de uma nefrologista, de um ortopedista e de uma estudante de medicina. Márcio decidiu seguir a área aos 8 anos, e a influência paterna foi muito forte, mas ele observou vantagens por conta própria. ;Meu sempre disse que era um bom trabalho. Eu sabia que não ficaria desempregado e poderia ter qualidade de vida, mesmo que trabalhasse muito e fizesse plantões;, conta.

Falta autonomia
Master coach formada pela Sociedade Latino-Americana de Coaching e fundadora da empresa de consultoria que leva seu nome, Silvia Bez tem uma visão diferente sobre a influência da família. Para ela, o resultado do estudo sinaliza que as novas gerações estão perdidas em relação aos próprios desejos. ;Os jovens têm muitas oportunidades e caminhos abertos, mas não sabem exatamente o que querem;, observa. ;O ideal seria que buscassem se conhecer antes, adquirir consciência sobre as próprias qualificações e competências, entender a profissão escolhida com pesquisas e visitas a universidades e conversas com coordenadores de curso e profissionais da área. Só então deveriam escolher;, explica. Isso evitaria frustrações futuras ; algo comum. De acordo com levantamento do Projeto 30, em que a consultoria Giacometti Comunicação entrevistou 1,2 mil pessoas, 52% dos profissionais com 30 anos estão insatisfeitos com a carreira, dizem trabalhar para sobreviver e não gostam do que fazem.


Depois de cursar sete semestres de farmácia na Universidade de Brasília (UnB), Jéssica Jacovetti, 24 anos, abandonou a graduação pelo sonho de estudar odontologia na mesma instituição, bacharelado em que ingressou no início deste ano. ;Eu adorava ir ao dentista quando era criança, amava o cheiro do consultório da minha tia, então sempre quis trabalhar com isso. Só que no ano em que tentei o vestibular, não passei. Na segunda tentativa, resolvi colocar farmácia para não fazer cursinho de novo e consegui uma vaga. Mais tarde, vi que não era o que queria;, conta. Além da preferência pela área, o retorno financeiro foi um diferencial para a decisão. ;Farmácia é um curso muito bom, mas difícil: é preciso estudar muito. Mesmo assim, paga-se pouco pelo trabalho de farmacêutico; o piso salarial é menor e não dá opção de abrir um consultório.; Apesar de ter um avô e vários tios dentistas, Jéssica garante que não sofreu influência dos parentes e conta com o apoio dos pais, ambos advogados, nas decisões.

As queridinhas
O estudo feito pela Universidade Anhembi Morumbi aponta que as cinco profissões mais citadas pelo jovens são administração, arquitetura e urbanismo, direito, biomedicina e engenharia civil. Na hora de escolher a instituição de ensino, os alunos pesam o reconhecimento do mercado, do Ministério da Educação (MEC) e a infraestrutura oferecida. Apesar de haver uma grande diversidade de cursos e carreiras, Mariana Parucci de Oliveira, coordenadora de Pesquisa da Anhembi Morumbi, acredita que os estudantes conhecem, em média, apenas 10% das opções, que são muitas: segundo o MEC e o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), há 255 cursos superiores e 233 formações técnicas. Além disso, o Ministério do Trabalho lista 90 profissões regulamentadas e 2.600 ocupações. ;Por isso, é bom pesquisar as áreas disponíveis. As mais tradicionais são populares porque são mais reconhecidas.;


Ana Clara Moroishi, 17 anos, está no 3; ano do ensino médio e ainda não decidiu em que curso pretende ingressar. ;Quero estudar na Universidade de Brasília, mas não sei o que. Sou boa em exatas, mas estou em dúvida entre publicidade, engenharia de produção ou engenharia de redes;, diz. Ana Clara fez um teste vocacional com a Praxis, empresa júnior de psicologia da UnB. ;Isso me ajudou bastante, mas ainda fiquei em dúvida entre os três cursos;, diz. ;É uma coisa que vou ter que fazer para o resto da vida, por isso preciso gostar. É uma decisão séria;, acrescenta. Os pais de Ana Clara recomendaram três cursos para a estudante: arquitetura, direito e administração. No entanto, a jovem não tem interesse em nenhuma das áreas.

Recomendações

Márcio Souza, psicólogo, coach, orientador vocacional, psicoterapeuta, dono de um canal de dicas de carreira (disponível em bit.ly/2a3g7Kv), dá orientações para não errar na escolha:
; Autoconhecimento: Tenha noção das suas habilidades e busque profissões que combinem com elas.
; Orientação profissional: Fazer testes vocacionais é interessante para ter uma ideia das opções, mas você não precisa bater o martelo a partir deles.
; Diálogo com a família: Se escolher uma profissão que a família não aprove, converse e explique a decisão.
; Internet: Pesquise bastante sobre cursos e carreiras para não errar.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação