Trabalho e Formacao

O estilista dos ciclistas

Casal dono da única fábrica de roupas para a modalidade no DF atribui o êxito na modalidade esportiva ao fato de oferecerem produtos como os que gostariam de comprar por isso, nunca temeram o mercado

Ana Paula Lisboa
postado em 18/09/2016 13:06

Renata e Marcelo contam com 13 profissionais de costura

Os proprietários da VO;max (www.vo2max.ind.br), confecção especializada em roupas para ciclistas, Marcelo Torres, 52 anos, e Renata Torres, 46, apostam em qualidade e design esportivo fashion ao comandar a empresa aberta em janeiro de 2004. Uma das únicas a criar esse tipo de vestimenta no Brasil, é a única instituição do ramo no DF. Com 18 funcionários, são produzidas 3,5 mil peças por mês (mas o número pode chegar a 5 mil). O catálogo tem 136 produtos para ciclismo e corrida ; a nova linha da confecção ; em 12 opções de cores. ;Outras marcas oferecem, normalmente, só preto, então é um diferencial;, percebe Renata, que se encarrega da gestão da produção e do negócio, enquanto o marido fica responsável pelo desenho das roupas e pela parte financeira.

A firma brasiliense tem 700 clientes lojistas espalhados pelo Brasil, 300 dos quais têm peças no estoque no momento. A unidade da Federação com maior demanda pelos trajes é Minas Gerais, onde o mountain bike (MTB) é muito forte. A jornada empreendedora de Marcelo e da mulher, Renata, se mistura com a história do casal e envolve dedicação, coragem e inovação. Pais de duas filhas de 17 e de 21 anos, eles vieram parar em Brasília por causa do trabalho dos pais: o de Renata, engenheiro civil, foi transferido para a capital federal em 1989; a família de Marcelo viveu em várias cidades pela profissão do patriarca, militar.

Casal dono da única fábrica de roupas para a modalidade no DF atribui o êxito na modalidade esportiva ao fato de oferecerem produtos como os que gostariam de comprar  por isso, nunca temeram o mercado

Os dois se conheceram no Crefisul, banco extinto na década de 1990, para o qual foram contratados no mesmo dia. Ela, administradora formada pela Universidade de Brasília (UnB), e ele, bacharel em direito pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub), foram demitidos às vésperas do próprio casamento, quando o banco foi fechado. A dupla abriu, então, a segunda franquia da rede Giraffas no Brasil. ;Para não termos nunca mais que passar por uma situação de instabilidade no emprego, investimos no empreendedorismo;, explica Marcelo, que nasceu em Nioaque (MS).

A experiência com a lanchonete durou quatro anos, até o casal passar a trabalhar com a família de Marcelo, dona da boutique Iracema Torres. No entanto, outro interesse era importante: o esporte. Natural de Salvador (BA), Renata praticou jazz, balé, dança de salão e natação. Desde pequeno, Marcelo se envolveu em várias atividades físicas, incluindo tiro (fez parte da Seleção Brasileira de Tiro Olímpico), vôlei (integrou a Seleção Brasiliense da categoria), kickboxing e caratê (nos quais é faixa preta), atletismo, escalada e paraquedismo.

Em 2003, ele participou do reality show O conquistador do fim do mundo, do SBT, em que 14 atletas brasileiros competiram com equipes de quatro países em uma corrida de aventura na Patagônia. ;Fiquei no programa por dois meses, conheci um representante de uma marca esportiva e fiquei com aquilo na cabeça. Então resolvi aliar a paixão que eu tenho por moda com outra: a atividade física;, conta. Marcelo começou a pedalar por volta dos 37 anos e teve a ideia para o negócio a partir disso. ;Eu não gostava das roupas de ciclismo que usava. Tive contato com fornecedores da marca têxtil Santaconstancia, da família da Contanza Pascolato, grande ícone da moda, que me deu tantas amostras para testar que eu precisava fazer aquilo acontecer;, rememora Marcelo.

Novo desafio

;Tudo começou na sala do nosso apartamento. Compramos duas máquinas de costura, contratamos uma costureira, e o Marcelo riscava os moldes no chão;, conta Renata. Os dois pediram que amigos atletas ; como Abraão Azevedo, campeão mundial master de MTB, e Cláudio Clarindo, considerado um dos 10 melhores do mundo em ultraciclismo e que morreu atropelado durante treino em Santos em janeiro ; testassem. Então, o produto foi melhorado ao longo do tempo: hoje, o fio de costura é de elastano, que acompanha a elasticidade da roupa; toda a linha tem fator de proteção solar 50 e é feita de poliamida, tecido resistente que permite o resfriamento do corpo. ;Se as instruções de lavagem e uso forem seguidas, dura a vida toda;, conta Marcelo.

;Parece um paradoxo, mas nossos produtos são feitos à mão, só que com característica industrial;, revela Marcelo. ;Chorei quando vi uma pessoa na rua usando uma peça da marca que não era do nosso círculo de amigos;, revela Renata. ;Já, hoje, é difícil ver um pelotão de ciclistas sem alguém com uma roupa nossa;, complementa Marcelo. A empresa foi crescendo por meio do boca a boca e ganhou visibilidade em ocasiões especiais: ao ser distribuída pela rede esportiva Centauro; ao ser vestida por um atleta brasileiro num congresso em Pequim; ao ser usada pelo ator Cauã Reymond durante gravações da novela Passione (2010-2011) da Rede Globo, na qual interpretava um ciclista; entre outras.

A margem de lucro da VO;max por peça produzida é de 20%, e o faturamento da empresa fica no teto do sistema Simples Nacional (R$ 3,6 milhões brutos anuais). ;Desde que abrimos, só crescemos. O ciclismo é uma tendência mundial, então o mercado é promissor. Admito que não imaginava que daria tão certo;, diz Marcelo. Apesar disso, o medo de dar errado não fez parte da trajetória dos dois.

;Fazemos do jeito que gostaríamos que fosse feito conosco, com relação ao produto e ao atendimento. Por isso, tinha que dar certo;, considera Renata. O segredo do sucesso está em trabalhar com carinho e dedicação, respeitar os funcionários e as regras. Para o futuro, os planos incluem abrir uma boutique showroom e investir em corner franchising (espaço de vendas que pode ser inserido dentro de outras lojas), mas eles querem manter os pés no chão. ;A Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) nos convidou para abrir uma empresa nos Estados Unidos, mas só queremos expandir quando estivermos com tudo otimizado. Mais para a frente, quem sabe, podemos ser uma Nike tupiniquim;, almeja Marcelo.

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