Trabalho e Formacao

Voluntárias oferecem ajuda a jovens mães que farão a prova

postado em 29/09/2016 17:58

Criar um filho sem poder contar com o apoio do pai ou a ajuda da família é uma realidade que muitas mães brasileiras enfrentam diariamente. De acordo com o estudo Síntese de Indicadores Sociais de 2014, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de todas as jovens entre 15 e 19 anos de idade que têm pelo menos uma criança, 59,7% não estudam e não trabalham, enquanto apenas 15,1% se dedicam exclusivamente aos estudos.

Entre as jovens mães, 14,2% conseguem concluir o ensino médio e seguir em etapas mais avançadas. A média de tempo de estudo dessas garotas é de 7,7 anos, enquanto o dado referente às mulheres da mesma faixa etária sem filhos é de 8,9 anos. Quem consegue concluir a educação básica pode se deparar com um desafio na hora de fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): com quem deixar a criança durante a prova?

O Ministério da Educação destinará, nos dias do exames ; 5 e 6 de novembro ;, salas exclusivas para candidatas que estão na fase de amamentar, mas um problema enfrentado por jovens mães é encarar o Enem quando a criança é um pouco mais velha. A jornalista Fernanda Vicente, 36 anos, deparou-se com o dilema por meio de uma corrente em redes sociais, que propunha que mulheres se dispusessem a ajudar as mães moradoras da mesma região, ao cuidar das crianças durante o exame. Mãe de um menino pequeno, ela tratou de fazer uma postagem na rede como voluntária para ajudar e para reunir contatos de outras mulheres que quisessem participar.

Movimento

O que Fernanda não esperava é que um simples texto se tornasse um movimento na internet. ;Novas voluntárias não paravam de aparecer. Decidi criar uma lista on-line, por estado, onde a mãe pode verificar diretamente se tem alguém na região dela;, explica a jornalista, que vive em Santos (SP). O projeto, chamado de Mães no Enem, tem o objetivo de ajudar mulheres que não têm ajuda do pai dos filhos ou da própria família, que são viúvas ou que moram longe de parentes. ;Sei como é difícil conciliar a maternidade com estudo e vida profissional. Mesmo eu, que tenho estrutura e conto com a ajuda da minha mãe, já deixei de pegar trabalhos porque não teria ninguém para ficar com meu filho;, lembra.

Com o crescimento da lista de voluntárias ; são mais de 170 confirmadas ;, advogadas da organização não governamental Feminaria procuraram Fernanda para oferecer assessoria jurídica ao programa. ;Sabemos que a mãe estará entregando a pessoa mais importante da vida dela a outra mulher. São crianças, precisamos ter um cuidado maior;, afirma a jornalista.

As voluntárias, ao se cadastrarem, devem preencher uma ficha detalhada e sigilosa, que ficará com as advogadas. Elas devem apresentar dados de RG, CPF, comprovante de endereço, referência pessoal, além de declarar quem mora com elas. Quando a mãe encontrar aquela que cuidará de seus filhos durante a prova, ambas assinarão um termo de responsabilidade; cada uma ficará com uma cópia, e uma terceira versão vai para as mãos das advogadas.

Solidariedade

Assim que soube do projeto, a artesã Léa Back Silva, 43 anos, prontificou-se a apoiar. Moradora de Brasília, ela tem três filhos. O mais velho, Rafael Back, 19 anos, foi diagnosticado com autismo enquanto a jovem mãe ainda sonhava em cursar a educação superior. ;Isso foi há 20 anos, ninguém sabia lidar. A maioria das pessoas à minha volta virou as costas para mim, e eu enfrentei essa situação sozinha;, lembra. Ao ver que poderia auxiliar uma jovem com uma história semelhante, ela nem titubeou e ofereceu ajuda.

Léa dedica seus dias a cuidar do filho especial e ao artesanato. Antes do diagnóstico, ainda estudava e sonhava com uma graduação em música e ir para o exterior. Mas a falta de ajuda limitou suas opções. ;Existe essa ideia de que a mãe tem de aguentar tudo sozinha, que quem tem filho jovem acaba com a própria vida. Essas moças não conseguem estudar, algumas são expulsas de casa;, lamenta. ;Eu fico muito feliz por elas [que recebem apoio por meio do projeto] porque na minha época não existia nada disso. É só o começo, quero ajudar essas mulheres no que eu puder.;

Segundo as regras do projeto, para se voluntariar é preciso ser mulher, morar no Brasil e ser maior de 18 anos. Não é necessário ser mãe ou ter experiência em cuidar de crianças, mas é ideal gostar dos pequenos. As voluntárias podem optar por cuidar apenas de bebês ou de crianças mais velhas.

Tanto as mães quanto as cuidadoras podem se candidatar ao projeto no e-mail .

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