A sexta edição do Índice de Proficiência em Inglês, realizado pela Education Fist (EF), avaliou o desempenho de 950 mil adultos de 72 países no idioma e revelou que, no Brasil, o Distrito Federal (com 53,01 pontos) é a unidade federativa com maior fluência na língua. Entre as cidades, Brasília (com 53,48 pontos) foi a que teve melhor desempenho, classificando-se com proficiência moderada no exame. Os outros dois únicos municípios nesse nível foram São Paulo e Campinas. De acordo com Ariane Cienglisk, supervisora do curso de inglês da UnB Idiomas, o motivo para a média brasiliense está relacionado ao poder aquisitivo dos moradores e à necessidade do mercado.
;O ensino escolar é bem precário, uma piada. Porém, há vários cursos de inglês em Brasília, e aqueles que tiverem um bom padrão financeiro farão. Na capital, os cargos são de nível mais alto, e quem não souber o segundo idioma está fora;, decreta. Apesar de alunos da rede pública terem menos chances, ela acredita que a existência dos Centros Interescolares de Línguas (CILs) ajuda. ;Não são instituições ideais, mas os estados que não os possuem estão em pior situação;, afirma.
A performance brasiliense coloca o quadradinho candango um grau acima da média nacional no teste: o Brasil foi classificado como território de proficiência baixa, no 40; lugar no ranking dos países. A pesquisa revela que o nível de fluência de uma nação aumenta de acordo com o grau de desenvolvimento: no topo, com proficiência muito alta, estejam Holanda, Dinamarca e Suécia. A renda média anual per capita líquida nesse nível é US$ 41.259. No grupo de proficiência muito baixa, os ganhos por ano são de US$ 5.280. No intervalo de proficiência baixa ; em que se encontra o Brasil ;, de US$ 7.616.
;Para que um país possa ter bom desempenho no mundo competitivo atual, precisa ser proficiente;, afirma Luciano Timm, vice-presidente de Relações Institucionais e Acadêmicas da EF. ;Antes o inglês era usado por multinacionais, em posições técnicas. Hoje, o Brasil faz mais negócios com outros países. Por isso, não só executivos, mas também profissionais de base precisam ter proficiência na língua;, diz Daniela Verdugo, consultora da First RH Consulting. ;É importante estar preparado e, assim, se tornar elegível para melhores oportunidades;, afirma.
Conhecimento necessário
Segundo Daniela Verdugo, da First RH Consulting, é provável que gestores escolham alguém não tão qualificado ou experiente na área de atuação, mas que tenham fluência em inglês, por considerarem o idioma como prioridade. O mesmo se repete em processos seletivos. ;Conhecimentos na língua podem render ainda diferenças salariais;, afirma ela, que detecta urgência em mudar o contexto nacional com relação ao inglês. ;Precisamos rever isso, pois, num futuro próximo, daqui cinco ou 10 anos, a maioria das vagas disponíveis no mercado exigirá bom nível de inglês, e não temos a formação necessária;, alerta.
Luciano Timm, da EF, observa que países que fizeram uma reforma no ensino médio e que têm o inglês como uma das matérias obrigatórias evoluíram mais do que o Brasil. ;A Argentina tem um nível de inglês tão bom quanto o da Itália e, no caso da Colômbia, houve evolução na pontuação;, afirma. Segundo ele, o Brasil tem uma oportunidade de avançar com a Medida Provisória 746/2016, que prevê a reforma do ensino médio. ;Além disso, é preciso que seja discutida metodologia inovadora e eficaz de ensinar. Não adianta querer que os alunos estudem inglês se a forma de passar o conteúdo estiver defasada;, conclui.
Para Ariane Cienglisk, da UnB Idiomas, apenas alterar o processo no ensino médio não será suficiente. ;Isso precisa ser iniciado mais cedo, senão não adianta. Um dos maiores erros nas escolas é o fato de os professores darem aula em português: isso não traz vivência real, e os alunos acabam não aprendendo nada;, conclui.
Fez diferença / Conheça histórias de profissionais que tiveram saltos na carreira por conta dos conhecimentos em inglês
Portas abertas
Fernanda Mara Gomes, 34 anos, começou a estudar inglês aos seis anos, obrigada pelo pai, e continuou até obter o certificado de fluência, aos 16. Ela cursou o ensino médio nos Estados Unidos e se tornou professora de inglês. Quando decidiu cursar direito, achou que não poderia ter chances na carreira no exterior, mas, depois de formada, foi a única de Brasília selecionada para participar da edição de 2016 do intercâmbio jurídico The Law Society of England and Wales. ;Quando concorri, era advogada há dois anos e três meses ; quando o mínimo para participar do programa são dois ; e concorri com gente muito mais experiente. Foi o inglês que fez diferença;, percebe. Após o intercâmbio de um mês, a advogada atuou como trainee e, após três meses, foi contratada por um escritório em Londres, onde trabalha desde o início do ano. ;As pessoas acham que não conseguirão oportunidade no exterior, mas tem sim, e o inglês te leva até elas;, conta, animada.
Profissão proficiente
Segundo o sexto Índice de Proficiência em Inglês, os serviços de consultoria constituem o ramo mercadológico mais proficiente do mundo. A profissão de gerenciamento de projetos está incluída no setor e é a segunda com melhor desempenho. José Alves, 55 anos, gerente de projetos no Ministério da Fazenda, afirma que não há como atuar na função sem um bom conhecimento no idioma. ;Eu estudei inglês na minha adolescência, porém percebi que não era suficiente quando fiz a prova de certificação para gerente de projetos, que, na época, era em inglês;, lembra o economista e especialista em administração. ;O inglês de sobrevivência não é suficiente para a profissão, não é capaz de sustentar uma conversa de negócios, nem possibilitar que a pessoa se mantenha atualizada. Então os interessados da área precisam adquirir fluência e acredito que vem daí o sucesso da proficiência da profissão mostrada na pesquisa.;
Futuro promissor à vista
Aos 18 anos e aluna do 3; ano do ensino médio, Débora Braidotti é fluente em inglês. O interesse pelo idioma surgiu ao observar o pai, professor de inglês e missionário, conversar com amigos de outros países. Sempre interessada na língua, fez cursos e estudou sozinha até alcançar a excelência. No primeiro semestre de 2014, cursou parte do primeiro ano do ensino médio nos Estados Unidos. Nas férias, entre dezembro de 2015 e janeiro deste ano, voltou aos EUA para trabalhar como au-pair. ;A experiência me deu um certificado que me coloca à frente por conta da minha proficiência em inglês, e conheci culturas completamente diferentes;, afirma. Hoje, a jovem percebe que viver em outro país com pessoas diferentes trouxe maturidade e paciência, além da fluência. Os planos dela incluem galgar posições no exterior e ela está certa de que, com o idioma, conseguirá chegar aonde deseja. ;Quero fazer odontologia aqui e mestrado lá fora;, almeja.
Níveis de proficiência
Muito alta: permite leitura de textos complexos e negociar com um nativo
Alta: garante apresentação profissional e compreensão de programas de tevê
Moderada: o falante pode participar de reuniões em uma área específica
Baixa: nível básico para turista
Muito baixa: permite se apresentar e dar instruções básicas
* Estagiária sob supervisão de Ana Paula Lisboa