Trabalho e Formacao

Talento que vem do cerrado

Com colares de flores, água de cachoeira, cogumelos e outros elementos, jovem artesã criou um jeito para que as pessoas carreguem consigo a beleza da natureza

Ana Paula Lisboa
postado em 05/02/2017 13:51

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Quem faz alguma trilha pelo cerrado e visita uma cachoeira nos arredores do Distrito Federal se depara com inúmeras belezas. Agora imagine poder guardar pedaços dessa conexão com a natureza com você? É esse o objetivo de Ana Raquel Banquart, 24 anos, ao produzir colares, anéis, brincos e pulseiras que, em singelos pedacinhos de vidro, preservam elementos naturais, como flores ; incluindo dente-de-leão e sempre-viva ;, folhas, água de cachoeira, cogumelos e conchas. Foi a partir dessa ideia que ela criou, em 2014, a marca de acessórios feitos a mão Capim Estrela. ;Eu sempre gostei muito de fazer trilha e colecionava coisas que recolhia. Eu queria um jeito de poder levar a natureza comigo e relembrar a importância que ela tem na vida de todo mundo. Como curto fazer trabalhos manuais, tive esse ;click; e resolvi produzir colares, no início, para mim mesma;, lembra.


Com colares de flores, água de cachoeira, cogumelos e outros elementos, jovem artesã criou um jeito para que as pessoas carreguem consigo a beleza da natureza

Ana Raquel era aluna de engenharia florestal na Universidade de Brasília (UnB), mas o sucesso das bijuterias exóticas foi tanto que, no início de 2016, ela trancou a graduação, prestes a se formar, para se dedicar integralmente ao negócio. ;Contando com o intercâmbio na Espanha ; onde vi colares com plantas e tive a ideia de fazer as peças ;, fiz cinco anos de curso. Eu penso em terminar o curso algum dia, mas agora não dá;, conta. Ela teve de enfrentar os pais pela decisão. ;Tive que ir contra todo mundo para trancar a faculdade e seguir o meu sonho. Muita gente dizia que eu era louca, mas vejo que foi a decisão certa. Meus pais ainda querem que eu termine o curso, mas a cabeça deles mudou bastante, eles apoiam o que eu faço;, revela.

A intenção original não era fazer do artesanato uma fonte de renda, mas Ana Raquel acabou se tornando vitrine viva do próprio trabalho, e a procura veio naturalmente. ;Todo mundo que via pedia para eu fazer. Cresceu muito além do que eu esperava, fico muito feliz. É difícil, porque eu sou Capim Estrela 24 horas por dia, mas, ao mesmo tempo, é muito bom;, revela. Hoje, ela vende cerca de 160 peças por mês. Em épocas mais movimentadas, os pedidos podem chegar a até 600 em 30 dias, como ocorreu na temporada do Natal. ;Em dezembro, tive que correr muito para dar conta de tudo. No restante do tempo, consigo manter um estoque.; Cerca de 10% das vendas são feitas pelo site www.capimestrela.com.br e a maioria em lojas de economia colaborativa: Endossa (306 Sul e 310 Norte), Cria Brasília (Liberty Mall) e Nós (Iguatemi Brasília e 315 Norte).

Com colares de flores, água de cachoeira, cogumelos e outros elementos, jovem artesã criou um jeito para que as pessoas carreguem consigo a beleza da natureza

Ana Raquel ainda representa a marca em eventos como Picnik e Liga Pontos. A margem de lucro é de 40% para vendas no varejo e de 30% quando o item é comercializado no atacado para lojistas. Hoje, fazer trilhas continua a ser um hobby, mas é também uma questão de trabalho, pois é nessas ocasiões que a jovem recolhe materiais que serão usados para produzir cada pingente. Por causa da demanda, hoje em dia, ela compra sempre-vivas. Além disso, garimpa os belíssimos vidrinhos usados para armazenar os elementos naturais em diversos locais, pela internet e procurando fornecedores. ;Acho que meu negócio deu certo porque fiz algo diferente e me dedico bastante. Sou muito perfeccionista e tento fazer cada peça ser perfeita. Além disso, Brasília valoriza bastante a produção local;, enumera.
Rotina

Formalizada como microempreendedora individual, Ana Raquel investe, em média, seis horas por dia no Capim Estrela ; quantidade que pode aumentar em caso de necessidade. ;Dá mais trabalho do que parece porque eu faço tudo sozinha. Minhas tarefas não são apenas fazer colares, mas achar fornecedores, comprar materiais, abastecer as lojas; A única ajuda que tenho é do meu irmão, que cuida das redes sociais e leva encomendas aos Correios;, conta ela, que trabalha em casa, no Lago Norte. É lá que ela está preparando um ateliê que, no futuro, será aberto ao público. ;Ainda produzo as coisas no meu quarto e estou montando um espaço numa sala de TV que quase não usávamos. Vai ser bom ter um espaço para receber o público, porque tem gente que ainda prefere ver pessoalmente o que está comprando.;


Com colares de flores, água de cachoeira, cogumelos e outros elementos, jovem artesã criou um jeito para que as pessoas carreguem consigo a beleza da natureza

As metas dela para 2017 envolvem alcançar mais estados do Brasil e cidades satélites. Uma das dificuldades de Ana Raquel é a administração financeira, mas o que a ajudou foi o fato de ter feito uma matéria sobre empreendedorismo na UnB. A organização do tempo é registrada numa agenda, para não perder nenhum prazo de entrega. Por meio do empreendedorismo, ela conquistou independência. ;A parte boa é que eu continuo indo muito para cachoeira e viajando. Dá para tirar até dois meses de férias se eu me dedicar mais por um período e deixar tudo pronto. É uma das coisas que eu mais gosto no meu trabalho. Além disso, não tenho chefe e conto com flexibilidade para fazer meus horários;, finaliza.

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