Trabalho e Formacao

Ensino para a base da pirâmide

CEO e fundadora de start-up de EAD que capacita profissionais com baixa escolaridade começou a iniciativa a partir da própria necessidade de estudar após passar anos longe da escola. Ela faz atendimento individual ou a corporações

Ana Luiza Vinhote - Especial para o Correio Braziliense
postado em 05/03/2017 14:31

CEO e fundadora de start-up de EAD que capacita profissionais com baixa escolaridade começou a iniciativa a partir da própria necessidade de estudar após passar anos longe da escola. Ela faz atendimento individual ou a corporações

Gladys Mariotto, 54 anos, é CEO e fundadora da empresa de inteligência educacional Já Entendi, criada em 2011. Graduada em belas artes e especialista em história da arte pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap) e mestre em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), a empresária nasceu em São Paulo e lançou o site com o objetivo de capacitar pessoas de baixa escolaridade, formando profissionais para assumir ou executar melhor funções como as de vendedor, assistente administrativo e segurança. Há ainda aperfeiçoamentos para competências. Gladys foi produtora de livros didáticos e professora de faculdades e diz que o portal consegue que os usuários aprendam de forma mais rápida, mesmo que não tenham o hábito de estudar.


As aulas podem ser contratadas tanto por profissionais individualmente quanto por organizações que desejem capacitar empregados. Gladys resolveu lançar o site porque descobriu que tinha deficit de atenção e, ao desenvolver uma forma mais eficiente de assimilar conteúdos, percebeu que poderia ajudar outras pessoas. A plataforma atendeu mais de 1,5 milhão de pessoas, tem faturamento bruto anual de R$ 3 milhões e conta com 16 funcionários. Gladys tem 42 livros didáticos publicados ; entre eles, Já entendi (Editora: Planeta Brasil, 208 páginas, R$ 32,90) ; e dirigiu e produziu 30 filmes sobre educação e ficção.

Por que você teve a ideia de criar a start-up?
Engravidei no fim do ensino médio, aos 17 anos. Passei 18 anos sem estudar para cuidar dos meus três filhos. Quando tentei fazer uma faculdade, descobri que tinha deficit de atenção e precisei criar um método de estudo com imagens, vídeos, resumos. Quando meu filho estava com 8 anos, ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e retomei a mesma técnica de aprendizado, pois ele estava em recuperação, e eu estudava. Essa metodologia me ajudou a não deixar os estudos. A start-up é uma forma de garantir que outras pessoas também tenham a chance de aprender com mais facilidade.

Qual é esse método de estudo?
Nossa metodologia de ensino é focada em cinco ferramentas: programação neurolinguística; mapas mentais; resumos benfeitos; design de instrução para que o estudante saiba qual é o momento de tomar alguma atitude; e storytelling, que é a capacidade de contar histórias de maneira relevante, em que recursos audiovisuais são utilizados. Nessa última parte, posso dar o exemplo de uma recepcionista. Se eu quero que ela seja melhor no que faz, conto uma história de quem foi muito bom nessa área. Assim as pessoas se sentem representadas e motivadas a conquistar aquilo que elas assistiram.

Qual é o público-alvo da Já entendi?
Os cursos são para todos os tipos de pessoas, mas o foco está em indivíduos com baixa escolaridade, como analfabetos, com dificuldade de compreensão, que cursaram só o ensino fundamental ou médio.

Quais tipos de capacitações são oferecidas?
É possível fazer cursos em diversas áreas e também personalizar aulas para cada firma. Por exemplo, se o ensino é voltado a um eletricista que conserta postes, vamos usar mais imagens.

Quantas pessoas foram treinadas pela Já entendi?
Mais de um milhão e meio. Os cursos com maior procura são os de segurança, saúde e vendas.

Qual a importância de iniciativas voltadas para a educação de jovens e adultos como a Já Entendi?
As organizações estão buscando cada vez mais pessoas capacitadas. Recebemos muitos elogios tanto de quem faz o curso quanto das empresas. Os funcionários que participam querem estudar cada vez mais e gostam bastante. Nosso foco é a base da pirâmide, e nenhuma outra plataforma do Brasil faz isso. Outros sites oferecem ensinos gerais e cada função tem uma linguagem específica. Às vezes, o mesmo curso ofertado para o diretor de uma empresa é dado para um cargo totalmente diferente. Com essa iniciativa as pessoas podem conseguir bons empregos e crescer dentro do ambiente de trabalho.

A start-up recebeu algum tipo de apoio?
Fomos incubados pelo Senai-PR (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de janeiro a dezembro de 2013 e acelerados pela 500 start-ups dos Estados Unidos, de janeiro a maio de 2014. Também recebemos cursos gratuitos e mentorias do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e da organização de apoio ao empreendedorismo Endeavor.

Você se sente realizada com o crescimento da empresa?
Muito. Percebi o quanto temos ajudado pessoas com baixa escolaridade. Não imaginava que trabalharia com isso. Minha mãe era agricultora e meu pai contador, mas eu não me interessava por essas áreas. Não tinham boas faculdades nem carreiras promissoras onde eu morava, em Cascavel (PR), e eu não sabia o que fazer. Depois, tive vontade de trabalhar com algo criativo. Cursei belas artes aos 36 anos. Consegui verba, por meio da Fundação Cultural de Curitiba, para desenvolver um filme sobre filosofia, que abarcava um dos meus métodos. Fui para o Japan Prize e para o Festival Latino-americano del Cine Nuevo, em Cuba, em 2010, apresentar minha metodologia e, assim, percebi que ela poderia virar um negócio.

Quais são as dicas que você pode deixar para jovens que desejam empreender e assumir posições de liderança, como a de CEO?
O primeiro passo é se capacitar, fazendo cursos na área na qual deseja atuar. Assim você vai entender e conhecer o mercado que pretende trabalhar. Muitas pessoas empreendem só porque tem dinheiro, e isso é um erro. Se você não compreende um assunto, não adianta tentar só porque tem recursos financeiros.

Setor em alta

Segundo a 11; edição do estudo Panorama do Treinamento no Brasil, da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD) e da Integração Escola de Negócios, empresas aumentaram os investimentos na qualificação das equipes de trabalho. De acordo com a pesquisa, que entrevistou 502 firmas, a carga horária média de cada treinamento subiu de 16,6 horas para 22 horas, em 2016. No Brasil, a modalidade presencial é a mais utilizada, para 63% dos entrevistados, seguida de atividades práticas no trabalho (17%), do e-learning (15%) e do ;blended; (5%), junção de EAD e atividades em sala.

Acesse!
O site é jaentendi.com.br
Valores dos cursos: de R$ 49,90 a R$ 199
Carga horária: de 12 horas a 180 horas

* Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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