Trabalho e Formacao

Lição dos melhores do mundo

O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) está treinando 37 estudantes de educação profissional e instrutores da Rússia para participar de competição internacional

Lis Cappi*
postado em 02/04/2017 17:03

Os russos Vitaly Govor (D) e Konstantin Larin (E) com a designer brasileira Carla de Bona, medalha de prata na WorldSkills 2007, no Japão

Formar bons profissionais para o mercado de trabalho. Essa tem sido a missão do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) quando o assunto é educação técnica. Tanto que os consultores do centro receberam o desafio de treinar a delegação russa que se prepara para participar da 44; edição do WorldSkills, a maior competição internacional de profissões técnicas. Desta vez, o evento ocorre em outubro na cidade de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.


A Rússia escolheu o Senai para melhorar posições no ranking da competição. Em 2015, quando o WorldSkills ocorreu em São Paulo, a equipe do Brasil conquistou, entre os outros 59 países participantes, o título de campeã do mundial. Os russos, que não conseguiram medalha, esperam agora melhorar os resultados para a competição deste ano e alcançar o primeiro lugar em 2019, ano previsto para que a competição ocorra em Cazã, na Rússia.


Esse treinamento tem sido feito para 34 estudantes e profissionais russos em seis centros de referência da instituição do Brasil: Bauru (SP), Joinville (SC), Caxias (RS), Guaporé (RS), São Paulo e Brasília. A rotina deles começa cedo, com uma hora de exercícios físicos. Em Brasília, ocorre a preparação de quatro integrantes da ocupação web design. O treino físico é feito próximo ao hotel onde o grupo está hospedado, no Núcleo Bandeirante. Às 9h, no Centro de Treinamento do Senai, no Setor Gráfico, começa a parte técnica, onde os estudantes passam o dia em meio a capacitações e treinamentos para melhorar as habilidades. A alocação por cada cidade combina com o aperfeiçoamento das sete áreas em que os russos buscam preparação: mecatrônica, design gráfico, tecnologia da moda, web design, eletrônica, joalheria e manufatura integrada. Eles recebem o mesmo tipo de preparação feita para os estudantes brasileiros.


Vitaly Govor, 22 anos, de São Petersburgo, é um dos competidores e diz estar satisfeito com a preparação. ;Na primeira semana, o treinamento foi difícil, mas aos poucos fomos nos adaptando. É muito interessante saber como os campeões do mundo são treinados;. Ele disse que deseja chegar ao nível de Giovanni Kenji, brasileiro que foi medalha de ouro da área na última competição.


O outro competidor é Konstantin Larin, 21, da cidade de Chelyabinsk. Ele avalia a experiência como extremamente proveitosa: ;Um treinamento feito exclusivamente para nós e preparado pelos campeões, pelos melhores do mundo. Achei a estrutura muito confortável, tudo muito bem organizado;, disse.


Marcelo Strehl, supervisor do treinamento de web design, conta que o desempenho dos estudantes é positivo e que nas duas semanas foram capazes de atingir um bom nível de aproveitamento. Ele acredita que, com esse ritmo, a equipe que for representar a Rússia pode alcançar bom desempenho. ;Espero que, com a nossa ajuda, eles consigam chegar entre as cinco melhores delegações. Essa é a nossa meta;, diz.
Além do treinamento nos centros de referência do Senai, a preparação da delegação estrangeira foi iniciada no ano passado quando sete consultores do órgão foram à Rússia para fazer o diagnóstico da infraestrutura existente e das competências técnicas dos treinadores e dos competidores. Após o trabalho realizado aqui, os brasileiros vão realizar outras três semanas de preparação para os russos. Essa última etapa ocorre no outro país.

Competidores brasileiros
A última edição da WorldSkills foi realizada em 2015 na cidade de São Paulo. O torneio reuniu 1.190 competidores de 59 países divididos entre Américas, Europa, Ásia, África e Pacífico Sul. Na edição, o Brasil contou com 56 competidores, sendo que 27 deles foram premiados com medalhas, o que concedeu aos brasileiros o primeiro lugar e título de ;TOP One; no torneio.


Desta vez, 48 estudantes se preparam para concorrer a uma vaga na delegação brasileira. Os finalistas vão realizar duas provas, uma em março e outra em agosto, para saber se têm os índices técnicos internacionais, último critério para seleção.


Confira um pouco de algumas modalidades e de quem está nessa disputa:

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Wisley Pereira ; refrigeração e ar condicionado
Wisley Pereira, 20 anos, foi campeão nacional da modalidade ;Refrigeração e Ar condicionado; em 2016. Nascido no município de Serra Dourada, na Bahia, decidiu se mudar para o Distrito Federal quando acabou o ensino médio, para trabalhar em uma empresa da família. Ele mora em Santa Maria com o irmão há três anos. E quando chegou aqui, escolheu fazer o curso de refrigeração no Senai Taguatinga. Ele relata que foi necessário muito esforço e garra para passar nas etapas anteriores. ;Foram dois anos, de segunda a sábado. Acordava às 5h30, pegava ônibus, chegava a Taguatinga às 7h30 e começava a treinar. Parava para almoçar. Às 18h, voltava pra casa. Às vezes, enfrentava tudo isso aos domingo também;, lembra.
Mas reconhece que toda essa dedicação valeu a pena. Com bons resultados nos simulados, espera manter o desempenho na prova do Índice. ;Estou trabalhando no dia a dia pra chegar lá pronto, para conseguir a medalha de ouro para o Brasil;, garante.


Caso seja selecionado, essa será a primeira experiência internacional de Wisley. Quando terminar o processo, ele espera estudar engenharia. Ainda vai decidir se elétrica ou mecânica.

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Rafael de Borba ; Manutenção de aeronaves
Rafael de Borba, 19, é da cidade de Tijucas, SC. Concorre para a área de manutenção de aeronaves. O interesse pelo assunto veio quando ainda estava no ensino médio e decidiu que gostaria de ser piloto. Ao descobrir o curso técnico em uma cidade vizinha, Palhoça, fez a inscrição e começou a estudar o assunto. A chegada dele na competição se deu de uma maneira diferente: a primeira etapa, escolar, já havia ocorrido, mas um dos selecionados desistiu de continuar na disputa. Ele foi convidado para assumir o lugar e aceitou de imediato. Ao chegar na etapa estadual, ganhou a medalha de prata por ter empatado na última competição duas vezes, mas garantiu a medalha de ouro na final. No último ano, morou sozinho para ter mais tempo para os estudos. ;Eu que lavava minha roupa, fazia comida, limpava o apartamento. E aí tinha que sobrar tempo pra treinar, estudar, e fazer à noite o curso técnico de manutenção de aeronaves;, disse. Mas também garante que está satisfeito com a dedicação. ;Acho que eu não saberia onde eu estaria se não fosse pela olimpíada. As oportunidades para quem está aqui hoje são inimagináveis;.

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Carla de Bona ; Vice- campeã na modalidade Web Design em 2007
A designer Carla de Bona, 31, é uma das treinadoras da equipe russa. Ela participou da 39; edição da WorldSkills em Shizouka, Japão. E foi premiada com medalha de prata da categoria Web design, tornando-se a primeira mulher a ganhar uma medalha para o Brasil. Ela reconhece que ter participado da competição foi fundamental para conquistar boas oportunidades no mercado de trabalho. ;Se fui convida para treinar os competidores da Rússia, se eu viajei pra lá pra fazer um diagnóstico do processo, é porque eu fui competidora lá atrás;.

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Jaqueline Cerqueira ; Técnico em redes de computadores
Jaqueline Abreu, 19, fez curso técnico em redes de computadores em Itapecerica da Serra (SP). Para se dedicar à competição, ela decidiu largar a faculdade e diz que não pensou duas vezes antes de tomar a decisão. Jaqueline é uma das quatro brasileiras que disputam uma vaga ao WorldSkills. Ela espera que mais meninas se interessem pela área, que é predominantemente masculina. A última competição, em 2015, foi a primeira em que houve uma mulher disputando dentro da modalidade.Jaqueline ainda vai passar por uma fase de desempate com outro competidor. Caso seja aprovada, realiza o exame de Índice para avaliar se está apta ao mundial. Ela planeja, no futuro, abrir uma empresa especializada em telecomunicações.

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Theodoro Cardoso e Guilherme Rabuske ; Robótica
Diferente das outras áreas, a competição em robótica móvel ocorre em dupla. Nessa categoria, Theodoro Cardoso, 20, e Guilherme Rabuske, 19, que trabalham juntos desde o início do curso de aprendizagem industrial eletroeletrônica do Senai de Santa Cruz do Sul, dividem as atividades. Um é responsável pela programação do sistema, enquanto o outro cuida da parte de montagem. Os dois enfrentam uma das provas mais difíceis por conta da imprevisibilidade. O desafio é fazer um robô que seja capaz de identificar bolas de sinuca em um campo. No WorldSkills, 12 bolas serão jogadas de maneira aleatória, e o projétil deverá ser capaz de encontrar cinco específicas. Os objetos poderão cair em um campo de areia, o que exige uma adaptação em diferentes ambientes.


Theodoro, que trancou o curso de engenharia elétrica na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) para poder se dedicar ao treinamento, relata a experiência em Brasília: ;Aqui, os trabalhos estão intensos. É uma imersão total no mundo da robótica. Não dá tempo de ligar tevê, navegar na internet, no facebook;Não dá tempo de fazer nada.;, disse.

*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá

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