Jornal Correio Braziliense

Trabalho e Formacao

O papel sobrevive!

O currículo passou por várias mudanças mediante as inúmeras inovações tecnológicas surgidas nos últimos anos. Especialistas são unânimes em afirmar que migrar para o mundo virtual é a melhor atitude para aumentar as chances de conseguir um emprego, mas admitem que o documento impresso sempre será usado em determinadas áreas

Quem está em busca do primeiro emprego ou de uma nova oportunidade no mercado de trabalho precisa ter um currículo. O modo de elaborar e entregar o documento, que sintetiza experiências e aptidões do candidato, tem sido transformado pela tecnologia e se tornado cada vez mais digital. Distribuir o portfólio de porta em porta está em desuso: gradativamente, ficam raros casos de pessoas que entregam currículos pessoalmente e de empresas que aceitam o método. No entanto, esse é, sim, um instrumento válido. Especialistas em recrutamento defendem ainda que a versão em papel sempre será necessária por causa de determinadas posições e setores do mercado.


;Por exemplo, para vagas na área de informática, não se usa mais: bancos e sites são as formas preferidas para recrutar. Mas trabalhadores de cargos operacionais, como padeiros ou costureiros, não têm hábito de utilizar a internet com essa finalidade. Por isso, nesses meios, ainda se recebe o documento impresso;, afirma William Lima, psicólogo e recrutador do Instituto Euvaldo Lodi no Distrito Federal (IEL-DF). É no que também acredita Fabiana Schneider, consultora de carreira e headhunter ; termo em inglês que designa o profissional que caça os melhores profissionais em áreas exclusivas. Segundo ela, cada segmento tem um nível de envolvimento com a internet, o que determina o formato do currículo.


;Em indústrias, é comum o profissional bater na porta da empresa. Isso ocorre porque, mesmo que haja milhões de pessoas acessando osmartphone, alguns ramos são mais lentos na evolução;, observa. ;As redes sociais de negócios, como o LinkedIn, são mais usadas quando as oportunidades oferecidas são para postos que demandam mais responsabilidade. A plataforma dá ao recrutador um respaldo de relacionamentos (networking), informações acadêmicas e profissionais;, elenca. ;Os processos on-line não vieram substituir os currículos em papel, mas somar e obter resultados melhores;, garante Larissa Meiglin, supervisora de Assessoria ao Candidato do site de empregos Catho. ;O recrutamento virtual é para todos os cargos e pode ser feito em canais diferentes, via cadastro em redes sociais ou envio por e-mail.;

Sem errar
Mesmo que ainda seja um modo mais tradicional de se candidatar, é preciso ter cuidado na escolha do formato, do texto e de outros elementos inseridos no currículo em papel. ;A foto deve ser escolhida com cautela e só usada quando solicitada. Prefira retratos atuais e que te representem bem. Não use imagens de redes sociais, na presença de outras pessoas, com copo na mão (já aconteceu). Tem que ter vestimenta e postura profissional;, declara William Lima, pós-graduado em psicopedagogia institucional e clínica. É preciso estar atento ainda a erros de português e a informações inverídicas.


;Não diga que você foi gerente se só substituiu sua chefe durante a licença-maternidade dela. Também não coloque que tem nível de inglês fluente se não for verdade;, adverte a administradora com MBA executivo em marketing Fabiana Schneider. ;Em relação a endereço: bairro e cidade bastam;, observa. Número de documentos, pretensão salarial, assinatura e até mesmo o termo ;curriculum vitae; no topo do documento são informações desnecessárias, segundo a consultora.

Eu uso!
As segundas-feiras são reservadas por Reijane dos Santos, 27 anos, desempregada há dois meses, para a entrega de currículos em prédios do Setor Comercial Sul. Vestida formalmente, a estudante de direito sai de casa com um calhamaço de currículos para tentar conseguir uma posição nas áreas comercial ou jurídica. ;Era mais fácil antigamente: ir pessoalmente era um diferencial. Foi assim que consegui meu primeiro emprego, como secretária executiva: o chefe viu minha atitude como proatividade. Agora, muitas vezes, não consigo acesso ao gerente e deixo na recepção;, diz ela, que trabalhou ainda como recepcionista, assistente comercial e consultora de vendas.


Para não perder chances, Reijane também aposta no ambiente virtual. Blogs e sites de emprego são diariamente visitados por ela. Além disso, a brasiliense pesquisa o endereço eletrônico das empresas da área desejada e envia o currículo. ;Uma vez, um diretor me perguntou como consegui o e-mail dele, eu contei e o impressionei. Isso mostra que eu tenho vontade de alcançar meu objetivo;, afirma. Quanto ao futuro, Reijane acredita que a internet deve dominar o campo da seleção. ;Fui entrevistada via Skype uma vez. Fiquei surpreendida. A recrutadora estava em Minas Gerais falando comigo. É tudo muito rápido e fácil com a internet, por isso acho que a internet será o meio principal de encontrar um emprego daqui para a frente;, diz.

Versões digitais em alta
A psicóloga Larissa Meiglin, da Catho, acredita que ter um currículo on-line aumenta as chances de encontrar a vaga de emprego ideal para o perfil do candidato. ;O preenchimento virtual de informações tem ajudado recrutadores nesse sentido, pois as pessoas podem disponibilizar dados que permitem recrutar de acordo com a necessidade da oportunidade. Tudo isso a distância de um clique. Isso é uma evolução;, pontua. ;Com a tecnologia, as empresas conseguem separar rapidamente os candidatos de acordo com as competências, mediante palavras-chave, evitando perder tempo com quem não tem o perfil necessário;, exemplifica William Lima.


O alcance também é uma vantagem do cadastro em sites de emprego. ;Na internet, há uma escala muito grande de gente que pode olhar seu currículo e achar você quando há vagas disponíveis. Vários recrutadores do país e do mundo podem te ver;, diz Fabiana Schneider. A atualização rápida de habilidades e formações também é outro ponto positivo de estar cadastrado em uma plataforma on-line. Saber destacar competências e objetivos nos currículos, tanto on-line quanto em papel, é habilidade essencial para quem está à procura de emprego. ;É preciso ser assertivo. Fale o que é, ressalte no que é bom. O seu resumo deve deixar claro a sua maior habilidade, se você é fera em escrever artigos ou em contábeis. Importa mais especificar suas qualidades do que disparar currículos;, aconselha Fabiana Schneider.


William Lima, recrutador do IEL, sugere que características comportamentais (como proatividade, eficiência e organização) fiquem fora do currículo. ;Esses pontos devem ser deixados para a análise do recrutador. Se forem verdadeiros, isso será constatado nas entrevistas;, diz. Uma tendência, que começa a ser pedida em processos seletivos, é apresentar um currículo em forma de vídeo. ;Esse tipo de seleção é comum em outros países e, agora, aqui também. Em cargos de tecnologia, ainda mais. Para dar certo, é importante se preparar antes e depois: primeiramente, em questão de roupas e script e, posteriormente, na edição. Grave em um fundo neutro;, guia Fabiana.


Na internet

João Falleiros, 29 anos, tem uma relação de sucesso com a rede profissional LinkedIn. O especialista em gestão de negócios pelo Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) conheceu a plataforma por meio de amigos e se cadastrou na rede enquanto ainda era aluno de administração da Universidade de Brasília (UnB).


Depois de se formar, João tinha em mente que atualizar o perfil constantemente o deixaria mais atraente. A estratégia deu certo. ;Enquanto estava em um programa de trainee, um headhunter me encontrou no LinkedIn e me chamou para fazer o processo seletivo do meu atual emprego, como executivo de contas de uma multinacional de TI. Ainda hoje, recebo sondagens de recrutadores;, conta. No início da carreira, João chegou a enviar currículos por e-mail, mas não teve muitas respostas.


;Com o documento físico ou em PDF, o número de pessoas que se pode alcançar é limitado. Na rede social, você atinge um público maior: lá eu estou disponível para milhões de pessoas, o mundo é mais conectado;, afirma. A satisfação com a rede profissional é tamanha que João incentivou colegas de trabalho a ingressarem no LinkedIn e é procurado por pessoas que querem dicas de como montar um bom perfil.

*Estagiária sob supervisão de Ana Paula Lisboa